CAPÍTULO 9 - FÚRIA CEGA

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FÚRIA CEGA

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FÚRIA CEGA...

ANNY

No elevador, as pessoas fogem da doida ensanguentada que o invadiu e aperta os botões freneticamente. Ana entra novamente comigo, tento empurrá-la para fora, mas, a porta se fecha e a deixa trancada com a fúria em pessoa que sou.

--- Anny, por favor, se contenha! Olhe seu estado!--- Aponta o sangue que pinga da mão ferida, as roupas sujas do escarlate e até as paredes do elevador onde me apoiei.--- Deixa eu te ajudar!--- Tira o lenço de seda do pescoço e o estende mostrando que tenciona amarrar o ferimento e extinguir o sangramento.

--- Ele tinha uma amante!---Berro cedendo ao curativo.--- Ele teve filhos com ela! E eu? O sonho de ser mãe que sufoquei por anos! Como fico nessa história? --- por um momento, o aço frio da parede do elevador serve de apoio ao meu corpo aplacando a minha dor. Deixo a cabeça pender para trás e choro incontrolável.

--- Você não deixou Murillo terminar de ler o testamento. Nem sabemos quem é essa mulher!--- Ana avalia o curativo improvisado. 

“Quem é essa mulher? Não está óbvio quem seja ela?” 

Meu “Eu” interior se faz remoer de ódio lembrando das vezes que adiei uma gravidez por um projeto novo dele. 

--- Você ainda tem dúvidas?--- Pego ela pelo colarinho da camisa, procurando uma resposta mais decente em seu olhar. --- Você é muito ingênua!

Tenciono dizer mais uma série de absurdos, porém a porta se abre, a soltei, sai em disparada. Sei em quem descontarei toda essa minha fúria. Talvez, depois, até consiga terminar de ouvir que fui iludida e enganada por Chris. Que, no auge dos meus trinta e seis anos, fui privada de ser mãe por seus caprichos, mas, que o bonitão todo pomposo deixou um legado com uma rameira.

Tiro Vicente do banco do motorista do carro pelo colarinho no estacionamento. Ele estava distraído e não foi difícil a tarefa. Ele até tenta me conter, mas um chute em suas partes baixas o faz desistir. Entro no carro e quando dou a partida, Ana invade o banco do caroneiro e bate à porta. Mais uma vez, a pequena está trancada comigo.

--- Onde pensa que vai? Você não está bem, precisa de um médico!--- Tenta evitar que saia dirigindo tentando roubar as chaves. Impeço ela dessa tarefa.

---Desça do carro!---- Falo insanamente. --- Desça!--- Como ela não se mexe do lugar, dei a partida e acelerei em direção à rua cantando os pneus e derrubando uma lixeira.

Agora é tarde para desistir. Ana sabe disso e coloca o cinto ao ver que estou cega de fúria na direção. Se agarra ao banco temendo que seja seu último passeio e que nem poderá desfrutar de Lucy. Acredito que isso me renda uma internação em alguma clínica psiquiátrica. Não ligo, preciso acertar as contas com Chris!

--Você vai nos matar!--- Grita quando faço a curva por cima da calçada, muito próximo a um poste e faço vários pedestres se abrigarem perigosamente.

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