Marília Mendonça
₊˚.༄Naquela noite, acordei de um sonho para viver um pesadelo. O lado esquerdo da minha cama estava vazio, e Maraisa estava num avião, indo para longe de mim. Quando o táxi estacionou na frente de casa, precisei reunir todas as forças para não implorar a ela que ficasse. Precisei me esforçar muito para não fraquejar. Se ela tivesse ficado, eu nunca mais a deixaria partir. Teria começado do zero, teria aprendido a amá-la ainda mais, estaria agora andando nas nuvens. Mas eu sabia que ela não podia ficar. Ela não podia. Na situação atual, não havia como mantê-la por perto e dar todo o amor que ela merecia. Ela era a minha liberdade, mas eu era a sua prisão. Continuei deitada na cama, sentindo um aperto no peito, angustiada, e quase desmoronei ali mesmo. Quase deixei que meu coração se tornasse duro novamente, como era antes de Maraisa entrar em minha vida. Mas uma linda garotinha começou a chorar, e eu fui até ela. Assim que cheguei, Sophia pediu colo e imediatamente ficou quieta.
- Oi, meu amor - sussurrei ao abraçá-la, apoiando a cabeça dela em meu peito.
Fomos para o meu quarto e nos deitamos. Em questão de minutos, ela voltou a dormir. Sua respiração era tranquila, e ela roncava bem baixinho quando a abracei novamente. Foi nesse momento que lembrei por que desmoronar não era uma opção, por que eu não podia me permitir afundar na solidão - eu não estava sozinha. Eu tinha a mais bela razão para seguir em frente.
Sophia era a minha salvadora, e eu tinha prometido a mim mesma ser uma boa mãe. Qualquer mulher podia ter filhos. Mas somente uma mulher de verdade podia exercer o papel de mãe. E eu devia isso a ela. Minha garotinha merecia que eu fosse dela por inteira. Quando ela se agarrou a minha camisa e encontrou conforto em seus sonhos, eu me permiti descansar também.
Eu me surpreendia com o amor. Eu me surpreendia ao perceber como o meu coração podia estar tão devastado e, ao mesmo tempo, tão completo.
Naquela noite, meus piores pesadelos e meus sonhos mais bonitos se misturaram, e eu abracei minha filha como um lembrete do motivo pela qual eu precisava levantar todas as manhãs, assim como o sol.₊˚.༄
Cecília voltou para casa na semana seguinte e acomodou-se em um lar que não lhe oferecia mais amor. Logo começou a agir como se soubesse o que estava fazendo, e todas as vezes que ela pegava Sophia no colo, eu estremecia.
- Talvez nós três pudéssemos sair para jantar, Marília - disse ela ao desfazer as malas no meu quarto. Não me importava com o fato de ela querer dormir ali; eu ficaria no quarto da minha filha. -
- Pode ser bom para nós retomarmos nossa relação.
- Não.
Ela olhou para mim, perplexa.
- O quê?
- Eu disse que não.
- Marília...
- Só quero deixar algumas coisas bem claras aqui, Cecília. Eu não escolhi você. Não quero nada com você. Pode morar na minha casa, pode segurar a minha filha no colo, mas você precisa entender que não há uma célula do meu corpo que queira você. - Cerrei os punhos e franzi o cenho. - Eu escolhi Sophia. Escolhi minha filha. Vou escolhê-la sempre pelo resto da vida porque ela é tudo para mim. Então, vamos parar de fingir que seremos felizes. Você não é o último parágrafo da minha história. Você é simplesmente um capítulo que eu gostaria de ter deletado.
Dei as costas e me afastei dela, deixando-a aturdida, mas eu não me importava. Passaria o máximo de tempo possível com a minha filha.
Um dia, de alguma maneira, Maraisa voltaria para nós. Porque ela sempre seria o último parágrafo da minha história.₊˚.༄
- Você não deveria estar aqui - disse Mari quando entrei na Jardins de Monet. Tirei o óculos escuro e assenti.
- Eu sei.
— Você deveria mesmo ir embora. Não me sinto confortável com a sua presença. - Fiz que sim com a cabeça mais uma vez.
- Eu sei. - Mas continuei ali, porque, às vezes, a coisa mais corajosa a fazer era ficar. - Ele te ama?
- Como é?
- Perguntei se ele te ama. Você o ama? - Tirei o par de óculos e os coloquei entre a camisa.
- Olha...
- Ele faz você rir tanto que a sua barriga chega a doer? Quantas piadas internas vocês têm? Ele tenta mudar você ou tenta inspirá-la? Você é boa o suficiente para ele? Ele faz com que você se sinta merecedora do amor dele? Ele é bom o suficiente para você? Você, às vezes, deita na cama ao lado dele e se pergunta por que ainda está lá? - Fiz uma pausa. - Você sente falta dela? Ela te fazia rir a ponto de a barriga doer? Quantas piadas internas vocês tinham? Ela tentou mudar você ou inspirá-la? Você foi boa o suficiente para ela? Ela fazia com que você se sentisse merecedora de seu amor? Ela era boa o suficiente para você? Você, às vezes, se deita na cama e se pergunta por que ela teve que partir? - Durante as minhas perguntas, o corpo de Mari começou a tremer. Ela tentou dizer algo, mas não conseguiu. Então eu continuei a falar.
- Estar com alguém com quem você não deveria estar por medo de ficar sozinha não vale a pena.
Juro, você vai passar a vida toda se sentindo mais sozinha com ele do que sem ele. O amor não afasta as coisas. O amor não sufoca. Ele faz o mundo florescer. Ela me ensinou isso. Ela me ensinou o que é o amor, e tenho certeza de que fez o mesmo com você também.- Marília... - disse Mari suavemente, com lágrimas nos olhos. - Nunca amei a sua irmã mais velha. Estive entorpecida por anos, e Cecília foi somente uma forma que encontrei de me manter assim. Ela também nunca me amou, mas Mara... ela é tudo para mim. Ela é tudo de que eu precisava e muito mais do que mereço. Sei que talvez você não consiga entender isso, mas eu lutaria pelo coração dela pelo resto da vida, lutaria para ver seus lábios voltarem a sorrir. Então, estou aqui na sua loja, nesse exato momento, Mari, perguntando se você o ama. Se Ulísses é tudo o que você sabe que o amor pode ser, fique com ele. Se ele é a sua Mara, então não saia do lado dele nem por um segundo. Mas se ele não é... Se ainda há um pedacinho da sua alma que duvida de que ele seja o homem da sua vida, corra. Preciso que você corra para a sua irmã. Que você lute comigo pela única pessoa que sempre ficou ao nosso lado sem querer nada em troca. Não posso estar com ela agora, e ela está com o coração partido do outro lado do mundo. Então, essa sou eu, indo à luta por ela. Essa sou eu, implorando para que você a escolha. Ela precisa de você, Mari, e eu acho que o seu coração também precisa dela.
- Eu... - Mari começou a chorar e cobriu o rosto com as mãos. - As coisas que disse a ela... o modo como eu a tratei...
- Está tudo bem.
- Não está - disse ela, fazendo que não com a cabeça. - Ela era a minha melhor amiga, e eu a deixei de lado, não levei seus sentimentos em consideração. Escolhi os outros em vez dela.
- Você cometeu um erro.
- Foi uma escolha, e ela nunca vai me perdoar.
- Mari, é da Maraisa que estamos falando. Perdão é tudo o que ela conhece. Sei onde ela está agora. Eu vou ajudar você a chegar lá, e assim você poderá fazer o que for preciso para ter a sua melhor amiga de volta. Eu cuidarei de todos os detalhes. Tudo o que você precisa fazer é correr.
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A Força que Nos Atrai - Malila.
RomanceMarília e Maraisa não foram feitas uma para a outra. Mas é impossível resistir à atração que as une. Marília Mendonça é uma escritora atormentada, com o coração fechado para o mundo. Casada com Cecília, um relacionamento sem amor, ela vê sua vida vi...