044 - Resultados.

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- Eu não quero ir não - resmunguei me espreguiçando no sofá.

- Então fica aí, a gente vai pegar os exames rapidinho e já vem - minha irmã fala.

- Nem vai precisar de você lá, Helo, devem só ter confirmado que você estava bem - meu cunhado disse.

- Deve ser isso mesmo - falo e dei uma tosse em seguida, essa tosse havia aparecido a uns dois dias e já estava chata.

- A gente já vai, se não vamos nos atrasar, tchau, Helo, juízo - Kauane diz e ela e Jota saem.

Eu continuei deitada no sofá, estava morrendo de preguiça e sem vontade de fazer nada.

Liguei a TV e coloquei Carrossel para mim assistir. Me levantei do sofá e fui até a cozinha, peguei um Doritos e um copo de Guaraná, voltei para o sofá e me sentei lá para comer e assistir a novela.

Carrossel é uma das minhas novelas favoritas do SBT, só perde para Chiquititas que é a minha favorita de todos os tempos.

Enquanto assistia a novela e comia o meu salgadinho, senti algo escorrendo do meu nariz, de primeira, pensei que era apenas mais um dos sintomas dessa tosse chata mas quando fui limpar, era sangue.

Eu não sei o porque meu nariz sangrou, mais sangrou e não foi pouco não, sujou toda a manga da minha camiseta branca de manga comprida.

Tive que me levantar do sofá e ir para o banheiro limpar meu nariz direito e depois de já ter limpado, troquei de blusa colocando uma camiseta de manga comprida cinza que ficava larga em mim.

Voltei para a sala e resolvi continuar olhando a novela, ignorei o fato do sangramento no meu nariz, deve ter sido sei lá, um início de uma gripe forte.

Terminei de comer e joguei o saco do Salgadinho no lixo, coloquei mais um pouco de refrigerante no meu copo e fui para sala novamente.

[...]

Câncer.

Eu estava com câncer.

Eu estava a exato dez minutos em choque olhando para o nada enquanto a minha irmã chorava e meu cunhado abraçava ela, eu não sabia como reagir, todos esses sinais... É um maldito câncer.

Era um câncer de pulmão que foi desenvolvido pela fumaça que eu inalei no dia do incêndio.

Jotapê foi para a cozinha e pegou dois copos de água, um para mim e um para a Kauane. Eu comecei a tomar aquela água em uma rápida velocidade, estava tão nervosa.

Eu de verdade não conseguia acreditar que estava com câncer, isso é uma das coisas que você vê acontecendo nos filmes e novelas, mas nunca imagina que possa acontecer com você.

Assisti tantos filmes dramáticos sobre câncer e aqui estou eu com um dos mais letais e que causa mais mortes.

- Você vai começar o tratamento, ta no começo, vai dar tudo certo - Kauane veio e se sentou ao meu lado.

- É, vai dar tudo certo - olhei nos olhos dela e dei um sorriso, fingindo acreditar naquilo.

Não que eu gostasse de ser alguém negativa, mas eu estou com um dos câncers que mais mata pessoas todos os anos. Eu queria ser positiva com isso e acreditar que ficaria bem e superaria isso, mas eu realmente não acredito em nada disso.

Normalmente, os casos que são tratados no começo, tem mais chances, mas sinceramente? Parece que eu sinto no meu coração que não vou sobreviver.

- Eu liguei pra todo mundo, eles estão vindo - Jotapê fala se sentando ao meu lado, ele também estava muito preocupado, por mais que tentasse se manter bem pela Kauane.

- Gente, eu vou subir e tomar um banho - falo e me levanto subindo as escadas.

Choque.

Era tudo que eu conseguia sentir, nada além disso, eu estava totalmente desacreditada que uma coisa dessas estava acontecendo justo comigo, porra, eu sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas com tantos estupradores, assassinos, abusadores, pedófilos, racistas, homofóbicos, gordofóbicos que existem, o destino manda um câncer de pulmão logo para uma garota de quatorze anos que nem começou a vida adulta ainda?

Peguei uma calça de moletom preta e uma camiseta preta de manga comprida da Nike, fui para o banheiro e me enfiei de baixo do chuveiro, lavando o meu cabelo mesmo que não precisasse, agora eu só queria um tempo para pensar.

Eu lavava meu cabelo enquanto pensava nas possibilidades de eu sobreviver e realmente eram muitas, bom, talvez essa não seja a minha vez de morrer, apenas um teste de sobrevivência como todos os outros que passei por todos esses anos.

Depois do banho, vesti a minha roupa e fui finalizar o cabelo, fiz a finalização mais demorada que consegui enquanto via muito cabelo meu caindo, meus cachinhos.

Acho que oque mais me pegou foi quando um cacho meu saiu inteiro na minha mão, meus olhos se encheram de lágrimas, o processo seria dolorido e eu já percebo isso no começo.

Tanto apego no meu cabelo para no final acabar assim, eu até dei uma pequena risada quando me imaginei ficando careca, eu iria ficar ridícula.

Acabei a finalização e me olhei por mais alguns minutos no espelho, meus lindos cachos e pele saudável, tão linda.

Sai do banheiro e já escutei as conversas no andar de baixo, meus amigos haviam chegado.

Eles estavam se abraçando quando eu entrei na sala, quando me viram, alguns até encheram os olhos de lágrimas, eu odiava ver meus amigos chorando, ainda mais se era por minha causa.

- Que cara é essa gente? Eu não morri ainda não - tentei descontrair mas não consegui.

- Vira a boca pra lá, Neguinha, tu não vai morrer não - Magrão é o primeiro a dizer.

- Tu vai ficar bem viva, Heloísa - Xamuel disse.

- Eu ainda vou durar muitos anos para infernizar a vida de vocês - digo me sentando no sofá ao lado do Barreto e abraçando o mesmo que estava chorando sem parar abraçado no Guri.

Ele parou de abraçar o Guri e me abraçou fortemente, eu acariciei as costas dele, me partia o coração ver o Kauan assim, ainda mais por culpa minha.



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Chocados? Eu também.

Salvação 2 - Nicolas mc. Onde histórias criam vida. Descubra agora