capítulo 15.

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Marilia Mendonça

O professor Oliver estava sentado à mesa do escritório diante de mim, seus olhos percorrendo o primeiro esboço dos capítulos dezessete a vinte do meu romance. Eu o aguardava, impaciente, enquanto ele virava as páginas devagar, lendo com atenção. De vez em quando, ele me olhava de relance, murmurava alguma coisa baixinho e voltava à leitura. Quando finalmente terminou, colocou os papéis de volta na mesa e permaneceu em silêncio. Esperei, arqueei a sobrancelha e, mesmo assim, ele não disse nada.

— E aí? — perguntei. Ele tirou os óculos e cruzou as pernas. Com uma voz bem calma, finalmente falou.

— É como se um macaco tentasse escrever em um monte de merda com o rabo.

— Não está tão ruim assim — argumentei.

— Ah, não. Está pior.

— Qual é o problema?

— Está muito fofo. Muita gordura, pouca carne.

— É o primeiro rascunho. Supostamente é para ser uma merda.

— Sim, mas uma merda humana, não merda de macaco. Marília, você é uma autora best-seller do New York Times. Também é best-seller no Wall Street Journal. Tem milhões de dólares na conta bancária, dinheiro ganho com sua habilidade em criar histórias, e há fãs no mundo todo que tatuam trechos de seus livros. Então, é uma vergonha você ter a audácia de me entregar essa porcaria. — Ele se levantou e ajeitou o terno de veludo.

— Sophia pode escrever algo melhor do que isso.

— Você está de brincadeira... Você leu a parte sobre o leão? — Ollie revirou os olhos de forma tão intensa que achei que seus globos oculares ficariam para sempre voltados para a parte de trás da cabeça.

— Por que tem um leão solto na Baía de Tampa?! Não. Simplesmente, não. Encontre um jeito de relaxar, está bem? Você precisa se soltar, se libertar um pouco. Você escreveu como se estivesse no meio de um exame de ginecológico. — Pigarreei.

— Isso é uma coisa realmente estranha de se dizer.

— Sim, bem, pelo menos eu não escrevo merda de macaco.

— Não. - Sorri. - Você só fala.

— Preste bastante atenção, está bem? Como padrinho de Sophia, tenho muito orgulho de você, Marília.

— Desde quando você é padrinho dela?

— É um título autoproclamado, e não me contrarie, filha. Como eu estava dizendo, tenho muito orgulho da mãe que você é para a sua filha. Você passa cada minuto do seu dia cuidando dela, o que é fantástico, mas, como seu mentor literário, exijo que você reserve um tempo para si. Vá fumar crack, transar com uma estranha ou comer alguns cogumelos esquisitos. Apenas relaxe um pouco. Isso vai ajudá-la a escrever suas histórias.

— Nunca precisei disso antes.

Você transava antes? - perguntou ele.

Porra.

— Tchau, Marília, e, por favor, não me ligue até que você esteja chapada ou fazendo sexo.

— Com certeza eu não vou ligar para você enquanto estiver fazendo sexo.

— Claro que não — respondeu Ollie, pegando o chapéu fedora de cima da mesa e colocando-o na cabeça. — Com certeza não duraria tempo suficiente para você discar o meu número - zombou.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora