Capitulo 30

43 5 0
                                    

Joaquim Miller

Depois da conversa com Melinda, minha mente estava a mil. Eu sabia que tinha feito a coisa certa, mas as palavras dela ecoavam na minha cabeça, fazendo-me questionar tudo. Não consegui ficar parado. Antes que percebesse, estava no carro, dirigindo em direção ao bar onde Rafael e Melinda estavam.

Estacionei do outro lado da rua, tentando decidir se entraria ou não. Parte de mim queria vê-la, falar com ela, mas outra parte sabia que eu precisava de tempo para processar tudo. No entanto, antes que pudesse decidir, vi Rafael e Melinda pela janela do bar, conversando.

Eles pareciam estar se divertindo, rindo de algo. Meu peito apertou ao ver a familiaridade entre eles. Melinda estava linda como sempre, com seu sorriso iluminando todo o ambiente. Eu não conseguia desviar o olhar. Sem pensar, desci do carro e me aproximei do bar, tentando me manter discreto.

Fiquei perto da porta, onde podia ouvir parte da conversa deles. Rafael estava falando sobre algo engraçado que tinha acontecido no trabalho, e Melinda ria, mas logo a conversa mudou de tom.

-Rafa, eu não sei mais o que fazer, -ouvi Melinda dizer, sua voz mais baixa agora, carregada de preocupação.

- eu já te disse o que deve fazer!

-Ele tem agido de forma estranha ultimamente. Sinto que estamos nos afastando. Não sei se é coisa da minha cabeça, mas... acho que estou perdendo ele.- meu coração deu um salto. - Só brigamos, a gente nunca tinha discutido tão feio assim.- Rafael ficou em silêncio por um momento, e eu quase pude ouvir o som de seu pensamento.

- Você já falou com ele sobre isso? Porque eu só vejo dois covardes discutindo constantemente, mas não fazem nada para mudar.

-Não exatamente. Tenho medo do que ele possa dizer. E se ele disser novamente que não sente o mesmo por mim?- A insegurança na voz dela me surpreendeu. Melinda sempre foi tão confiante, tão segura de si.- E tem a Sloan, e a memória da Pamela m.

-Você nunca vai saber se não perguntar. - Rafael suspirou. -Mas, sinceramente, Pamela sempre que vocês tinham algo especial. Talvez ele só esteja com medo e não sabe como lidar com os próprios sentimentos.

Eu estava preso entre o desejo de entrar e falar com ela, e a sensação de que eu não deveria estar ali ouvindo aquilo. Rafael estava certo. Eu estava apavorado com tanta coisa internamente que acabei afastando Melinda, sem nem perceber o quanto isso a afetava.

-Talvez você tenha razão. -Melinda suspirou, e eu podia imaginar a expressão de tristeza em seu rosto. -Mas... e se ele já tiver se decidido? E se ele achar que eu não sou o suficiente?

As palavras dela me cortaram profundamente. Como ela podia pensar isso? Como eu a deixei sentir isso? Rafael colocou uma mão no ombro dela, em um gesto de conforto que fez meu estômago revirar de culpa.

-Mel, você é mais do que suficiente. Se o Joaquim não vê isso, ele é um idiota,-Rafael disse, a firmeza em sua voz me deixou grato e ao mesmo tempo orgulhoso do meu irmãozinho.

Antes que eu pudesse processar mais, Melinda começou a chorar, algo que eu ouvia do corredor, porém nunca tinha visto ela fazer na frente de ninguém, muito menos de Rafael. Isso foi o suficiente para me tirar da minha hesitação. Eu sabia que precisava entrar, mas antes que eu desse um passo, a porta do bar se abriu, e lá estava Rafael, parado na minha frente.

- Joaquim? O que você está fazendo aqui?- Seus olhos se arregalaram ao me ver, e por um momento, o silêncio entre nós foi pesado.

Antes que Rafael pudesse dizer algo, Melinda apareceu logo atrás dele, os olhos ainda vermelhos das lágrimas. Ela parou abruptamente ao me ver, a surpresa e o desconforto estampados em seu rosto.

-Joaquim... o que você está fazendo aqui?- ela perguntou, tentando recuperar a compostura.

Eu queria dizer algo que pudesse explicar minha presença ali, mas as palavras me faltaram. Tudo o que conseguia fazer era encará-la, sentindo o peso de tudo o que estava entre nós.Rafael, percebendo a tensão, deu um passo para trás, tentando dar-nos algum espaço.

- Eu vou pegar mais uma bebida. Vocês dois... conversem, -ele disse, antes de desaparecer para dentro do bar.

-Eu não esperava te ver aqui.- Melinda olhou para baixo, evitando meu olhar

-Eu precisava te ver,-respondi, minha voz baixa, quase um sussurro. - Precisava te falar o que está acontecendo comigo. E pelo que ouvi... parece que você também tem algo a dizer.

-Sim, eu... Eu tenho pensado muito, Joaquim.-Ela respirou fundo, levantando os olhos para encontrar os meus. -E cheguei a uma decisão. Não é algo que eu queria, mas... não vejo outra saída.

-O que você quer dizer? -O medo de ouvir o que estava por vir tomou conta de mim.
-Estou procurando um apartamento. -Mel hesitou, mordendo o lábio antes de responder. -Não consigo mais morar com você. Está sendo... doloroso demais.

- Aquele dia você estava falando sério.-As palavras dela me atingiram como um golpe direto no estômago. - Você quer se mudar?- A ideia de não tê-la por perto, de vê-la todos os dias, era devastadora.

-Eu preciso,-ela respondeu, a dor evidente em sua voz. - Cada dia que passa, fica mais difícil. Eu tento fingir que está tudo bem, mas não está. Não quando eu te vejo todos os dias e sinto que estamos mais distantes do que nunca.

-Melinda, por favor, não faça isso,- pedi, dando um passo em sua direção. -Eu sei que cometi erros, que te afastei sem perceber. Mas... a ideia de não te ter por perto, de perder você assim... não consigo suportar.

-Joaquim, eu não quero te magoar, mas preciso fazer isso por mim. Preciso de um tempo longe de você, longe de tudo isso, -Ela balançou a cabeça, lágrimas começando a se formar novamente em seus olhos. - Vai ser bom para você também.

-Se é isso que você precisa, eu não vou te impedir. Mas... saiba que eu nunca quis te machucar. -As palavras dela eram como facadas em meu coração, mas eu sabia que era minha culpa. Eu a empurrei para longe sem nem perceber, e agora estava pagando o preço. -Eu só quero que você seja feliz, mesmo que isso signifique que eu não estarei ao seu lado.- engoliu em seco, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando gravar esse momento.

-Obrigada, Joaquim, - ela sussurrou, sua voz quebrando.

Eu queria abraçá-la, dizer que tudo ficaria bem, mas não tinha certeza se seria verdade. Tudo o que consegui fazer foi assistir enquanto ela se afastava, deixando-me com a dor de saber que talvez fosse tarde demais para consertar o que eu havia quebrado.

Você Nunca Saiu Verdadeiramente Daqui Onde histórias criam vida. Descubra agora