Salvação 2 - Nicolas mc.

054 - luto.

Kauane pov

Eu nunca pensei que algum dia passaria por uma dor tão grande, a dor de perder o meu bem mais precioso, minha irmã.

Desde pequeno eu e a Heloísa sempre fomos muito grudadas, não fazíamos nada sem a outra, eu nunca me imaginei perdendo ela, sempre pensei que eu iria primeiro.

Assim que recebemos a ligação do hospital, informando o falecimento dela, parece que meu mundo caiu, eu não queria acreditar, por mais que já tivesse sido informada que ela não tinha chances, eu ainda tentava acreditar que um milagre aconteceria, eu pensava que Deus escutaria a minha oração e de todos que comigo oraram pela vida da Heloísa, mas parece que minhas orações não adiantaram muito.

Agora eu estava indo até o hospital, eu tinha que comparecer lá para fazer a retirada do corpo e assinar os papéis no cartório.

Assim que chegamos no hospital, já tinha uma equipe funerária lá, eu conversei com todo mundo sobre oque precisava.

E então chegou a hora que eu não queria, ir até o quarto para tirar os pertences da minha irmã, e como não tinham tirado o corpo dela ainda, eu veria ela lá, sem vida.

Jotapê estava me abraçando o tempo todo, ele falava coisas como:ela está em um lugar melhor. O tempo todo, tentando me reconfortar de certa forma, ele também estava muito abalado mas tentava ser forte para me apoiar.

Entrando no quarto, eu não fui recebida com um sorriso como sempre era, mas agora eu era preenchida de mais tristeza, olhando na maca, ela estava lá, parecia que apenas estava dormindo em um sono tranquilo, porém, tinha o rosto pálido sem vida alguma.

Ela estava abraçado no Nilo, que era o urso que ela tanto gostava, sempre que vinhamos ver ela, ela fazia questão de mostrar o urso e falar: olha o meu filho como é bonito.

Fui com cuidado para o lado maca, me agachei ali e fiquei olhando para minha irmã, sabendo que era uma das últimas vezes que eu veria ela, tão nova... Ela não merecia isso, ela merecia crescer, viver e ser feliz.

Peguei o urso com cuidado, não queria mexer muito nela, depois de pegar o urso, peguei o celular de baixo do travesseiro, peguei os cadernos e outros pertences dela.

Depois disso, pedi pro meu namorado levar tudo para o carro, enquanto eu ficava ali, terminando de me despedir dela, sei que ela teria um velório e um enterro, mas queria passar um pequeno tempo sozinha com ela, oque a gente infelizmente não teve muito nos últimos meses já que sempre eram visitas coletivas e eu não queria tirar o direito de ninguém de ver ela, a Heloísa era importante para muita gente, poucas pessoas não gostavam dela, a maioria tinha muito amor por ela, ela era uma menina extraordinária e de personalidade única, era só ela chegar em um lugar que o clima parecia melhorar, tinha uma marra que só ela, mas isso que fazia ela ser tão única e tão amável.

[...]

Foi feita a retirada do corpo e levaram ela para a funerária, agora outras coisas seriam resolvidas e eu estava sem cabeça para isso, meu namorado quem foi resolver tudo, se eu fizesse mais alguma coisa relacionada a morte da minha irmã, eu surtaria.

Agora eu estava em casa, estava tomando uma água com açúcar enquanto a Lili passava as mãos pelas minhas costas, tentando me acalmar, eu tive vários ataques hoje, não conseguia parar de chorar por nenhum minuto.

Lya estava chorando desde que soube da notícia, ela estava abraçada na Levinsk, a Maria estava abraçada com o Nicolas, tentando consolar ele de algum jeito.

Os meninos estavam na sala, e eu e as meninas ficamos na cozinha, queríamos dar um espaço para eles assim como queríamos nosso espaço, o único que ficou com a gente foi o Nicolas, que estava inconsolável e a única que conseguiu acalmar ele um pouco, foi a Maria.

Ninguém falava nada, apenas escutavamos choro e as vezes quando ficava perto do Barreto e do Guri, dava para escutar um pouco da oração que eles faziam juntos pela alma da minha irmã, eu me juntei com eles algumas vezes, mas quando começava a chorar, saia de perto para não atrapalhar eles.

Eu me levantei da cadeira e fui para a sala, me ajoelhei ao lado dos meninos e comecei a acompanhar eles na oração, estávamos pedindo para a paz do Espírito da minha irmã.

Quando a oração acabou, eu e Guri ajudamos o Barreto a levantar, desde a hora que ele recebeu a notícia que ele não tinha nenhuma reação, eu fui até a cozinha e peguei um copo de água para ele, Guri ficou lá fazendo companhia para ele.

Voltei com o copo de água e me sentei ao seu lado.

- Ó, toma água - dei o copo na mão dele.

Ele bebeu alguns goles e logo seu olho encheu de lágrimas, pareceu que sua ficha finalmente estava caindo.

- Nossa menina descansou né, Kah? - ele questiona ainda segurando as lágrimas.

- Ela descansou, Barro - afirmo e sinto as lágrimas nascendo em meus olhos de novo.

Eu e Barreto nos abraçamos e começamos a chorar, Guri acariciava as costas do Barreto, como um apoio emocional.

Fiquei algum tempo abraçada com o Kauan, até que me levantei para ir atender o portão já que mais gente havia chegado.

Abri o portão e era Nle, Brennuz e a Nathi, o Doprê estava usando um óculos, provavelmente para esconder seus olhos inchados pelo choro.

- Meus pêsames, Kakau - Nathi foi a primeira a vir até mim e me abraçar.

- Meus sentimentos - Brennuz veio logo em seguida e me abraçou.

Enquanto o casal entrava para dentro de casa, Doprê veio até mim.

- Sinto muito, Kakau - ele colocou a mão no meu ombro.

Ele entrou atrás do casal e eu fui fechar o portão, depois disso eu entrei dentro de casa também. Eu voltei para a cozinha, dessa vez com a Nathi junto.

Nicolas já havia parado de chorar, agora ele estava parado olhando para um canto qualquer.

- Kakau, fica com ela, eu vou ir no banheiro e já volto - Levinsk fala apontando para a Lya que estava abraçada nela chorando.

Eu entrei no lugar da Levinsk e abracei a Lya, ela continuava chorando e se perguntando porque justo a Heloísa.

Era exatamente oque eu me perguntava, porque justo a Heloísa? Ela só tinha 14 anos, não fazia mal para ninguém e não mexia com coisas erradas, era apenas uma adolescente que tinha sonhos e planos para o futuro.

Eu comecei chorar também, e agora éramos duas pessoas em luto desamparadas tentando consolar uma a outra.

- Ela ta em um lugar melhor - Lili veio até nós e nos abraços, acariciando nossos cabelos, ela também estava triste e com os olhos vermelhos te tanto chorar, mas ela era a que mais estava em condição de amparar alguém.

- Mas o lugar dela era aqui, com a gente - eu falava chorando.

- A hora dela já havia acabado, você sabe que na terra ela só ficaria sofrendo com toda essa doença - Lili dizia.