capítulo 18.

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Carla Maraisa.
˚.

— Preciso fazer uma parada para comprar fraldas. Espero que não tenha problema — disse Marília, estacionando o carro em frente a um mercado vinte e quatro horas.

— Está bem.

Ela entrou apressada. Depois de alguns minutos, saiu do mercado, colocou as sacolas no porta-malas e voltou para o carro.

— Muito bem — disse, engatando a marcha. - Qual é o caminho até a cabana?

— O quê?

— Perguntei o caminho. Para visitar a árvore da sua mãe.

Senti um aperto no peito. Olhei para Marília paralisada, as palavras ecoando em minha mente.

— O quê? De jeito nenhum, Marília. Você já está atrasada com o livro, e não consigo nem imaginar você dirigindo para tão longe só para...

— Carla Maraisa Henrique Pereira.

— Sim, Marília Dias Mendonça?

— Você nunca passou um feriado sem visitar a sua mãe, certo?

— Certo.

— Então... Qual é o caminho?

Fechei os olhos e senti meu coração acelerar ao me dar conta de que Marília não ia desistir tão fácil. Eu não tinha dito uma palavra sequer sobre o quanto lamentava não ver minha mãe naquele dia. Não tinha dito nada sobre o quanto havia sido difícil presenciar o amor que Susie e Karla sentiam por Mary. Uma lágrima rolou por meu rosto, e um sorriso se formou em meus lábios.

— Pode pegar a rodovia 43 na direção norte por duas horas.

— Perfeito — disse ela, saindo do estacionamento.
Quando abri os olhos, olhei de relance para Sophia, que dormia no banco de trás, e levei as mãos ao pingente em forma de coração. Quando chegamos, tudo estava um completo breu, até eu ligar a extensão na tomada que havia do lado de fora da cabana. A árvore se iluminou com as pequenas lâmpadas brancas que Mari e eu havíamos pendurado nela em dezembro, quando a visitamos no Natal. Fui até ela e parei, observando as luzes piscarem. Eu me sentei no chão e entrelacei as mãos. Observar aqueles belos galhos me trazia um misto de tristeza e felicidade. Tristeza porque cada dia que ela crescia representava um dia sem a minha mãe, e isso era muito doloroso. E felicidade porque eu adorava vê-la na primavera, quando estava começando a florescer.

— Ela é linda — elogiou Marília, aproximando-se com Sophia aconchegada em seu colo.

— Não é?

— A filha tem a quem puxar.

— A neta também.

Ela tirou um pacote de balas de alcaçuz de dentro do bolso do casaco, fazendo meu coração quase parar de bater.

— Você comprou isso quando foi ao mercado? - perguntei.

— Só queria que o dia de hoje fosse bom para você.

— Está sendo — respondi, emocionada com a gentileza dela. — Está sendo um ótimo dia.

Ficamos ali por alguns minutos, observando, respirando, existindo. Até que Marília pegou o celular e colocou "Heart Like Yours", de Willamette Stone para tocar. (deem play na música.)

— Você disse que ela ia gostar. — Mais uma vez, comecei a chorar. Foi maravilhoso.

— Somos amigas, Maraisa? - perguntou Marília. Eu me virei para ela, o coração acelerado.

— Sim.

— Então posso contar um segredo?

— Sim, é claro. Qualquer coisa.

— Depois que eu contar isso a você, preciso que finja que eu nunca disse nada, está bem? Se eu não falar agora, tenho medo de que o sentimento cresça e me deixe ainda mais confusa do que estou. Então, depois que eu contar meu segredo, preciso que você volte a ser minha amiga, porque essa amizade me torna uma pessoa melhor. Você faz de mim um ser humano melhor.

— Marília...

Ela se virou e colocou Sophia para dormir no bebê conforto.

— Só me diga uma coisa. Você sente algo? Você sente algo mais do que amizade quando eu faço isso? — Ela segurou minha mão.

Nervosismo.

Marília chegou mais perto, e nossos corpos ficaram mais próximos do que nunca.

— Você sente algo quando eu faço isso? — sussurrou ela, acariciando meu rosto com as costas da mão. Fechei os olhos.

Arrepios.

As breves expirações de Marília pairavam sobre os meus lábios, misturando-se ao ar que eu inspirava. Eu não podia abrir os olhos, porque, se fizesse isso, veria seus lábios e, então, desejaria ficar ainda mais perto dela. Eu não podia abrir os olhos, porque eu mal consequiria respirar.

— Sente alguma coisa quando estamos assim, tão perto uma da outra? — perguntou ela com suavidade.

Excitação.

Abri os olhos e pisquei uma vez.

— Sim, sinto. — Uma onda de alívio percorreu o corpo dela, que tirou dois pedaços de papel do bolso do vestido que estava usando.

— Fiz duas listas ontem. Fiquei sentada o dia todo, enumerando todas as razões pelas quais eu não deveria me sentir dessa forma com relação a você, e essa lista é longa. Coloquei nela todos os detalhes, todos os motivos pelos quais esse sentimento, qualquer que seja ele, é uma má ideia.

— Entendo, Marília. Você não precisa se explicar. Sei que não podemos..

— Não, espere. Ainda tem a outra lista. É menor, muito menor, mas nela tentei não ser tão racional. Tentei ser como você.

— Como eu? O que isso quer dizer?

— Tentei sentir. Imaginei como seria ser feliz, e acho que você é a definição de felicidade. — Os olhos escuros dela encontraram os meus, e ela pigarreou duas vezes.

— Tentei listar as coisas boas da minha vida, além da Sophia, é claro. É uma lista pequena, de verdade, só tem dois itens até agora e, estranhamente, começa e termina com você. — Meu coração estava disparado, minha cabeça girava mais rápido a cada segundo.

— Eu e eu? - perguntei, sentindo o calor do corpo dela. Senti as palavras dela acariciando a minha pele e se entranhando profundamente em minha alma.

Os dedos dela percorreram meu pescoço.

— Você e você.

Mas... — Maiara. — Não podemos.

— Eu sei. É por isso que, depois que eu te contar essa última coisa, preciso que você finja que somos apenas amigas. Preciso que esqueça tudo o que eu disse essa noite. Mas primeiro preciso te contar isso.

— O que é, Marília?

Ela se afastou lentamente de mim e encarou as luzes que piscavam na árvore. Eu a observei enquanto ela movia os lábios bem devagar.

— Estar perto de você provoca algo estranho em mim, algo que não acontecia havia muito tempo.

— O que é?

Ela segurou a minha mão e a levou ao seu peito, e as palavras seguintes foram proferidas num sussurro.

— Meu coração começa a bater de novo.

˚.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora