capítulo 4.

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Marília Dias Mendonça.
Parada bem ali, atrás de mim.

— Não faça isso - falou, notando que eu a olhava fixamente. — Pare de ficar me encarando.

— Espere, espere! A porta... — Levantei rápido e, antes que eu pudesse dizer a ela que segurasse a porta, escutei-a batendo com força. — ... só abre por dentro.

Ela arqueou a sobrancelha, processando minhas palavras. Em seguida, tentou girar a maçaneta e soltou um suspiro.

— Isso só pode ser brincadeira. — Ela a puxou várias vezes, mas a porta não abria. — Está trancada.

— Sim, está — confirmei. Ela remexeu nos bolsos da calça.

— E meu celular está no paletó, que está pendurando em uma cadeira lá dentro.

— Sinto muito. Eu emprestaria o meu, mas está descarregado.

— Claro - respondeu, mal-humorada. - Porque esse dia não poderia ficar pior.

Marília bateu na porta por algum tempo, em vão, e então começou a xingar o universo por ter uma vida de merda. Ela andou até o outro lado da área gradeada e levou as mãos à nuca. Parecia completamente exausta por causa dos acontecimentos do dia.

— Eu realmente sinto muito — sussurrei, minha voz tímida e baixa. O que mais eu poderia dizer? — Sinto muito por sua perda.

Ela deu de ombros, desinteressada.

— As pessoas morrem. É um aspecto bastante comum na vida.

— Sim, mas isso não torna as coisas mais fáceis e, por isso, eu sinto muito. — Ela não respondeu, mas também não precisava dizer nada. Eu ainda me sentia maravilhada por estar tão perto dela. Pigarreei e continuei a falar, porque eu não sabia ficar em silêncio.

— Foi um belo discurso. — Ela me fitou com frieza antes de virar a cabeça para o outro lado. Continuei:

- Você realmente demonstrou que seu pai foi um homem bom e gentil, que mudou sua vida e a de outras pessoas. Seu discurso de hoje à noite... foi simplesmente... — Fiz uma pausa, procurando a palavra certa para descrever o discurso fúnebre dela.

— Uma bobagem - concluiu Marília.

Eu me empertiguei.

— Como?

— Aquele discurso foi uma grande bobagem.

— Alguém o deixou lá fora. Um estranho o escreveu e colou na parede do estádio, alguém que provavelmente nunca passou dez minutos na mesma sala que o meu pai, porque, se tivesse feito isso, saberia a merda de pessoa que Mário Mendonça era.

— Então você plagiou o discurso que fez no funeral do seu pai?

— Quando você fala assim, parece terrível - retrucou ela, seca.

— Provavelmente porque é terrível mesmo.

— Meu pai foi um homem cruel que manipulava as situações e as pessoas de forma que pudesse ganhar dinheiro com elas. Ele ria do fato de os leitores pagarem pelas merdas que ele escrevia em seus livros de autoajuda e por viverem seguindo as orientações daqueles lixos. Sabe o Trinta dias para ter uma vida sóbria? Ele escreveu aquilo quando estava bêbado feito um gambá. Eu tive que ajudá-lo a se levantar do próprio vômito mais vezes do que tenho vontade de admitir. Cinquenta maneiras de se apaixonar? Ele transou com prostitutas e demitiu assistentes pessoais que se recusaram a dormir com ele. Mário era um lixo, uma piada, e tenho certeza de que não salvou a vida de ninguém, como tantas pessoas me disseram, comovidas, essa noite. Ele usou todos vocês para comprar um iate e pagar por muitas noites de sexo.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora