INDOMÁVEL - ROBERTO NASCIMENTO

MUDANÇA

Roberto Nascimento:

Acordei sentindo um leve desconforto no braço, uma ardência que por menor que fosse, me incomodava.
O quarto estava com a luz baixa, e o único som emitido eram os bips dos aparelhos. Apesar disso, eu estava me sentindo bem fisicamente, mas dentro de mim tudo estava em colapso.

João entra na sala com um sorriso alegre, eu devia muito a esse cara, ele era um amigo de verdade.

— onde esta ela? - pergunto a João assim que ele senta na poltrona

— capitão... ela esta bem, esta aqui ao lado em observação- João explica mas sinto no seu tom de voz uma preocupação

— quero ve-la...- me levanto rapidamente mas logo sou impedido por uma fisgada de dor— PORRA

— calma capitão, fica quietinho aí, você quase morreu sabia? Recebeu sangue e a porra toda ...

Era estranho pensar que tudo o que eu mais queria era resgatar Juliana, mas, eu não tive medo da morte e nem sequer lutei contra ela. Era só a vida da minha mulher que importava.

— me ajuda aqui cacete...- peço pra João me ajudar a levantar

Logo consigo sair do quarto e ando em direção a uma porta que tinham 2 oficiais de plantão, fazendo a sua segurança.

Ando lentamente com um pouco de dificuldade devido a tontura, mas o meu coração palpitava, parecia que era a primeira vez que eu a encontraria.

Giro a maçaneta da porta, e devagar sem fazer barulho entro no quarto. E lá estava ela, com o olhar diferente. Uma expressão desconhecida, distante.
Mas estava bem, salva e longe dos riscos que enfrentou. Eu podia finalmente respirar tranquilo.

— oi...- digo chegando perto
Ela me olha vazia, sem qualquer reação

— oi...- ela responde

— voce ta se sentindo bem?
Ela desvia o olhar e volta a encarar a parede

— estou bem Roberto, e você esta melhor ne?

Sua voz não tinha doçura, sua expressão era fria e vazia, seu olhar era seco.

— Juliana...- me aproximo e passo mão na sua barriga por cima do tecido da roupa de hospital, sem precisar perguntar ela já entende a minha preocupação

Ela tira a minha mão com cuidado, e coloca sobre o colchão da maca. Eu não entendi o que ela quis dizer com esse gesto, tudo me parecia confuso e estranho.

— o bebe esta bem ...- ela diz me olhando séria- Roberto... eu prefiro ficar sozinha agora!

Antes que eu pudesse questionar, a porta se abre e o médico nos interrompe. Saio do quarto sem entender muito o que esta acontecendo. Dona Joana logo entra, ela havia passado a noite inteira no hospital.

— eu fui te ver duas vezes mas voce dormia feito pedra, esta tudo bem com o braço? - ela pergunta

— isso aqui é besteira dona Joana, eu nem sei porque ainda me prendem aqui, to novo - dou um sorriso descontraído e ela faz uma cara de preocupação

Antes de entrar no quarto de Juliana, ela suspira e olha pra mim.

— Minha filha passou por muita coisa Beto, ela vai precisar tanto de voce... nunca a deixe, mesmo que ela peça- em seguida sem esperar a minha resposta, ela entra no quarto

Como assim deixar Juliana? Isso nunca se passou pela minha cabeça. Tem algo estranho.

...
— ela deve ter passado muita coisa lá, a gente não sabe o que aconteceu... - João diz