capítulo 14.

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Carla Maraisa.

Ai, ai, ai.
Eu me sentei devagar e logo me dei conta de que aquela não era a minha cama. Meu olhar percorreu o quarto, e me remexi sob os lençóis. Levei as mãos à testa. Ai! Minha cabeça girava, e tentei me lembrar do que tinha acontecido na noite anterior. Tudo parecia um borrão. O fato principal, porém, logo caiu como uma bomba em cima de mim:
Richard tinha me trocado por Nova York.
Olhei para o lado e encontrei uma bandeja com um copo de suco de laranja, duas torradas, uma tigela de frutas vermelhas, um analgésico e um bilhetinho na mesinha de cabeceira.

"Desculpe por desviá-la do bom caminho ontem à noite. Sou uma idiota. Aqui estão um remédio e o café da manhã como forma de me redimir por fazê-la se sentir um lixo.
Marília."

Sorri e coloquei algumas frutinhas na boca antes de tomar o analgésico. Eu me levantei, fui até o banheiro e lavei o rosto — meu rímel estava todo borrado, e eu parecia um guaxinim. Na primeira gaveta, encontrei a pasta de dentes e coloquei um pouco no dedo. Em seguida, usei-o como escova, tentando, assim, acabar com o terrível hálito matinal pós-uísque. Quando terminei, ouvi Sophia chorando e corri para ver como ela estava. Mas, ao entrar no quarto, deparei-me com uma senhora inclinada sobre ela, trocando a fralda.

— Olá? — perguntei. A mulher se virou por um momento e depois voltou para a sua tarefa.

— Ah, olá, você deve ser a Maraisa. — disse a mulher, colocando Sophia no colo e embalando a garotinha risonha. Ela se virou para mim novamente e deu um sorriso amplo. — Sou Mary, mulher de Ollie.

— Ah, oi! É um prazer conhecê-la.

—  O prazer é todo meu, querida. Ollie me falou muito de você. Marília nem tanto, mas, bem, você conhece a Marília. — Ela piscou. — Como está a cabeça?

— Não sei como, mas ainda está aqui. Foi uma noite difícil.

— Vocês, jovens, e seus mecanismos de compensação. Espero que se sinta melhor logo.

— Obrigada. Hum, onde está a Marília?

— No quintal. Ela me ligou de manhã e me pediu que viesse tomar conta da Sophia enquanto realizava algumas tarefas. Como deve saber, o fato de ela pedir ajuda é um grande acontecimento, então vim cuidar da bebê enquanto ela estava fora e você descansava.

— Foi você quem deixou o café da manhã para mim? Com o bilhete?

Mary negou com a cabeça.
— Não. Aquilo foi ideia da Marília. Eu sei, fiquei tão surpresa quanto você. Não sabia que ela era capaz disso.

— O que ela está fazendo no quintal? — perguntei, indo naquela direção.

Mary me seguiu, embalando Sophia durante todo o caminho. Fomos até o jardim de inverno e olhamos pelas janelas que iam do chão ao teto. Marília estava cortando a grama. Junto ao pequeno galpão havia sacos de terra e pás.

— Bem, parece que ela está dando um jeito no jardim. — Senti meu coração bater mais forte e fiquei sem palavras.

— Eu disse a ela que esperasse um pouco para cortar a grama, já que choveu bastante ontem à noite, mas ela parecia ansiosa para começar — disse Mary.

— Isso é incrível.

— Também acho.

— Posso cuidar da Sophia agora, se você precisar ir embora — ofereci.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora