Capítulo- 3 Último Adeus

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ANNY

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ANNY

ÚLTIMO ADEUS...

Assim que saí da delegacia, entendi perfeitamente a dificuldade de Moisés em atravessar o mar vermelho com seu povo. Os policiais posicionados ao meu lado são meus cajados abrindo caminho em meio a multidão tumultuada que nos cerca. Está em questão, parece as famosas ondas engolidoras de humanos descrita na Bíblia. Os repórteres berrando perguntas de formas insanas que não conseguia entender, nem mesmo sequer raciocinar direito, uma resposta decente, pois nem havia cogitado tais hipóteses sobre o que aconteceu. É uma travessia estupidamente curta, acredito que seja apenas de uns dez metros, a minha Range Rover está estacionada do outro lado da rua. Um pé cá, outro lá, diria Chris.

Porém, é épico o grau de dificuldade de cumprir o percurso. Quase perdi Ana pelo caminho, quando a seguraram por sua roupa e a engoliram em meio ao tumulto catastrófico. Volto meu corpo rapidamente em sua direção a resgatando antes que os repórteres a afoguem de perguntas.

Agradeci minha altura pela primeira vez na vida, já que senão fosse a girafa aqui, a pequena seria pisoteada e descartada em qualquer bueiro assim que descobrissem que como eu, ela não tinha menor ideia de como tudo aconteceu. Fico feliz pelas aulas que Chris me fez fazer de musculação ou não teria forças para puxá-la à minha frente e conduzi-la com segurança até o carro.

No meio de tanto empurra empurra, distribuo cotoveladas e até merecidos tabefes em microfones que eram colocados diante de mim de forma estúpida e constrangedora. É uma luta desigual. Nada mais justo que lutar com as armas que eu dispunha. Agradeço de novo pelos óculos escuros, pois os flashes das inúmeras fotos feitas sem minha permissão do meu luto, estavam me cegando, impedindo de me orientar na direção certa do carro.

Enfim, a travessia estava completa, metade da escolta policial havia sido engolida pela multidão, a que sobrou, tenta sem muito sucesso conter o tsunami de especuladores. Abri a porta do carro a muito custo, empurrei Ana com certa força desnecessária para dentro e mergulhei logo em seguida, batendo-a com força, quase trancando a mão de um abelhudo que tentava me impedir de fechá-la. 

Fim do alvoroço. Os gritos eram agora palavras desconexas sufocadas pelos vidros fechados. Respirei aliviada, nem na dor essa raça de sanguessugas tem consideração pelo meu luto. Vicente, assim que percebeu nossa presença, acelerou desconsiderando a possibilidade de atropelar meia dúzia de idiotas pelo caminho, mas, não são tão estúpidos e lhe deram passagem. Sabiam onde poderiam extorquir mais da minha dor algumas horas à frente. Eu também sabia, e seria o pior lugar a enfrentá-los. Deixei as costas encostarem pesadas no banco de couro e fecho os olhos tentando entender essa tragédia. 

— Só pode ser um pesadelo… — minha voz lamuriosa ecoa no carro.

— Eu sinto muito.

— Você não precisa se desculpar, Ana. A vida é um jogo de xadrez e parece que levei um xeque-mate. 

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