Capítulo 37

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O sol estava começando a se pôr quando Amelie me convidou para um passeio pelos jardins do vinhedo. Joaquim e Ethan estavam ocupados discutindo detalhes sobre os contratos, e Emma, depois de muita brincadeira, finalmente havia caído no sono. Era o momento perfeito para uma conversa mais tranquila e, talvez, mais reveladora.

Caminhamos em silêncio por alguns minutos, aproveitando a paz do lugar. Amelie era uma companhia agradável, com uma energia tranquila que fazia tudo parecer mais leve. Havia algo nela que me deixava à vontade, como se eu pudesse confiar nela sem medo de ser julgada.

-Você e Joaquim parecem estar se reconectando,"- Amelie comentou de repente, quebrando o silêncio. Havia um sorriso em seu rosto, mas também uma curiosidade genuína.

- Sim... acho que sim. sorri de volta, mas com uma mistura de nervosismo. -Estar aqui, longe de tudo, nos deu uma chance de respirar, de lembrar do que éramos antes.

-É um lugar mágico. -Ela assentiu, parecendo entender exatamente o que eu queria dizer. - Ethan e eu também encontramos nossa paz aqui, depois de tantos anos correndo de um lado para o outro.

-Vocês parecem tão felizes,-comentei, genuinamente admirada pela harmonia que eles transmitiam.

-Somos. Mas, como qualquer relacionamento, tivemos nossos desafios,- ela admitiu, com um sorriso tranquilo. -E é disso que eu queria falar com você, Melinda. Sobre desafios.

-Desafios?-Eu a olhei, surpresa com o tom mais sério em sua voz

"-Sim,-ela respondeu, parando e se virando para me encarar. -Noah.

O nome dele foi como um balde de água fria. Eu havia conseguido não pensar nele por quase o dia inteiro, mas agora, ali, em meio ao silêncio do vinhedo, ele voltou à minha mente com força total.

-O que tem o Noah? A perguntei, tentando soar despreocupada, mas sem muito sucesso.

Ele está apaixonado por você, Melinda.- Amelie me olhou com uma mistura de compreensão e seriedade

As palavras dela pairaram no ar, pesadas e cheias de significado. Eu sabia que Noah sentia algo por mim, mas ouvir isso assim, de alguém tão próxima a ele, fez a realidade me atingir de uma forma que eu não esperava.

-Ele não me disse nada,- murmurei, mais para mim mesma do que para Amelie.- Não posso mentir para você, me fazer de ingênua, há algumas semanas logo que voltei do Brasil passamos a noite juntos. Depois disso fingimos que não aconteceu. Ele não mostrou mudança.

-Eu sei,- ela respondeu, suavemente. -Noah é complicado, ele sempre foi. E depois de tudo o que ele passou, acho que ele tem medo de admitir o que realmente sente.

-Mas ele tem sido tão... distante,- eu disse, tentando entender tudo. -E ao mesmo tempo, está sempre lá, me apoiando.

-Porque ele não quer te pressionar,- Amelie explicou. -Ele sabe que você tem uma história com Joaquim, e ele respeita isso. Mas isso não muda o fato de que ele está apaixonado por você.

E o que você acha disso tudo, Amelie? - me senti dividida, como se estivesse sendo puxada em duas direções ao mesmo tempo. - Quero dizer, você é irmã dele. Deve saber o que é melhor para ele.

-O que é melhor para Noah é o que o faz feliz. E se você é a pessoa que pode trazer essa felicidade para ele, eu apoio. -Ela sorriu, mas havia um toque de tristeza em seus olhos. - Mas também sei que o coração é complicado, e às vezes as coisas não são tão simples.

-Eu não sei o que fazer, Amelie. Estou tão confusa.-Eu suspirei, sentindo o peso das palavras dela.

-É normal,- ela disse, tocando meu braço com gentileza. - Mas o que importa é que você siga seu coração. Não deixe a pressão de escolher entre eles te consumir. No final, você precisa fazer o que é certo para você.

-Obrigada, Amelie. Eu realmente precisava ouvir isso.-Eu assenti, absorvendo o que ela disse.

