Capitulo 31

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O clima em casa havia mudado drasticamente desde aquela última conversa no bar. A tensão era palpável, como se cada palavra não dita entre nós pesasse no ar. O apartamento, antes um refúgio compartilhado, agora parecia apertado, como se cada canto estivesse carregado de lembranças e ressentimentos. Eu sabia que Joaquim estava tentando se aproximar, mas eu não podia dar-lhe essa chance.

Comecei a mudar minha rotina. Não havia mais aqueles momentos matinais em que saíamos juntos para treinar. Agora, eu saía antes do sol nascer, quando o silêncio da cidade me dava o espaço que eu precisava para clarear a mente. Cada passo pelo central parque, cada batida do meu coração durante a corrida, era uma forma de processar tudo o que acontecera entre nós.

Quando voltava para casa, fazia questão de não cruzar com Joaquim. Evitava os horários em que ele normalmente estava na cozinha ou na sala, preferindo me enclausurar no meu quarto, onde podia trabalhar ou simplesmente me perder em pensamentos.

Joaquim parecia respeitar meu desejo de distância. Não havia mais tentativas de conversar, de resolver as coisas. Era como se ele tivesse aceitado essa nova dinâmica, embora, às vezes, eu o pegasse me observando de longe, como se estivesse esperando uma oportunidade. Mas eu não dava essa chance. Cada vez que nossos olhares se cruzavam, eu desviava rapidamente, fingindo uma indiferença que, no fundo, me custava manter.

A casa estava silenciosa, quase dolorosamente. As conversas que antes preenchiam os corredores foram substituídas por um silêncio que só acentuava o abismo entre nós. E cada dia que passava assim, eu me perguntava se algum dia as coisas voltariam a ser como antes. Mas, no fundo, eu sabia a resposta.

Eu precisava de espaço. Precisava de tempo. E, acima de tudo, precisava descobrir como seguir em frente sem ele.

Os dias foram passando, e hoje se a uma daquelas noites em que tudo parecia voltar se encaixar. Rafael e Helena estavam em casa, e Noah, que começara a frequentar mais o nosso círculo, também se juntou a nós para o jantar. Estávamos na cozinha, todos juntos, preparando a refeição em um ambiente que, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se leve e despreocupado.

Rafael estava de bom humor, como sempre, contando uma história engraçada sobre um caso recente, enquanto cortava legumes. Helena, rindo de suas piadas, mexia uma panela no fogão. Noah estava ao meu lado, ajudando-me a preparar uma salada. Ele fazia questão de me provocar com brincadeiras sobre minha obsessão por manter tudo perfeitamente organizado.

— Melinda, eu nunca vi alguém cortar alface com tanta precisão — Noah riu, segurando meu pulso suavemente para que eu errasse um corte, o que me fez soltar uma risada.

— Ei, alguém tem que fazer isso direito — respondi, tentando esconder o sorriso. — Não posso deixar você arruinar a única coisa que sei fazer bem na cozinha.

Helena lançou um olhar divertido em nossa direção, com um sorriso que revelava a felicidade que ela sentia ao ver aquela interação leve.

— Noah, não tente competir com a Melinda na cozinha. É uma batalha perdida — disse ela, piscando para mim.

— Eu já me rendi, nem vou tentar — ele respondeu, erguendo as mãos em sinal de rendição, o que arrancou risos de todos.

Era raro ver Noah tão à vontade, e isso me contagiava. O clima era tão diferente do que eu vinha enfrentando com Joaquim. Por um breve momento, me permiti esquecer os problemas, mergulhando naquela atmosfera de amizade e leveza.

Rafael olhou para Noah e eu com um sorriso de aprovação. Era óbvio que ele gostava de ver que eu estava me aproximando de alguém que não apenas me fazia rir, mas que também parecia genuinamente se importar comigo.

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