capítulo 12.

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Noite de Ano-Novo.

— O livro entrou para a lista de best-sellers do New York Times justo hoje. Sabe o que isso significa, Marília? — perguntou Rebecca, forrando a mesa de jantar com uma toalha nova.

— Mais uma razão para o papai ficar bêbado e convidar as pessoas para virem aqui em casa - murmurou ela, apenas para que ela ouvisse. Ela deu uma risadinha e pegou o caminho de mesa.
Entregou a ela uma ponta e segurou a outra.

— Não vai ser tão ruim esse ano. Ele não tem bebido tanto ultimamente. — Pobre, doce e ingênua Rebecca, pensou Marília. Ela devia estar fazendo vista grossa para as garrafas de uísque guardadas na gaveta da escrivaninha do seu pai. Enquanto ela a ajudava a arrumar a mesa de jantar para os dezesseis convidados que chegariam dentro de duas horas, seus olhos percorreram a sala. Rebecca estava morando com ela e o pai havia dois anos, e ela nunca tinha imaginado que poderia ser tão feliz. Quando seu pai ficava zangado, Marília buscava apoio no sorriso de Rebecca. Ela era o lampejo de luz durante as tempestades. Além disso, todo ano ela ganhava um bolo de aniversário.

Ela estava linda naquela noite, com seu vestido elegante de Ano-Novo. Quando ela caminhava, o vestido dourado acompanhava seus movimentos, arrastando-se no chão atrás dela. A mulher usava sapatos de salto alto que alongavam o seu corpo pequeno, mas, ainda assim, parecia bem mignon.

— Você está bonita — elogiou Marília, fazendo-a olhar para ela com um sorriso.

— Obrigada, Marília. Você também está muito bonita. — Ela sorriu também, porque ela sempre a fazia sorrir.

— Você acha que vai vir alguém da minha idade hoje à noite? — perguntou. Ela odiava o fato de todas as festas sempre terem só adultos.

— Acho que não — respondeu Rebecca. — Mas talvez amanhã eu possa levar você para encontrar seus amigos. — Isso deixou Marília feliz. Seu pai sempre estava muito ocupado para levá-la aos lugares, mas Rebecca sempre arranjava tempo. Por um momento, ela olhou para o relógio sofisticado em seu pulso, que o pai da menina havia lhe dado de presente depois de uma das muitas brigas que tinham.

— Você acha que ele ainda está trabalhando? - perguntou ela, franzindo o cenho.

— Aham.

— Será que devo interromper? — Ela mordeu o lábio inferior.

— Hum-hum. — Ela fez que não com a cabeça.

Rebecca atravessou a sala, ainda olhando o relógio.

— Ele vai ficar zangado caso se atrase... Vou verificar. — Ela caminhou até o escritório, e bastaram alguns segundos para que Marília ouvisse os gritos.

— Estou trabalhando! O próximo livro não se escreverá sozinho, Rebecca! — berrou Mário, pouco antes de a madrasta voltar correndo para a sala de jantar, visivelmente abalada, os lábios contraídos.
Ela sorriu para Marília e deu de ombros.

— Sabe como ele fica quando tem um prazo a cumprir — disse, inventando uma desculpa.

Marília fez que sim com a cabeça. Ela sabia mais do que ninguém. Seu pai era um monstro, especialmente quando tinha passado do prazo de entrega de algum livro. Mais tarde, naquela noite, poucos minutos antes de os convidados começarem a chegar, Mário vestiu seu terno de grife.

— Por que não me chamou antes? — gritou ele com Rebecca enquanto ela arrumava os aperitivos na sala de estar. — Eu estaria atrasado se não tivesse visto a hora quando fui ao banheiro. Marília virou de costas para o pai e revirou os olhos. Ela sempre tinha que virar de costas para poder fazer isso, caso contrário, apanharia.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora