INDOMÁVEL - ROBERTO NASCIMENTO

DESTINO

Roberto Nascimento:

Eu não poderia ser tão trouxa a ponto de me humilhar por uma mulher que claramente não me quer...
Naquele sábado, após sair do apartamento de Juliana, decido que não irei mais correr atrás dela... Eu tinha a mulher que eu quisesse num estalar de dedos, que se foda essa maluca!

O resto do dia passei organizando meu apartamento, eu não era do tipo que fazia faxina... pra isso eu pagava dona Ruth semanalmente pra deixar essa zona impecável.

Quando a noite chegou, tomei um banho frio, decidi que faria algo que por meses eu não fiz. Uma balada, bebidas e é claro, mulheres!

Selecionei as roupas, que por sinal eram claras... não por ninguém, por mim mesmo. Eu já passava a semana toda de preto, a porra de um ceifeiro, o anjo da morte.

Camisa branca de botão, que não me atrevo a fechar todos e parecer um engomadinho do cacete. Calça clara, tenis perfeitamente branco. Meu cabelo preto com diversos fios brancos, perfeitamente alinhado. Meu perfume: Antonio Bandeiras
Relógio prateado. Estava pronto pra uma noite de diversão!

Pego tudo o que preciso, me direciono até o estacionamento e destravo o meu carro, uma SW4 preta... esse carro é o meu xodó. Uma nave por dentro e por fora, com espaço interno o suficiente que já me foi muito útil... se é que vocês entendem

O salário do BOPE não paga um carro desses nem parcelado. Isso só foi possível graças a herança que recebi dos meus pais, ambos eram servidores federais e eu filho único. Todo o montante recebido está investido, garantindo rendimentos possibilitando meu conforto futuro quando eu decidir então me aposentar.

A noite no Rio de Janeiro era poética. As luzes, o contraste da cidade maravilhosa, da zona sul com o destaque das favelas pareciam obra de artista famoso. Para os românticos, as orlas, praias e calçadões eram ambientes que despertavam imaginação e o mistério da noite estreitava todas as emoções dentro de dois corações. Balela... Estou indo em busca do pecado, me entrelaçar em corpos de mulheres que não se importam se eu vou ligar depois. O cheiro do álcool misturado com perfume barato, o sexo fácil, a distração momentânea... era o que eu queria, era o que eu achava que precisava.

Estaciono em uma casa de show afastada da grande capital. Era o meu lugar favorito quando eu ainda era um merda de um policial convencional recém formado.
Pago a minha entrada, entro e procuro o segundo andar.
Peço uma garrafa de Uísque, balde de gelo e me direciono a mesa que ficava recuada na parte alta, me favorecendo com a visão panorâmica de toda a pista de dança.

Quando uma voz feminina desconhecida me chama atenção:

- um homem bebendo sozinho tem um motivo - Uma loira, alta, corpo totalmente escultural em um vestido colado cheio de brilho, com um decote que dificilmente passara despercebido.
- Então uma mulher sozinha por aqui, não tem motivos, deve ser opção- respondo sorrindo fazendo sinal para era se sentar

- Acho que você não seria capaz de imaginar porque estou sozinha aqui hoje -
- Não consigo pensar em nada, vontade de curtir sua própria companhia? -
-
- Um amor delirante, que infelizmente desistiu de nós dois e eu... bom eu precisava espairecer -

- Você não faz ideia de como eu entendo isso - dou um gole no Uisque puro, que desce como água... a noite era uma criança

Estendo a mão para o garçom, solicito um copo e ofereço a moça que estava ao meu lado.

- qual o nome da jovem com o coração quebrado?

- Juliana. E qual o nome do moço misterioso?

Não era possivel, outra Juliana? Que inferno de mulher que me persegue até mesmo sem querer.