Capitulo 47

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Joaquim

Era fim de tarde, e Rafael e eu tínhamos acabado de sair do treino. O ar estava fresco e ainda com aquele cheiro de chuva, o que tornava o caminho de volta mais agradável. Eu podia ver que ele estava só esperando o momento certo para começar a me provocar. Ele sempre fazia isso – ficava em silêncio, como quem não quer nada, até que não aguentava mais e soltava uma piada ou um comentário irônico.

Paramos em um bar no caminho para tomar uma cerveja e colocar o papo em dia. O assunto inevitavelmente voltou para o mesmo ponto de sempre: eu e Melinda.

-Então, Quim,-ele começou, com aquele sorriso que eu já conhecia tão bem, - vocês dois finalmente resolveram parar de fingir que não se amam, né?

-Nós dois não estávamos fingindo nada. Dei um gole na cerveja e encarei Rafael, tentando manter a calma. - As coisas aconteceram no tempo que tinham que acontecer.

-Ah, qual é, Joaquim, -ele disse, rindo. -Você sabe que todo mundo estava vendo isso há anos. Eu e o Thomy já apostávamos faz tempo.

-Rafa, vocês e essas apostas... -Suspirei, mas não pude deixar de rir também. - Parece que a vida de vocês gira em torno de prever a dos outros.

- Alguém tem que se divertir, né? -Ele riu alto. -Mas sério, mano, estou feliz por vocês. Sempre achei que você e Melinda formavam um casal... digamos, inevitável.

Olhei para ele por um momento, tentando entender o que ele queria dizer com "inevitável". Rafael sempre teve uma maneira curiosa de ver o mundo. Para ele, certas coisas eram como peças de um quebra-cabeça que já estavam destinadas a se encaixar, mesmo que demorassem anos.

- Você sabe,- ele continuou, mexendo no copo, - desde que éramos moleques, a gente sabia que tinha algo entre vocês dois. Todos sempre falavam dessa química surreal de vocês.

- Thomás também achava isso?- perguntei, mais curioso do que eu gostaria de admitir.

-Com certeza. - Rafael assentiu. - Ele assim como Camila sempre foram do time 'Joaquim e Melinda'. E você sabe como a Cami é – uma romântica incorrigível. Mas, sinceramente, eu sabia que ia acontecer, só não sabia quando.

-Eu não sei se foi tão óbvio assim, Rafa,-  respondi, tentando me defender. -A gente passou por muita coisa, caminhos diferentes, outros relacionamentos... Não foi tão simples.

Eu sei que não foi fácil, mano. -Rafael me olhou de canto, sorrindo de um jeito que só irmãos conseguem. - Não estou dizendo que foi. Só que, no fim das contas, as coisas parecem se encaixar agora, não?

Eu olhei para o copo de cerveja por um momento, pensando nas palavras dele. Tudo realmente parecia estar se encaixando. Por anos, havia aquela tensão não resolvida entre mim e Melinda, algo que nos puxava de volta, não importa o que acontecesse. E agora que estávamos juntos, tudo fazia mais sentido do que nunca.

- Pois É,- admiti, balançando a cabeça. -As coisas finalmente estão no lugar.

Rafael deu um gole na cerveja, me observando de soslaio antes de abrir um sorriso mais sério. - Só não deixa isso escapar de novo, Joaquim. A Melinda é... bem, você sabe o que ela significa não só para você, mais mamãe está radiante com a notícia. Não dá pra perder tempo com besteira agora.

Eu sabia que ele estava certo. Rafael podia ser brincalhão e adorar uma piada, mas, no fundo, ele sempre esteve do meu lado. E sabia reconhecer quando algo era importante.

-Não vou, Rafa,- falei, com mais convicção do que eu esperava. - Agora que estamos juntos, vou fazer o que for preciso pra manter as coisas certas.

- Aí sim. -Ele sorriu, levantando o copo em um brinde silencioso. - É isso que eu queria ouvir.

O resto da conversa foi leve, falando sobre o casamento dele com Helena, sobre o trabalho e as coisas de sempre. Mas o que me marcou naquela tarde foi o jeito como Rafael, apesar das brincadeiras, sempre sabia a hora de ser sério. No fim, ele só queria me ver feliz, e, pelo jeito, ele sabia há muito tempo que minha felicidade sempre esteve ligada a Melinda.

Depois de mais algumas garrafas fomos para casa, assim que o elevador abrir deu para ouvir o som maravilhoso da risada de Melinda ao telefone numa vídeo chamada com os sobrinhos ela fazia caretas e o pequeno menino ria de suas palhaçadas, me perdi no tempo vendo a interação. Sorri e subi para tomar meu banho sem atrapalhar o momento, hoje era quarta e tínhamos combinado de ir jantar num restaurante que estava inaugurando no centro, Rafa sumiu assim que entramos.

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