Blue Flame
Apenas fiquei parado, encarando o corredor, repleto de cacos de vidro e algumas poucas chamas que ainda não haviam se apagado. Longos minutos se passaram e eu permaneci sentado, recostado à parede, meu coração mais calmo, não batia mais naquela intensidade de antes. Aos poucos, meus pensamentos voltavam a se encaixar, mesmo que nada do que estivesse acontecendo parecesse possível.
Claro, não era a primeira vez que tinha um surto, porém nunca como aquele e jamais feriu qualquer pessoa que ele considerasse importante para ele. O pior, era que mesmo sabendo que foi longe demais, não me sentia arrependido. Quero dizer, não pelo que fiz com Hook e Morgie, eles mereceram cada segundo que passaram em minhas mãos e eu não conseguia descrever qualquer coisa além de prazer ao lembrar do medo que vi nos olhos do pirata.
Eu me sentia cansado de tudo aquilo. Minha família era o mesmo que nada, já que não se presavam ao menos em jantar comigo. Meus amigos, que eu considerava os únicos que mereciam meu respeito e até mesmo preocupação, me deram as costas na primeira oportunidade, sem nem se importar em notar que eu estava diferente. Antes, eu culpava Malévola por isso, agora percebo que estava apenas tentando negar a realidade de que eu podia ser traído novamente por pessoas importantes para mim. Era como se a mesma história se repetisse em todas as vezes que imaginava que o amor poderia ser reciproco, de que talvez alguém pudesse me colocar em primeiro lugar uma vez na vida. Entretanto, eu precisava apenas piscar para que eu fosse trocado, excluído e ridicularizado por criaturas que nem mereciam já terem estado ao meu lado.
Aquele sempre foi meu ponto fraco. Confiar o suficiente para baixar a guarda e ser apunhalado pelas costas, de novo, de novo e de novo. Estou noites sem dormir, tenho de suportar aquele o calor ardente que se assemelha à uma torturante sem fim, dia após dia. Quando chego ao meu limite, fecho meus olhos para conter o sofrimento, me recusando a derramar qualquer lagrima. Eu tinha de ser forte para ser Hades, mas naqueles momentos tudo o que eu mais queria era poder morrer.
Eu não podia, pois aquilo não era uma escolha.
Xingava qualquer coisa, furioso por ter nascido um Deus, o qual é humilhado pela própria família, destinado a amedrontar todos que se aproximassem e nunca ter ninguém. Era como se eu existisse apenas para todos ao meu redor se sobressaíssem, ganhassem tudo do bom e do melhor, enquanto eu ficava com o papel do vilão que merecia passar o resto de sua imortalidade preso em um submundo, sozinho.
Não sou alguém bom e não me importo com isso, é claro que eu sei, mas só se deve pelo meu destino, já marcado e imutável. Me sinto afundando no caos e no sentimento de fúria e ódio, que me consumiam cada vez mais. Nunca serei um herói, aquilo era obvio, mas também não queria ser algo repleto de amargura.
A única coisa que eu queria era poder olhar no espelho e me orgulhar do que vejo, dizer para mim mesmo que se aquele era meu destino, eu seria fantástico naquilo. E não importaria o quão ruim todos poderiam me achar, eu amaria cada detalhe de quem eu havia me tornado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐑𝐎𝐓𝐓𝐄𝐍 𝐓𝐎 𝐓𝐇𝐄 𝐂𝐎𝐑𝐄 - 𝙃𝙖𝙙𝙚𝙨 𝙚 𝙈𝙖𝙡𝙚́𝙫𝙤𝙡𝙖
Hayran Kurgu✶ 𝐌𝐀𝐋𝐄́𝐕𝐎𝐋𝐀 𝐄 𝐇𝐀𝐃𝐄𝐒 - Entre chamas esmeraldas e azuis, rivais da terra e do submundo disputam a sombria liderança da Academia Merlin.