capítulo 26.

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Marília Mendonça.
˚.

— Você deveria ligar para ela — sugeri a Maraisa enquanto ela perambulava pela casa, arrumando coisas para se manter ocupada. Ela e a irmã só conversavam sobre coisas relacionadas ao trabalho havia algum tempo, mas, aparentemente, elas tiveram uma grande discussão. Eu tinha certeza de que os motivos corroíam Maraisa por dentro, mas ela fazia o possível para não falar sobre o assunto.

— Está tudo bem. Estamos bem — garantiu Maraisa.

— Mentirosa.

Ela se virou para mim e levantou a sobrancelha.
— Você não tem um livro para terminar?

Sorri diante de sua impertinência. Adorava essa faceta da personalidade dela. Adorava tudo relacionado á ela.

— Só estou dizendo que você sente falta da sua irmã.

— Não é verdade — respondeu Maraisa, sua expressão demonstrando o completo oposto de suas palavras. Ela mordeu o lábio inferior. — Acha que ela está feliz? Acho que não. Não importa. Não quero falar sobre isso.

— Marai...

— Quero dizer, ele a abandonou nos piores dias da vida dela. Quem faz uma coisa dessas?! Deixa pra lá, a vida é dela. Cansei de falar sobre isso.

— Está bem.

— Quero dizer, ele é um monstro! E sequer é um monstro bonitinho! Eu odeio ele, e estou furiosa com Mari por ter preferido Ulísses a mim, a nós. E hoje é o primeiro aniversário da Sophia, e Mari nem vai estar aqui! Não acredito que... Ah, merda! — gritou ela, correndo para a cozinha. Fui atrás de Maraisa e vi quando ela tirou o bolo de chocolate, que estava bastante queimado, do forno. — Não, não, não. — Ela colocou o tabuleiro sobre o balcão.

— Respire — falei, parando atrás dela e pousando as mãos em seus ombros. Os olhos dela se encheram de lágrimas, e eu ri. — É só um bolo, Mara. Está tudo bem.

— Não, não está — contestou ela, virando-se para olhar para mim. — Nós íamos fazer um mochilão pela Europa. Começamos a juntar o dinheiro quando ela ficou doente. Criamos um pote de vidro chamado "Pensamentos Negativos", e toda vez que pensávamos algo ruim sobre o diagnóstico dela ou toda vez que o medo nos dominava, colocávamos uma moeda no pote. Depois da primeira semana, o pote já estava cheio até a tampa, e nós começamos outro. Ela queria viajar logo depois do câncer ter entrado em remissão, mas eu estava com muito medo. Tinha receio de que ela não estivesse forte o suficiente, de que estivesse muito cedo, então a mantive em casa. Não viajamos porque eu não tinha coragem suficiente de entrar num avião com ela. - Engoli em seco. - E agora nós não estamos nos falando.

— Ela é a minha melhor amiga.

— Ela vai voltar a ser o que era.

— Eu a convidei para vir à festa de Sophia. Isso foi o que começou a discussão.

— Por que isso foi um problema?

— Ela... - A voz de Maraisa se desvaneceu, e ela respirou fundo. — Ela acha que isso é errado, você, eu e Sophia. Acha que é esquisito.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora