۫ ּ ִ ۫ ˑ ֗ ִ ˑ 𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨 ۫ ּ ִ ۫ ˑ ֗ ִ ˑ

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Esmerald Flame

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Esmerald Flame

Meus olhos encaravam a madeira que compunha o teto de meu quarto, repleto de partes queimadas e escuras, que contrastavam com a cor original. O aroma era como de carvão, com o toque da fumaça densa e amarga. Aprendi a gostar daquilo,  já que estava condenado a permanecer penetrado em meu quarto por toda a vida.

A escuridão permanecia ao lado de fora da modesta casa de Baba, sendo o único momento que sempre me garantia paz naquele lugar. Revirei os olhos, me sentando na cama, desistindo após diversas tentativas falhas de pegar no sono e me voltei para a janela, vendo a luz da lua refletir ao lado das estrelas. A Terra das Fadas desfrutava de seu merecido silêncio após tanta agitação nas últimas semanas, com os preparativos para o ano letivo que se iniciaria amanhã, na Academia Merlin. Tudo porque Fay havia sido convidada para estudar lá.

Eu, como a cota de diversidade, estava sendo arrastada junto à ela.

"Futura Fada Madrinha", era o que ela seria, ao contrário de outras pessoas... Como eu. A magia que ela havia recebido era considerada bela e invejável, a qual garantiria um destino especial e digno dos contos de fadas dos Muitos reinos para ela. Nada disso me importaria se não vivêssemos grudadas e eu fosse obrigada a assisti-la receber elogios apenas por acordar viva mais um dia. Eu também tenho um dom e muito superior ao dela, mas nada adianta, já que é de "origem sombria".

Tudo bem... Talvez eu tenha queimado alguns dos campos desta terra sem querer em alguns de meus surtos, mas não foi grande coisa, por mais que Oberon tenha enlouquecido com Baba. Ela me criou desde o dia em que meus pais morreram e por mais impossível que pareça, me livrou de todas as punições que me desejaram ao passar dos anos. Ela é como uma mãe para mim, muito diferente de Fay, sua irmã casula.

Eu e a aspirante à fada madrinha somos completamente diferentes, enquanto ela tem uma varinha – ridícula, inclusive – eu tenho dois magníficos chifres. Compartilhamos as mesmas aulas quando crianças, aprendendo feitiços e estudando as histórias dos Muitos Reinos. Ela andava com suas amiguinhas fadas e eu com Opala, meu querido corvo.

Se quer um conselho, escolha amizade com corvos à fadas frufrus, eles são leais, corajosos e ótimos em destruir laços cor-de-rosa. 

Piscando os olhos, percebo que minha imaginação havia ido longe demais e já havia se passado algum tempo. A madeira queimada era do estresse das últimas semanas e dos sonhos com a Academia. Da forma como estava, não duvidava encontrar um buraco no teto quando acordasse pela manhã.  

-- Estão prontas? – Baba gritava da cozinha, colocando alguns bolinhos em uma sexta. – Roupas, livros, varinhas, remédios...

Minha cabeça parecia que iria explodir com cada palavra que saia de suas boca e tudo o que eu podia fazer era cruzar os braços e bater o pé com a ansiedade e a raiva, já que além de todo esse momento horrível, Fay ainda conseguia se atrasar. Levei um susto quando aquela sexta foi empurrada para meu peito, me trazendo novamente para a realidade.

-- Malévola, meu amor. – ela começou, revistando todo o meu corpo com o olhar – Pegou tudo? – assenti enquanto respirava fundo. – Tem certeza? Talvez possa ter esquecido algo e só lembre quando tiver chegado, e assim eu não poderei enviar imediatamente para você, o que se tornaria um grande problema já que...

-- Já chega! – senti meus olhos arderem com a paciência que enfim se esgotou e a luz verde me fez cobrir meu rosto com os dedos ao ser refletida no espelho logo em minha frente.

A mulher suspirou e apenas se virou, pegando algo sobre a mesa e estendendo a mão, onde se encontrava meu livro de feitiços. Minha vida toda estava lá e eu quase havia esquecido dele.

-- Estava deixando isso.

-- Eu... – engoli em seco, pegando de suas mãos. – Não deveria ter descontado em você, é só que Fay... – bufei, a vendo chegar com as diversas malas e sorridente.

-- Apenas tente ficar calma, é só uma viagem de algumas horas e logo irão para caminhos diferentes.

Balancei a cabeça concordando quando ouvi os cavalos da carruagem relincharem, tão impacientes quanto eu, ao lado de fora. Com isso, apenas olhei no fundo dos olhos da única pessoa que amo no mundo e sorri levemente, sem os dentes, antes de andar até a porta. Não iria me despedir mais do que aquilo e se mais alguma coisa mexesse comigo naquele momento, talvez Oberon finalmente pudesse me transformar em pedra de uma vez.

Algum tempo depois, tudo o que víamos era a estrada e algumas casas distantes ao longo do caminho. A garota não parou de falar desde que entramos, com listas de coisas que planeja fazer e listas de coisas que eu não poderei fazer. Felizmente, arrancar sua cabeça não era uma delas.

-- Eu juro que se não parar com esse seu monólogo irritante, eu abro a maldita porta desta carruagem e te jogo para fora.

Ela abriu a boca com indignação para falar algo, porém se calou quase imediatamente, se afundando no canto do estofado, irritada. Talvez tenha murmurado algo alguns minutos depois, porém ignorei, tentando focar em manter o fogo que irradiava dentro de mim o mais controlado que eu conseguia.

Só pensava no que faria quando encontrasse o pior tipo de espécie possível ao chegar.

A realeza. 

Se fadas do campo com poderes de arco íris já conseguiam ser metidas daquele jeito, não conseguia imaginar o quão insuportáveis, cabeças com coroas podiam ser.

-- Ou... Acorda criatura, chegamos.

As mãos finas da garota balançavam meu corpo para frente e para trás e quando por fim abri os olhos, ela limpava as mesmas na própria roupa. Pisquei algumas vezes até conseguir enxergar com clareza e ver a construção do outro lado da janela, com o enorme brasão da escola exposto logo a frente. Adolescentes iam de um lado para o outro e suas risadas eram tão altas que eu as podia ouvir daqui.

Peguei minha bolsa e dei um pulo para fora, pisando no piso decorado logo abaixo, enquanto Fay pedia ajuda ao cocheiro. Meus olhos corriam por todos os lados, sem saber o que estava sentindo, porém não era nem um pouco ruim. Após anos me sentindo estranha em minha própria casa, por algum motivo, aqui parecia ser tudo o que eu precisava. Algo me chamava para dentro daquelas grandes portas.

𝐑𝐎𝐓𝐓𝐄𝐍 𝐓𝐎 𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐎𝐑𝐄 - 𝙃𝙖𝙙𝙚𝙨 𝙚 𝙈𝙖𝙡𝙚́𝙫𝙤𝙡𝙖Onde histórias criam vida. Descubra agora