MINHA MULHER

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Roberto Nascimento:

Questiono a existencia de Deus, eu nunca fui religioso, mas sempre fui incapaz de duvidar que alguém lá em cima existe. Até o dia de hoje.

Ninguém é capaz de explicar o efeito que Juliana tem sobre mim. O medo de perde-la, de não ter o seu amor, de não acordar ao seu lado, transcede o meu próprio medo de morrer.
Isso também justifica algumas das minhas atitudes e ações. Talvez muitos apontem como exagero, mas a minha mulher esta em primeiro lugar.

Qualquer ameaça, risco ou intromissão era inadmissível, o meu instinto de proteção beirava a loucura, como ela mesma dizia.
As minhas mãos cobertas com o sangue do sargento ferreira, so cessaram quando o barulho do copo caindo no chão, fez eco no corredor.

O tempo parou e tudo ao redor ficou em camera lenta. O corpo de Juliana totalmente enfraquecido deslizando na parede e indo até o chão, me desorientou. Peguei a minha mulher no colo e nem sequer me importei por ela estar de vestido e provavelmente mostrando a calcinha.
Porque a essa altura do campeonado, ninguem naquele batalhão era maluco de olhar pra ela.

O hospital não era longe, mas o ambiente dentro do meu carro era claustrofóbico. João entende o que esta acontecendo e vai dirigindo enquanto no banco de tras, a minha mulher segue desmaiada.

As luzes no corredor do hospital, estavam mais claras, mais acesas. O corpo de Juliana, amolecido, palido, não pesava nada em meus braços. Talvez pela adrenalina presente.

O médico examina e imediatamente leva ela pra longe de mim, o meu peito parece que vai se abrir e a sensação que eu tenho é de quase morte. Não consigo ficar sentado, ando de um lado pra o outro enquanto João tenta me acalmar.

— calma Capitão, sente um pouco ...-

A calma estava longe de mim, eu estava a beira de um surto, o panico se instaurava no ar que eu mesmo respiro; como uma intoxicação, e todo o meu corpo responde, o tremor era presente!

São os 40 minutos mais agonizantes da minha vida, eu queria sentir a dor ou qualquer outra coisa que ela estivesse sentindo. Queria que fosse transferido a mim.

De repente ouço passos lentos, a porta se abre e o rosto do médico surge, me fazendo levantar imediatamente. Sem esperar eu vou até ele que logo entende a minha aflição.

Seu rosto não é dos melhores, eu sabia ler as pessoas, tem algo ali que talvez eu não quisesse ouvir. O toque gelado da dor estava proximo demais, e o medo de que esta por vir é inevitável.

— cade ela?  CADE A MINHA MULHER? - digo chacoalhando o homem pelos ombros

— Voce precisa me acompanhar-

O som ao redor estava em silencio, apenas a minha mente trabalhando. Acompanhei o medico até a sua sala, e impacientemente peço que me fale o que estava acontecendo.

— Capitão, o bebê esta bem e a sua mulher esta melhorando. Mas eu preciso perguntar, existe alguma coisa que possa elevar tanto o nivel de estresse de Juliana? - ele pergunta esperando uma resposta objetiva

Engulo seco, eu sei muito bem o que faz ela se sentir assim, e não foi o Ferreira quem fez isso. O causador principal era eu. Essa historia com a loira tava acabando com a saúde da minha mulher, e o pior é que ela tentava seguir em frente mesmo tendo que passar por cima de tudo.

— Sim, tem alguns problemas pessoais ...- respondo seco sem dar brecha para mais perguntas

— eu preciso que você resolva o que tiver causando isso, pra que futuramente eu não precise me ver diante de uma escolha ...- ele diz serio

INDOMÁVEL - ROBERTO NASCIMENTOWhere stories live. Discover now