CAPÍTULO 10 - DIA DIFÍCIL

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DIA DIFÍCIL...

LEONARDO

Mais tarde, após trocar mais umas farpas com a fera na sala de reuniões, percebi que esse iria ser meu joguinho predileto, isso se Anny não me matasse no processo. Ver ela tentando sustentar uma pose de fortaleza me deixava em pedaços. Aqueles olhos verdes dela, tão sem vida, confusos e incrédulos com as sentenças proferidas por Dr. Murillo, estavam acabando comigo.

Anny era uma visão perturbadora de dor e beleza. Seu cabelo ruivo brilhava intensamente, caindo em ondas sobre seus ombros magros, cuidadosamente esculpidos pela dedicação à academia. As sardas que salpicavam seu rosto conferiam um ar de inocência, contrastando dolorosamente com seus lábios carnudos, agora comprimidos em uma linha tensa de agonia. Os olhos verdes, que um dia cintilavam com vida e paixão, agora estavam opacos, repletos de confusão e incredulidade diante das palavras cruéis que ecoavam na sala.

Sei que receber o escritório do meu irmão era mais um motivo para ela suspeitar de mim, mas saber sobre Soraya foi uma puxada de tapete que ela não esperava. A cada sentença lida, a fortaleza de Anny desmoronava um pouco mais, e eu, embora odiando admitir, sentia um aperto no peito ao ver aquela mulher que um dia foi tão vibrante agora reduzida a uma sombra de si mesma.

— Você sabia, não é?! — me condenou antes de sair da sala de reunião. 

Ela entendeu tudo errado. Nem deixou que Murillo terminasse a leitura antes de interpretar a mulher como uma amante do Christopher. Pior ainda, uma amante com filhos. Logo, a leoa estava fora de controle novamente. Até o final do dia, eu ficaria sem pele na cara ou ela me mataria estrangulado devido ao meu irmão. Nunca o odiei tanto. Como pode fazer ela sofrer daquela maneira?

Tentamos convencê-la a ter um pouco mais de paciência, mas o modo estranho que Christopher vinha agindo nos últimos dias deixou a evidência de outra mulher em sua vida gritante. Ele estava mais calado que o normal, se desviava das conversas, passava muito tempo ao telefone e disfarçava as conversas. Ela não queria ouvir explicações; a dor e a raiva a cegaram para qualquer possibilidade além da traição que ela acreditava ter descoberto.

— Anny! — Me livrei dos braços da minha irmã e da minha mãe, que tentavam me acudir, sai trôpego no encalço dela, mas a perdi por milésimos no elevador.

— Deixa ela ir, Léo! Essa louca nunca deveria pertencer a nossa família! — Dona Sofia exibia um sorriso sinistro no rosto.

— Você não sabe o que tá falando, mãe… — sei que as duas não se suportavam, mas o comportamento da minha mãe mais ao do meu irmão deixavam a situação ainda mais constrangedora.

— Você vai atrás dela, Léo! — Leila ao meu lado estava aflita. Saquei o celular do meu irmão e acionei o rastreador do dela.

— Óbvio, ela não está em condições de sair por aí tirando conclusões apressadas dessa maneira. — ainda bem que tive a ideia de surrupiar o celular do Christopher na delegacia. Aliás, quando Anny souber que ele tinha posto um rastreador no celular dela…

Quando, enfim, pareceu uma eternidade, o elevador voltou, não perdi mais tempo ali escutando as divagações absurdas da minha mãe sobre os vinte e tantos anos de vida do meu irmão desperdiçados ao lado daquela mulher. Duvido que ele pensasse da mesma maneira. Ele a amava, de uma forma tão possessiva que às vezes me dava medo. Mesmo torcendo pelo sucesso profissional dela, até filhos evitaram para não ter que dividi-la com mais ninguém. Traição? Ele jamais faria isso. Mas enquanto o painel iluminava a contagem decrescente, eu me indagava o que havia acontecido nos últimos meses com a relação deles. Pude notar um aumento nas discussões banais, Christopher chegando tarde, horas no telefone tentando uma ligação que nunca revelou o contato, e mesmo tendo o aparelho em mãos agora, não havia nada de suspeito ali. Limparam aquela merda antes da polícia o encontrar quadras à frente do assalto em uma lixeira. 

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