capítulo 13.

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Marília Mendonça
˚.

Maraisa e eu voltamos à nossa rotina normal. Pelas manhãs, ela aparecia com o seu tapete de ioga e fazia sua meditação no jardim de inverno. Quando não estava trabalhando em algum evento especial, voltava para minha casa à noite para ajudar a cuidar de Sophia enquanto eu trabalhava no meu romance. Jantávamos juntas quase todas as noites, mas não tínhamos muito assunto além do resfriado que eu e Sophia pegamos.

— Beba — ordenou Maraisa, trazendo-me uma caneca de chá.

— Não tomo chá — protestei, tossindo. Minha mesa estava uma bagunça, com lenços de papel e vidros de xarope espalhados.

— Você vai tomar isso duas vezes ao dia, por três dias, e vai se sentir cem por cento melhor. Não faço ideia de como você ainda consegue trabalhar com essa tosse horrorosa. Então, beba. — Cheirei o chá e fiz uma careta. Ela riu. — Canela, gengibre, limões frescos, pimenta-de-caiena, açúcar, pimenta-preta, extrato de hortelã e um ingrediente secreto.

— Esse deve ser o cheiro do inferno.

Ela assentiu, com um sorrisinho irônico nos lábios.

— Uma bebida perfeita para o diabo em pessoa. - Tomei o chá por três dias seguidos. Ela praticamente me forçou a beber, mas, no quarto dia, a tosse havia desaparecido.

Eu tive quase certeza de que Maraisa era uma bruxa, mas, com o chá, fui capaz de clarear a mente pela primeira vez em semanas. No sábado à noite, o jantar estava servido, e quando fui chamá-la para comer, notei que ela estava no jardim de inverno falando ao celular. Em vez de interrompê-la, esperei pacientemente até que o frango assado ficasse frio.

O tempo passou, e Maraisa ficou ao celular por horas. Seus olhos estavam fixos na chuva que caía lá fora enquanto ela movia os lábios, falando com quem quer que fosse do outro lado da linha. Eu passava pelo jardim de inverno de vez em quando, observando como ela gesticulava. O rosto estava banhado de lágrimas, que caíam copiosamente, assim como a chuva. Depois de algum tempo, ela desligou o telefone e se sentou no chão com as pernas cruzadas, olhando para fora através da vidraça. Quando Sophia adormeceu, fui ver como ela estava.

— Você está bem? — perguntei, preocupada ao ver como uma pessoa tão radiante quanto Maraisa poderia ter ficado tão triste. Era como se ela tivesse se mesclado às nuvens cinzentas.

— Quanto eu te devo? - perguntou, sem olhar na minha direção.

— Quanto me deve? - Ela se virou e fungou, ainda chorando.

— Você apostou comigo que meu relacionamento acabaria em, no máximo, um mês, e você ganhou. Então, quanto eu te devo? Você ganhou.

Mara... - comecei, mas ela fez que não com a cabeça.

— Ele... Ele disse que Nova York era o lugar certo para os artistas. Que é o melhor lugar para aprimorar sua arte e que há oportunidades lá que ele não teria no centro-oeste. — Ela fungou novamente e limpou o nariz na manga da blusa. —Richard disse que o amigo ofereceu o sofá do apartamento para ele dormir, então ele vai ficar lá por um tempo. Falou que não estava interessado em manter um relacionamento a distância. Então meu coração idiota ficou balançado, achando que ele estava me convidando para morar lá com ele. Sei o que você está pensando. — Ela riu, nervosa, e deu de ombros. Bobinha, imatura e inocente Mara, acreditando que o amor seria suficiente, que era merecedora de ficar com alguém para sempre.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora