capítulo 5.

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                                    Marília M.

— Sua irmã? - perguntei, repetindo as palavras de Maraisa.

Encarei, inexpressiva, minha esposa, que se mantinha calada.

— Desde quando você tem uma irmã?

— E desde quando você é casada e está esperando um filho? - indagou Maraisa.

— É uma longa história - respondeu ela baixinho, colocando a mão na barriga e se retraindo um pouco. - Marília, está na hora de irmos. Meus tornozelos estão inchados, e estou exausta.

Cecília — Maiara — dirigiu um olhar para Maraisa, que ainda parecia confusa. As duas tinham olhos da mesma cor, mas essa era a única semelhança entre elas. Em uma, o tom de chocolate era frio como o gelo, como sempre; na outra, era suave e cheio de ternura.

Eu não conseguia desviar os olhos de Maraisa enquanto minha cabeça trabalhava, tentando entender como alguém como ela podia ser parente de alguém como a minha esposa.

Se Cecília tinha um oposto, esse alguém era Maraisa.

— Marília — vociferou Cecília, finalmente desviando minha atenção da mulher de olhos ternos. Eu me virei para ela e arqueei a sobrancelha. Ela cruzou os braços acima da barriga e bufou. - Foi um dia longo, está na hora de irmos embora.

Cecília se virou, e já começava a se afastar quando Maraisa falou, olhando fixamente para a irmã:

— Você escondeu da gente, da sua família, grande parte da sua vida. Você nos odeia tanto assim?

Cecília parou por um momento e empertigou o corpo, mas permaneceu de costas.

— Vocês não são a minha família. — E, com isso, foi embora.

Fiquei ali parada por alguns segundos, sem saber ao certo se conseguiria mover os pés. Vi o coração de Maraisa se despedacar diante de mim. Ela desmoronou completamente, sem qualquer constrangimento. Uma onda de emoção tomou conta daqueles olhos gentis, e ela nem mesmo tentou impedir que as lágrimas escorressem pelo rosto. Ela permitiu que seus sentimentos a dominassem; não demonstrou qualquer resistência ao choro e aos tremores de seu corpo. Vi também como o mundo inteiro desabou sobre seus ombros e como o peso dele começou a se tornar insuportável. Maraisa se curvou, parecendo muito menor do que realmente era. Eu nunca tinha visto alguém sentir todas aquelas emoções tão livremente, não desde...
Pare. Minha mente viajou ao passado, até lembranças que eu tinha enterrado bem lá no fundo. Desviei meu olhar, desdobrei as mangas da camisa e tentei bloquear o som da dor que ela estava sentindo. Quando me movi em direção à porta, que o segurança ainda mantinha aberta, olhei de relance para a mulher que desmoronava na minha frente e pigarreei.

— Mara — chamei, ajeitando a gravata.

— Um pequeno conselho.

— Sim?

Ela se abraçou. Seu sorriso havia desaparecido, sendo substituído por uma expressão desoladora.

Sinta menos - falei. - Não permita que os outros mexam com as suas emoções desse jeito.

— Desligar os sentimentos?

Assenti.

— Não posso - justificou ela, levando as mãos ao coração e balançando a cabeça.

- Eu sou assim. Sou a
garota que sente tudo.

Eu jurava que era verdade.
Ela era a garota que sentia tudo, e eu era a mulher que não sentia absolutamente nada.

A Força que Nos Atrai - Malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora