FANTASMA DO PASSADO

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JULIANA SILVA :

O ano era 2018, numa manhã de chuva de novembro, eu me preparava pra dar um passo importante na minha carreira policial: Minha transferência ao BOPE do Rio de Janeiro.
Esse momento foi sonhado por mim, era a realização de um sonho, e após 3 anos na polícia convencional eu estava finalmente alcançando meu tão sonhado objetivo aos 26 anos.

Enquanto eu caminhava em direção a porta do meu apartamento, paro em frente ao movel aparador do hall de entrada, fixo meus olhos e minha postura se recai ao ver a foto da pessoa que eu mais amei na minha vida: meu pai
Agente da polícia federal, foi o homem mais honesto que eu conheci, mais amoroso e atencioso... era meu paizinho - fungo enquanto sindo uma lagrima cair e molhar meu novo fardamento -
Meu pai havia falecido há 2 anos vítima de um câncer no estomago, ele não teve chance de recorrer ao tratamento adequado, a doença silenciosa o engoliu por inteiro em questão de dias - de longe foi a maior dor que senti em minha vida.

- Não acredito que você estava saindo sem me dar um beijo, Juliana - ouço a voz da minha mãe enquanto seus passos apressados chegam até mim
- Mamãe, não queria te acordar - falo enquanto sinto seu beijo em minha testa
- Boa sorte hoje minha filha, tenho certeza que nosso Toninho esta muito orgulhoso de você, onde quer que ele esteja...- ela diz enquanto seus olhos se enchem de lagrimas, Toninho era o apelido carinhoso do meu pai -... Sabe Minha filha, eu sei que eu te pedi muito pra não entrar nesse tipo de polícia, meu coração de mãe fica apertado só de pensar em algo de ruim acontecendo com voce... mas eu sei que o seu pai sonhou muito com isso, sei o quanto significa pra você, que Deus te guarde e te livre de todo mal minha filha - ela fala com o tom mais doce e mais amoroso do mundo, definitivamente minha mãe era a melhor parte de mim, minha rainha.

Depois de toda aquela despedida regada a lagrimas e bençãos, eu saio do apartamento na certeza que apartir dali eu seria uma nova pessoa, uma nova Juliana, eu honraria essa caminhada e daria o meu melhor, disso eu tinha certeza.
Caminho segurando um chaveiro com 3 chaves, olho para elas enquanto entro no elevador e fixo meu olhar enquanto meu pensamento me leva pra longe, aquelas eram as chaves do meu novo apartamento, meu pai havia comprado pra mim quando eu passei no concurso da PM, mas nunca tive coragem de me mudar pra la e deixar eles sozinhos, principalmente depois que meu pai se foi, minha mãe só tinha a mim e meu irmão, Gustavo de 16 anos.
Eu tinha que definitivamente encarar a realidade, o lar da minha mãe ficava há horas do batalhão e o apartamento que meu pai havia me dado ficava exatamente ha 1 minuto. Depois do expediente eu iria pra la direto.
Entro no meu carro, e ligo o GPS para o quartel, o Rio de Janeiro era imenso e eu sempre me perdia.

Chego no batalhão, após passar pela guarita e procuro uma vaga que fique fácil para sair, eu não era a melhor no volante apesar de dirigir desde os 17 anos.

Meu passos firmes, acompanhados da minha postura altiva, me levam quase que em automatico para a sala do coronel. Era hora de me apresentar oficialmente.

- urhm, com licença coronel, soldado Silva se apresentando - presto continência em posição de sentido
- Descansar, Silva. Seja bem vinda, hoje você ira com os novatos e aspirantes para a reunião de apresentação - ele fala fazendo gesto para que eu me sente
- Silva você é a 02 da equipe Alfa, a principal. O 01 é o capitão, espero que toda a equipe a receba com grande expectativa positiva, assim como eu - ele sorri de lado mas logo muda- o trabalho em equipe é o principal no meu batalhão, e espero que você entenda que diferente da polícia militar convencional, a sua vida pessoal fora do quartel será reduzida. Apesar de jovem espero que você entenda que mesmo em suas folgas, poderá ser chamada e não poderá negar comparecer, certo? - ele conversa com firmeza mas de forma branda, me explica o que eu já sabia desde o curso, todo mundo sabe que quem é do BOPE não tem vida alem disso tudo aqui
- Entendido senhor, permissão para retirar - me levanto em posição
- Permissão concedida - ele fala olhando eu me retirar como se estivesse me avaliando
- Bom trabalho Juliana - ele diz meu nome e eu olho para tras e vejo que ele me encara diferente. - puta que pariu (penso)

Chego na reunião antes mesmo da maioria, eu gostava de ser pontual. No meio ao converseiro naquele pequeno auditório, vejo uma figura que eu reconheceria a km de distancia - só pode ser brincadeira - penso alto. Presto atenção naquele homem mas não consigo ler a sua patente devido à distância. - capitão, o coronel esta demorando, podemos começar sem ele? - diz o soldado chegando perto daquele homem que eu estava reconhecendo.- Você nasceu de 7 meses, 04? Você ta com a porra na bunda que não pode sentar e esperar? -  respondeu com total brutalidade e desrespeito. Era o Roberto Nascimento, meu ex. E para a minha tristeza, acabei de perceber que ele era meu capitão.
...
Pra ser bem clara ele não era bem meu ex, a gente se conheceu na formação da polícia militar, onde infelizmente ele era tenente e eu me apaixonei... ficamos algumas(muitas) vezes mas ele era um canalha, era um safado e não podia ver um rabo de saia, um cara daquela idade se comportava como um adolescente exibindo a quantidade de mulheres que ele pegava. Eu nunca fui muito ciumenta, mas Roberto além de mexer comigo, com meus sentimentos, riu muito da minha cara enquanto eu infelizmente criava sentimentos por ele; ele não me levou a sério de inicio, e quando eu não queria mais nada ele ficou obcecado. Nosso rompimento não foi nada amigavel, gerando conflitos e sentimentos destrutivos... talvez ódio, eu sabia que ele me odiava e eu odiava tudo o que ele fez comigo. Acho que fazia 3 anos que eu não o via.
...
Ele não olhou pra mim hora nenhuma, mas eu acho que seria difícil me esconder, eu era a única mulher no meio de 30 homens naquele auditorio pequeno.
Enquanto a reunião não começava eu tentava me manter sentada para que a minha presença fosse ignorada. Mas, pra minha infelicidade o coronel entrou e todos tivemos que levantar.
...
Descansar todos - ordenou o coronel - vocês estão aqui para que possamos receber os novos integrantes na equipe.
Apenas 1 soldado novato ficara na alfa - Ele fala
Puta que pariu Carvalho, a equipe fudida e você so me coloca um soldado? Precisamos de no minimo 10 - Capitão odioso bufa irritado (vou chamar assim por enquanto)
Ordens são ordens, Nascimento - Coronel fala olhando pra ele - bom, Soldado Silva se apresentar - o mesmo ordena
Meu sangue nesse momento gela, eu estava ansiosa e nervosa por esse momento, eu era oficialmente do BOPE e sentia todas as emoções possíveis se misturando dentro de mim.

Me apresso em me posicionar, e percebo a cara de cachorro raivoso do capitão, definitivamente tinha sido uma surpresa pra ambos.

- Soldado Silva se apresentando, a disposição deste batalhão - falo depois de sair do canto em que estava e bato continencia na frente do coronel e do capitão.
Nesse momento percebo a cara que Roberto faz, e observo ele resmungar algo como se fosse um - que caralhos voce ta fazendo aqui ? - acho que ele sussurrou isso

Descansar Silva, mais uma vez seja bem vinda - diz o coronel, que me olha como se eu fosse o topo da lista de mulheres que ele queria pegar, ele não disfarça enquanto morde levemente seu lábio inferior...

Nesse momento eu penso: definitivamente entrei no inferno sem chance de sair...

INDOMÁVEL - ROBERTO NASCIMENTOWhere stories live. Discover now