Quando você morre, tudo para, pelo menos tudo aquilo que te tornava uma pessoa viva. Eu descobri que depois da morte, você ainda tem coisas pendentes na Terra, ainda mais se seus entes não te deixavam partir em paz.
Vagar como um fantasma não era bom, mas eu não posso deixar de falar que só vagava porque queria ficar perto das pessoas que eu amava.
Eu iniciei um novo propósito depois que morri, era como se eu fosse um tipo de anjo da guarda ou pelo menos algo parecido com isso.
Vi pessoas chorando por mim, pessoas que eu nem imaginava que chorariam por mim, Doprê era uma delas, eu sabia que a implicância era uma demonstração de amor, mas nunca imaginei ele chorando pela minha morte.
Nesse exato momento, todos estavam reunidos na sala lendo as cartas, a pouco tempo eles haviam visto os vídeos que gravei, se eu tivesse tempo, teria gravado bem mais.
Eu andava entre eles, olhando para cada um e suas reações lendo as cartas, mas eles não me viam, não me sentiam, até porque, eu não era mais uma pessoa viva, agora eu era apenas lembrança para todos eles.
Barreto estava abraçado com a Kakau, lendo a sua carta, na verdade, as cartas, já que eu havia feito mais de uma para cada, além disso também tinham os vários desenhos.
Nicolas estava chorando enquanto Doprê abraçava ele, tentando consola-lo, mais ele estava inconsolável, eu podia sentir tudo que Nicolas sentia naquele momento, eu me sentia mal por estar causando dor a ele e meus outros amigos, nenhum deles merecia essa dor, ainda mais por minha causa.
Guri se levantou do sofá, indo até a cozinha, logo ele voltou trazendo um copo de água com açúcar para o Nicolas. Ele entregou o copo para o garoto que bebeu rapidamente, tentavam acalmar ele de todos os jeitos mas nada acontecia.
Minha vontade era de ressucitar e dar um abraço em todos, eu queria tanto estar com eles fisicamente e não só espiritualmente. Eu queria tanto ter vivido, tanto ter vencido.
Eu andei até onde estavam com Nicolas, todos tentando acalma-lo. Abracei o meu namorado, mesmo sabendo que ele não me sentiria de forma física, eu apenas queria dar um jeito de conforta-lo, tirar nem que fosse um pouquinho do sofrimento que ele sentia.
Oque eu fiz pareceu realmente acalma-lo, eu não sei como, talvez ele tenha sentido a minha presença ou sei lá.
Passando um tempo, meus amigos começaram a ir embora, todos no maior baixo astral, e com um motivo que era compreensível.
Os únicos que não foram embora, foram a Lili, Magrão e Nicolas que dormiriam ali hoje para apoiar Kauane, eles sabiam que o Jotapê já estava ficando sobre carregado de tanto que fingiu ser forte para cuidar da minha irmã.
Magrão e Lili dormiriam na sala, já o Nicolas subiu para o meu quarto, eu subi atrás dele, queria estar perto para ajuda-lo da maneira que eu pudesse.
Eu mal reconhecia o meu namorado, tão quieto e triste, nem parecia o garoto que sempre me animava e não parava de falar nem por um segundo.
Eu odiava causar dor para eles.
Eu odiava ter morrido.
Eu odiava não poder descansar.
Eu odiava ser a porra de um fantasma.
Nicolas se deitou na cama e ficou deitado de lado por um tempo, ele olhava para um ponto fixo, sem reação alguma, parecia que ele só estava existindo ali.
Depois de um tempo deitado sem se mexer ou esboçar alguma reação, Nicolas começou a se mexer sem parar, tentando dormir mas parecia que algo não deixava.
Resolvi usar a mesma técnica de antes, me deitei ao lado dele e o abracei, fazendo cafuné no seu cabelo. Olhando para ele, percebi que estava chorando, mas eu continuei tentando acalma-lo.
Fiquei alguns bons minutos fazendo o Nicolas dormir, e quando ele dormiu, eu me levantei da cama e fui andar pela casa, eu esperava que fosse a última vez.
Eu amava meus amigos, mas ficar presa a esse mundo só causará mais sofrimento a mim e a eles.
Eu prefiro que eles apenas me guardem no coração, e não me prendam na terra.
Desci as escadas, Kauane estava sentada na cozinha chorando enquanto Lili e Magrão consolavam ela.
Eu cheguei perto dela e a abracei por cima dos ombros, enrolando meus braços pelo seu pescoço em um abraço que eu sempre fazia com Ela quando ela estava sentada em algum lugar.
Aos poucos, ela foi se acalmando, mas demorou bem mais doque para acalmar o Nicolas.
- Eu sinto como se ela ainda estivesse com a gente, eu não sei explicar, eu sei que ela esta morta mas parece que ela anda entre nós - minha irmã disse.
Ah, se ela soubesse.
- Pode pá, eu sinto o mesmo bagulho - Magrão concordou.
Eles começaram um assunto, falando como eu era incrível e coisas assim, relembrando de quando eu ainda estava aqui, não vou mentir que gostei de ouvir, era bom saber que eles me amavam como eu amava eles.
Então, eu dei um abraço em cada um, agora, era oficialmente a última vez que eu os veria, a última vez que eu chegaria perto de estar viva, mesmo sendo um fantasma.
Eu queria o meu descanso.
Não podia mais me prender a eles aqui.
Não faz bem para mim e nem para eles.
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Salvação 2 - Nicolas mc.
Teen FictionHeloísa achou sua Salvação assim que encontrou Nicolas, mas você já escutou que a sua Salvação também pode ser a sua perdição? Um relacionamento é feito de aprendizados e lições, mudanças e companheirismo mas sera que dois adolescentes conseguem c...