What was I made for? • Wenclair

28.

— Isso definitivamente não tava nos meus planos pro final de semana —Enid resmungou olhando-se no espelho, já arrumada para ir à casa dos pais.

— De qualquer forma, eu estarei lá a todo momento.

A Sinclair assentiu e Wednesday aguardou pacientemente. Sabia que ela estava pensativa, que tinha algo a dizer.

— E os meus irmãos, Willa? Tipo, o mais velho entre eles só tem doze anos.

— Quantos tinha na sua vez?

Silêncio. Ela havia acabado de completar sete quando as ameaças passaram de cartas para cadáveres de animais na porta de casa.

— Não quero que eles passem pelo mesmo que eu em nenhuma idade.

— Concordo, ninguém deveria passar por algo assim. Daí a ideia de avisar aos seus pais.

Novamente concordou com a cabeça. Seu corpo todo vibrava, nem de longe a felicidade era culpada.

— É tão difícil, até pensar sobre isso... É difícil sentir medo o tempo todo —Desabafou um tanto perdida e receosa, mas Wednesday fez questão de segurar o rosto dela e conectar seus olhos.

— Você é uma das pessoas mais corajosas, fortes e determinadas que eu conheço. Nós duas sabemos que você é mais do que capaz de fazer tudo o que se dispõe.

— Willa... —Chamou, as bochechas já quentes e vermelhas demais.

— De toda forma, eu garanto, Enid, enquanto eu estiver viva ninguém nunca mais vai encostar um dedo sequer em você com más intenções.

As lágrimas não puderam ser contidas. Enid abraçou Wednesday até mais do que fisicamente, se acolhiam toda vez em
alma. Por instinto deram um beijo calmo. Virara hábito dizer muitas coisas, sem verbalizar nada, nesses contatos.

— E me falaram que eu teria que cuidar de você —Enid encontrou forças para brincar.

— Quem disse isso? —Questionou indignada.

— Assunto restrito. Vamos?

Wednesday a encarou, querendo saber a resposta mas não dificultar mais aquele dia.

— Certo. Vamos se estiver pronta. Se não, podemos adiar.

— Tá de brincadeira? Depois daquelas suas palavras sinto que poderia surfar nas nuvens!

— Não sei se surfar é a palavra porque as nuvens...

— Vamos antes que eu mude de ideia, Addams.

Ela assentiu, ficando quieta, e segurou a mão que lhe foi estendida. Andaram assim até o carro —não sabiam como Enid estaria depois da conversa, não soava boa ideia arriscar ir de moto— e durante alguns semáforos vermelhos se encostavam. A casa dos pais de Enid não era distante mas Wednesday levou todo tempo do mundo no caminho para que ela se alinhasse.

O problema era que não havia como se preparar para aquilo.

Foram recebidas pelos irmãos da Enid ainda no gramado da frente, insistindo para que brincassem com eles. A Addams suspirou e se ofereceu para ficar enquanto "Enid teria uma conversa de adulto e também iria em breve". Eles aceitaram de bom grado, e só então elas chegaram à porta principal. Wednesday propositalmente sugeriu que jogassem rugby no quintal, ao invés da varanda, lugar o qual Enid poderia ve-la mas as crianças não a ouviriam. Nesses momentos se orgulhava de ser tão boa ao persuadir.

— Você parece tensa —A mãe, sempre a primeira a reparar, comentou.

— Estou um pouco. Tem algo que preciso contar à vocês.