CAPÍTULO 35 - AMANHECER

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Anny

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Anny

Ao abrir os olhos, senti minhas pálpebras pesadas e inchadas, resultado das lágrimas derramadas na noite anterior. Inspirei fundo e me sentei. Olhei ao redor, sem lembrar exatamente como fui parar naquela cama tão macia, envolta em travesseiros aconchegantes e perfumados com o aroma suave de flores do campo, trazido pelo amaciante. Os lençóis impecavelmente limpos pareciam preparados com cuidado para receber meu corpo exausto após tanto caos.

Quem estava cuidando tão bem de tudo? Será que era aquela bondosa senhora de cabelos grisalhos, que tanto me lembrava Laura? Sempre que as vejo juntas, meu desejo de ser mãe de Laura,  fica cada vez mais distante, pois os traços marcantes de Suelen nelas, só provam que no máximo, Chris é que tenha doado seu material genético. Mary e Laura compartilham os mesmos olhos verdes serenos e o sorriso cativante. Mary, com suas palavras sempre cheias de bondade, e até Laura, apesar da pouca idade, sabia tocar meu coração. Me vejo como uma intrusa, que mesmo sem querer, posso me tornar uma ameaça para essa família no futuro. E isso doe…

Abraço meu corpo, tento acalentar essa dor. Eu gosto do Noah. Não preciso criar uma guerra, separar as crianças, mas tem o fantasma da probabilidade de ele estar envolvido nesta trama diabólica…

Cubro meu rosto com uma das mãos, tentando afastar esses pensamentos. Recostada na cabeceira, digo pra mim mesma; “ele não é o inimigo. Eu é que sou.”

Mais calma, baixo a guarda, observo o quarto simples: um roupeiro de duas portas, uma mesinha com abajur, e uma cortina de flores coloridas que dançavam na brisa da manhã. Era como estar em um conto de fadas. Eu deveria estar feliz, mas, ao contrário, me sentia deslocada, incapaz de acreditar no que estava vivendo. Meu mundo anterior, cheio de futilidades e uma beleza vazia, parecia agora tão distante. Tudo o que eu queria era me aninhar nas cobertas quentinhas e ficar ali para sempre, envolvida por essa sensação de lar que tanto me faltava.

O aroma de café fresco chegou sem pedir licença, inundando o quarto e me convidando a sair daquele esconderijo. Era um cheiro irresistível, que anunciava cuidado e carinho. Ainda assim, puxei as cobertas até a cabeça, fingindo acreditar que aquela caverna improvisada era o lugar mais seguro do mundo. Eu temia sair, com medo de descobrir que tudo aquilo era um sonho, uma ilusão.

Vozes distantes, risadas e birras infantis ecoavam pela casa. Provavelmente as crianças queriam me acordar, mas Noah tentava mantê-las longe. Sorri entre as cobertas, imaginando o trabalho que ele devia estar tendo. Minha mente voltou à minha própria mãe, que me criou com tanta paciência e carinho, mesmo eu sendo uma pequena rebelde. Decidi que já era hora de levantar e ajudar a acalmar aquelas crianças impacientes. Queria aproveitar cada segundo, cada sorriso, e tentar retribuir o carinho que estavam me oferecendo.

Sei que a Anny que fui até agora não é assim. Não sou carinhosa, atenciosa, nem maternal. Mas, cercada por esse calor de lar, por esses risinhos e pela simplicidade reconfortante, me dei uma chance. Mesmo que fosse apenas por um instante, eu queria experimentar o que era ser parte dessa família.

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