-Estou aqui para isso,- ela respondeu, sorrindo de forma encorajadora. -E não se esqueça, independentemente do que aconteça, você sempre terá amigos que te apoiam.

Nós continuamos caminhando, o peso da conversa começando a se dissipar enquanto apreciávamos a tranquilidade ao nosso redor. Mas as palavras de Amelie continuavam ecoando em minha mente. Noah estava apaixonado por mim. E agora, mais do que nunca, eu precisava descobrir o que realmente sentia por ele... e por Joaquim.

Após a conversa com Amelie, senti a necessidade de ficar um pouco sozinha. Caminhei pelo vinhedo até encontrar um canto tranquilo, onde as videiras formavam um pequeno labirinto natural. Encontrei um banco de pedra parcialmente escondido sob a sombra de uma árvore antiga e me sentei, deixando a brisa suave tocar meu rosto enquanto tentava organizar meus pensamentos.

As palavras de Amelie ecoavam na minha mente: Noah está apaixonado por você. O simples fato de ouvir isso de alguém tão próxima a ele mexeu comigo de uma forma que eu não estava preparada para lidar. Noah, com seu jeito tranquilo e constante, sempre esteve lá, me apoiando, mas eu nunca imaginei que seus sentimentos fossem tão profundos.

Mas, antes que eu pudesse me perder completamente em pensamentos sobre Noah, outra lembrança surgiu, trazendo consigo uma pontada familiar de dor. Matteo Sullivan. O homem que, anos atrás, entrou na minha vida como uma tempestade, prometendo mundos e fundos, apenas para deixar tudo em ruínas quando foi embora pela segunda vez.

Matteo tinha sido intenso, apaixonado, e no início, parecia que éramos perfeitos juntos. Mas com o tempo, suas promessas vazias e sua incapacidade de ser honesto começaram a se mostrar. Quando finalmente percebi que ele nunca teria a intenção de realmente construir algo baseado em honestidade e lealdade ao meu lado, já era tarde demais. Ele já tinha partido, levando consigo uma parte do meu coração que nunca mais consegui recuperar completamente.

A dor que Matteo me causou fez com que eu me fechasse, levantando muros altos ao redor do meu coração. A partir daquele momento, deixei de acreditar em promessas, me tornando mais cautelosa, mais racional. Até mesmo com Joaquim, anos depois, esses muros permaneceram, impedindo-me de me entregar completamente. E agora, com Noah... A mesma hesitação, o mesmo medo de ser ferida de novo, estava presente.

Suspirei, sentindo o peso de todas essas lembranças e decisões. Estava claro que Matteo ainda exercia uma influência sobre mim, mesmo tantos anos depois. A dor de ter meu coração partido uma vez me fazia hesitar em me entregar a qualquer um dos dois homens que agora disputavam minha atenção.

Mas Joaquim... havia algo nele que sempre me fez acreditar que, talvez, as coisas poderiam ser diferentes. Ele conhecia meu passado, sabia da minha dor, e ainda assim estava disposto a tentar de novo.
E Noah, com seu jeito calmo e seguro, era como uma promessa de estabilidade, algo que sempre desejei, mas nunca consegui alcançar.

Me fazia lembra dos anos que passei com Nicolas, dos nossos planos... do nosso bebê que se foi antes mesmos de podermos escolher o nome. Aquela fatídica noite, a dolorosa sensação de ser invadida sem consentimento. Balanço a cabeça mandando aquele filme de horror para longe dos meus pensamentos.

Eu sabia que precisava tomar uma decisão. Não podia continuar dividida entre dois homens que, de formas tão diferentes, mexiam comigo de maneiras que eu não sabia como lidar.

Levantei-me do banco de pedra, sentindo uma nova determinação se formar dentro de mim. Precisava dar uma chance para o que estava acontecendo aqui, no vinhedo, com Joaquim. Precisava ver até onde essa reconexão poderia nos levar, sem as sombras do passado me impedindo de seguir em frente.

Com isso em mente, comecei a voltar para a casa principal, mal sabendo que Joaquim já estava planejando o próximo passo para nós.

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