capítulo 3

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Sorri comigo mesma e balbuciei:

— Prazer em conhecê-lo também. — Quando voltei para a van e fui até a esquina, percebi que não éramos a única floricultura contratada. Três furgões estavam esperando na minha frente, e eles não tinham autorização para entrar; havia funcionários coletando os arranjos na porta. Antes mesmo que eu pudesse estacionar, os empregados foram até a parte de trás da van e bateram nas portas para que eu as abrisse.

Assim que abri, eles começaram a retirar as flores sem muito cuidado, e eu me retraí ao ver o modo como uma das mulheres manuseava a coroa de rosas brancas. Ela a jogou sobre o braço, destruindo as molucelas.

— Cuidado! - gritei, mas todo mundo parecia ter ficado surdo. Quando terminaram, bateram as portas da van, assinaram o recibo e me entregaram um envelope.

— O que é isso?

— Ainda não te disseram? — A mulher suspirou, e então colocou as mãos nos quadris. — As flores são só para decorar o local, e a filha do Sr. Mario quer que sejam devolvidas depois da cerimônia. Aqui há um ingresso para o evento, junto com um acesso aos bastidores para retirar seu produto. Caso contrário, elas irão para o lixo.

— Para o lixo? - perguntei. - Que desperdício!

A mulher ergueu a sobrancelha.

— Sim, porque com certeza as flores não estarão mortas - disse ela com sarcasmo. - Pelo menos assim você poderá revendê-las.

Revender flores de um funeral? Isso era bem mórbido.

Antes que eu pudesse responder, ela me dispensou com um gesto.

Abri o envelope e encontrei o meu ingresso e um cartão que dizia: "Depois da cerimônia, por favor, apresente este cartão para recolher os arranjos de flores. Caso contrário, eles serão descartados."

Li o ingresso várias vezes.
Um ingresso.
Para um funeral.

Nunca vi um evento tão insólito. Quando virei a esquina para voltar para a rua principal, notei que mais pessoas haviam se aglomerado ali e estavam colando bilhetes nas paredes.

Minha curiosidade só aumentou, e depois de dar algumas voltas ali em busca de uma vaga, entrei em um estacionamento. Parei a van e fui tentar descobrir o que toda aquela gente estava fazendo ali e de quem era aquele funeral. Ao chegar à calçada lotada, notei uma mulher ajoelhada, escrevendo em um pedaço de papel.

— Com licença - falei, cutucando seu ombro. Ela olhou para mim com um sorriso radiante no rosto. - Desculpe incomodar, mas... de quem é esse funeral?
Ela se levantou, ainda sorrindo.

— Mário Mendonça, o escritor.

- Ah, não é possível.

— Pois é. Todo mundo está escrevendo algumas palavras em homenagem a ele, dizendo como ele salvou vidas e tal, e colando nas paredes do prédio, mas, cá entre nós, estou mais animada para ver M. D. Mendonça. Só é uma pena que tenha que ser num evento como esse.

— M. D Mendonça? Espera aí, a melhor escritora de terror e suspense de todos os tempos? - perguntei, e finalmente a ficha caiu. - Meu Deus! Eu adoro a M.D Mendonça!

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora