049 - Cachos.

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Eu piorei.

A queda do meu cabelo já estava anormal, eu sabia que uma hora esse momento chegaria, mas não que estava tão próximo.

Três meses foram o suficiente para esse câncer fuder com tudo, eu já estava internada e tendo algumas visitas em casa no final de semana, resumindo, tudo estava péssimo.

Eu sinceramente não estava triste, ainda tinha a fé que sairia bem de tudo isso.

Era fim de semana e eu iria passar em casa, agora eu já estava no carro com o Jotapê, a Kauane, o Barreto e o Nicolas.

- Como foi a semana, Helo? - Barreto pergunta.

- Normal, remédio e... Remédio - respondo dando de ombros.

- Bom, mas agora a gente vai passar bem o final de semana, vai ter batalha da Norte hoje - Nicolas fala e me da um beijo na bochecha.

- Acho que essa foi uma das melhores notícias que recebi na semana - digo dando risada.

[...]

Já estava quase na hora da batalha, eu botei uma saia preta e um cropped preto de manga comprida, coloquei meu Vans e estava pronta.

Meu cabelo já estava com uma finalização que eu fiz pela tarde, eu nem queria mexer muito no meu cabelo, cada vez que eu mexia e ele caia, eu sentia um aperto no peito e uma enorme vontade de chorar.

Sei que pode parecer drama, mas pensa você ter que fazer uma mudança tão radical no seu cabelo como raspar, logo eu que nunca cortei mais doque as pontinhas do meu cabelo, logo eu que sempre tive o máximo de cuidado possível com meu cabelo.

Me sentei na cama e comecei a mexer no Instagram, estava esperando o Nicolas se arrumar para nós podermos sair, só faltava ele para ficar pronto, esse menino é pior que eu quando se trata de se arrumar.

Mas também nem sei para que se arrumar tanto, ta querendo se mostrar para quem? Eu já sou a namorada e to acostumada com ele de qualquer jeito, já fiquei puta já.

- Vamo vida? - Nicolas questiona parado na porta do meu quarto.

- Vamo - falo e levanto da cama.

Eu e Nicolas descemos as escadas juntos e Jotapê ergueu as mãos para o alto, agradecendo pelo Nicolas finalmente ter ficado pronto.

- Bora gente, porque depois dessa demora do Cinderelo, a gente vai chegar atrasado - meu cunhado diz.

- Eu nem demorei tanto - Nicolas se defende.

- Imagina se tivesse demorado - minha irmã disse.

- Vocês queriam que eu fosse fedendo? Eu recém tinha saído do futebol - Nicolas fala.

- Galera, vamo parar de perder tempo e ir pro carro, a gente já tá atrasado - Barreto chama a atenção deles.

- Verdade, vamo, Barro - enrosquei meu braço com o dele e nós fomos até o carro.

Entramos nos bancos de trás e o Jotapê e a Kauane nos bancos da frente. Minha irmã logo já ligou o som e botou MC Kevin para tocar, nosso lugar.

- HOJE O NOSSO DIA LINDO TA PERFEITO, JUNTOS VAMOS SEMPRE PRO MESMO LUGAR, LÁGRIMAS ROLADAS A CADA PASSADA RELACIONAMENTOS QUE FICARAM PARA TRÁS - Todos do carro cantavam juntos.

Chegamos na Batalha da Aldeia e eu rapidamente desci do carro, aproveitando para esticar minhas pernas um pouco.

Meus amigos também saíram do carro e nós fomos procurar os outros, que provavelmente estavam fora da roda bebendo e fumando.

Não demorou muito para nós acharmos eles, como eu disse, estavam bebendo e fumando.

Quando o Doprê viu que eu estava junto, ele apagou o baseado que estava fumando, talvez para mim não inalar tanto a fumaça já que eu estava bem mais próxima dele na pequena rodinha de amigos que nós formamos.

- Alguém vai querer espetinho? - Jotapê questiona, quase ninguém quis porque estavam bebendo e fazendo outras coisas.

- Eu quero - eu e Nicolas falamos ao mesmo tempo, nos encaramos e rimos, conexão é tudo.

- Óia, a pulga e o carrapato falam até juntos - Doprê diz fazendo todos darem risada.

- Carrapato é tua mãe - retruco.

- Eu não especifiquei quem é quem, se ofendeu porque quis - Doprê deu de ombros.

- Morre - digo começando a ignorar ele.

Jotapê foi comprar os espetinhos e eu fiquei abraçada no Nicolas esperando meu cunhado voltar.

Eu espero que ele também traga um Guaraná ou um suco de laranja, comer a seco também não da.

João Pedro voltou e deu um espetinho para mim, um para o Nicolas e um para a Kauane, ele também trouxe um litro de Guaraná e copos descartáveis para nós.

Comecei a comer escutando as conversas dos meus amigos, esses mongos realmente só falam porcaria quando querem.

[...]

Acordei sentindo meu corpo dolorido, só com isso já sabia que ontem tinha sido bom, andei, pulei e brinquei muito, foi um dos melhores dias.

Hoje era domingo e o Nicolas não tinha dormido comigo ontem, mas mesmo assim, eu dormi muito bem, o cansaço ajudou, eu só deitei na cama e capotei, nem vi mais nada que aconteceu.

Me sentei na cama e olhei para os lados, tentando raciocinar ainda que havia acordado.

Me espreguicei e me levantei, iria estender a cama e descer para tomar café, mas olhando para o meu travesseiro, vi um tufo do meu cabelo caído, era mais doque já tinha caído até agora.

Eu não tive reação nenhuma além de começar a chorar, era tudo que eu podia fazer, parece que minha ficha finalmente estava caindo que eu estava com uma doença grave, e não só uma gripizinha que curaria apenas com um Paracetamol.

Coloquei a mão nos meus cachos, sentindo eles e chorando mais ainda, tanto apego e tanto cuidado para acabar assim...

Eu sai do quarto com o meu pijama da Hello Kitty mesmo, desci as escadas e a Kauane estava na sala assistindo um filme sozinha, parecia que o Jotapê não estava em casa.

- Kakau, eu preciso da sua ajuda - falei tentando parar de chorar.

- Oque aconteceu? - ela questionou já preocupada por eu estar chorando.

- Eu quero cortar o cabelo de uma vez, não aguento mais ver meus cachos caindo aos poucos - falo e choro mais ainda.

- Ah, calma meu amor, cabelo cresce de novo - ela diz e se levanta para me abraçar.

Eu abracei minha irmã e comecei a chorar mais ainda.

- Vem, a gente vai tirar seus cachos do jeito certo - ela me ajudou a subir até o quarto dela e eu sentei em frente a penteadeira.

Kauane pegou uma tesoura que ela usava para tirar as pontas dos seus cachos e também pegou uma máquina de cortar cabelo.

Minha irmã começou a cortar meus cachos, primeiro ela cortou curto com a tesoura e separou o cabelo em cima da penteadeira, depois, ela realmente raspou a minha cabeça, eu nem estava vendo como estava ficando, apenas fiquei com o olho fechado enquanto ela fazia tudo isso, estava sem vontade de ver isso.

- Não se preocupa, cabelo cresce - ela diz quando acaba de cortar e faz carinho no meu ombro.

Então, eu finalmente tenho coragem de abrir os olhos, estranha... Foi assim que eu me senti quando me vi pela primeira vez daquele jeito, mas não me sentia feia ou algo do tipo, só era diferente.

Eu peguei meus cachos e guardei eles em uma caixa que tinha decorações de florzinhas rosas.

Salvação 2 - Nicolas mc. Onde histórias criam vida. Descubra agora