INDOMÁVEL - ROBERTO NASCIMENTO

A PEGADA

Juliana Silva:

Era final do dia, plantão se encerrando, e eu suspirava de gratidão por não ter visto mais a sombra do Carvalho...

Finalmente eu pude pegar as minhas coisas e ir pra casa. Eu estava apressada, o Luiz jantaria na minha casa hoje e eu precisava me arrumar. Já tinha tudo planejado, chegaria em casa e organizava tudo o que estivesse fora do lugar, em seguida tomaria um banho demorado, a ideia de lavar o meu cabelo me deixa ansiosa pra chegar em casa. A água fria escorrendo sobre minha cabeça era tudo o que eu precisava. Com certeza eu iria relaxar depois de tudo o que aconteceu!

Destravo a porta do carro com certa distância, abro a porta do passageiro e jogo minha mochila, em seguida fecho e me direciono prestes a abrir a porta do motorista quando sinto duas mãos passando pela minha cintura. O susto interno me faz dar um pequeno pulo.
Era Roberto, eu reconheceria seu toque e sua respiração em qualquer lugar.

Sem dizer nada ele apoia as duas mãos no carro, me deixando presa entre elas, encosta a sua cabeça na lateral do meu rosto e respira forte fazendo eu me arrepiar.

- eu to doido pra ver você vestida naquelas lingerie que comprei pra voce ...- ele sussura no meu ouvido, sinto um frio na espinha, uma sensação eletrizante...
- Vai sonhando, Capitão...- respondo meio sem jeito, queria ser firme mas a realidade é que ele me enfraquecia
- Vamos repetir a dose... do jeito que voce quiser eu quero - ele diz enquanto esfrega seu nariz na minha nuca
- Roberto, acho melhor pararmos por aqui - me desvencilho dos seus braços fazendo com que ele se afaste

Ele me olha confuso, cruza os braços e franzindo o cenho ele questiona:

- Porque? - sinto o inicio da irritação em seu tom de voz
- Porque nao é certo e além do mais eu não sou palhaça. Olha a forma que voce me trata, voce acha que eu sou obrigada a aceitar essa sua oscilação de humor? Quando seu pau ta duro sou teu amor, e quando ta mole eu sou uma ninguem pra voce? Não sei o que é isso que voce diz sentir por mim, mas eu não quero mais nenhum contato contigo. Ontem foi um erro, assim como anos atrás... - joguei na sua cara, abri a porta do carro e entrei sem esperar sua resposta

A mudança de expressão em seu rosto demonstrava a surpresa por ouvir aquilo.

- você só pode ta de brincadeira comigo... eu não vou me arrastar pra voce se é isso que voce ta pensando. -

Ouvindo aquelas ultimas palavras, com todo o arrependimento que cabia dentro de mim, arranco o carro deixando pra trás a ultima vez que me deixei cair nas armadilhas de Roberto. Eu estava decidida que apartir daquele momento, não teria qualquer contato fora do ambiente profissional.

Meu apartamento ficava perto, 700 metros da avenida do batalhão. Mas naquele inicio de noite, tudo ao meu redor parecia me distanciar do meu lar. Eu estava cansada, triste mas determinada. Eu precisava esquecer o que aconteceu na minha infancia, precisava esquecer o coronel e principalmente eu precisava de uma vez por todas, esquecer o capitão Nascimento. O encontro com o Luiz me encheu de esperanças!

. 20:27
Finalizo o meu banho me enrolando na toalha macia, meus cabelos umedecidos exalavam um cheiro de shampoo doce pelo meu quarto.
Decido secar com o secador por ser mais rapido. As 21:00 Luiz chegaria em meu apartamento, já deixei autorizado na portaria, apesar de que não precisava disso visto que ele havia entrado livremente para me buscar no dia da praia. - mania feia desses policiais do BOPE? - risos

Entro pela sala devidamente organizada, checo os ultimos detalhes e meus olhos me levam para os dois buquês de flores em jarros diferentes em cima do balcão. O que eu farei com as flores que Roberto me deu?

Penso rapido e decido me livrar delas deixando apenas o buquê de girassóis. No momento em que eu atiro as tulipas no lixeiro da dispensa, eu sinto a dor de um amor que ainda estava vivo em mim mas eu precisava acabar com isso.