prólogo.

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                                        Maraisa
                                            2015.

Antes de minha mãe falecer, há cinco anos, ela deu três presentes para mim e minhas irmãs. Na varanda da casa da minha irmã Mari está o presente dela, a cadeira de balanço feita de madeira, pois nossa mãe vivia preocupada com o fato de sua mente estar sempre acelerada. Mari era a filha do meio e sempre tinha a sensação de que estava deixando de fazer algo, o que muitas vezes a deixava em um limbo. "Se você não parar de pensar demais nas coisas, sua cabeça vai ficar sobrecarregada, minha filha. Tudo bem se você desacelerar de vez em quando." Nossa mãe dizia. A cadeira de balanço era um lembrete para Mari não correr tanto, aproveitar mais a vida e não deixar que ela passasse sem ser vivida.
                                        
Nossa irmã mais velha, Maiara, ganhou uma caixinha de música com uma bailarina. Quando éramos crianças, ela sonhava em ser dançarina, mas à medida que os anos foram passando, ela desistiu desse sonho. Nossa mãe sempre foi um espírito livre, e Maiara começou a se ressentir da ideia de escolher uma carreira com base em suas paixões. Mamãe vivia da forma mais apaixonada possível e, às vezes, isso significava não saber se teríamos comida no jantar. Quando ela não conseguia pagar o aluguel, empacotávamos nossas coisas e íamos para a nossa próxima aventura.

Ela e Maiara brigavam o tempo todo. Eu achava que minha irmã se sentia responsável por nós, como se precisasse assumir o papel de mãe da própria mãe. Mari e eu éramos jovens e livres: adorávamos aventuras. Mas Maiara, não. Ela odiava não ter um lugar seguro, um Lar; odiava o fato de nossa mãe não ter uma vida estruturada. A liberdade dela era a sua prisão, e Maiara detestava isso. Assim que pôde, ela nos deixou e se tornou uma advogada de sucesso. Eu nunca soube o que aconteceu com a caixinha de música, mas eu tinha esperanças de que ela ainda a guardasse.

— "Dance sempre, Maiara" , minha mãe dizia. "Dance sempre."

O presente que ela me deixou foi seu coração.
Era uma pequena joia que ela usava no pescoço desde adolescente, e eu me senti honrada por recebê-la. "É o coração da nossa família", ela disse.

"De um espírito livre para outro, para que você nunca se esqueça de amar intensamente, minha Maraisa. Preciso que você mantenha a nossa família unida e esteja sempre ao lado de suas irmas nos momentos difíceis, está bem? Você será o porto seguro delas. Sei que será assim, porque o amor que existe dentro de você já é intenso demais. Mesmo as almas mais sombrias conseguem se iluminar com o seu sorriso. Você protegerá essa família, Mara. tenho certeza disso, e é por essa razão que não tenho medo de dizer adeus."

O cordão não saiu do meu pescoço desde que ela faleceu, e naquela tarde de verão eu o segurava com firmeza ao olhar fixamente para a cadeira de balanço da Mari. Ela havia ficado muito abalada com a morte da nossa mãe, e tudo o que havia aprendido sobre espiritualidade e liberdade parecia não fazer mais sentido.

- Ela era tão jovem - disse Mari no dia que mamãe morreu. Minha irmã acreditava que todo mundo deveria viver para sempre. - Não é justo - gritou ela.

Eu tinha apenas 18 anos, e Mari, 20. Na época, parecia que o sol havia sido roubado de nós, e não tínhamos ideia de como seguiríamos em frente.

Maktub sussurrei, abraçando-a bem forte. A palavra estava tatuada em nossos pulsos, e significa "está escrito". Tudo na vida acontecia por uma razão, exatamente como tinha que ser, não importava o quanto fosse doloroso. Algumas histórias de amor estavam destinadas a durar para sempre; outras, apenas um verão. O que Mari havia esquecido era que a história de amor entre uma mãe e uma filha dura para sempre, atravessa todas as estações.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora