Capitulo 29

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O bar estava lotado, as luzes amarelas lançando sombras suaves nos rostos das pessoas ao meu redor. Eu estava sentada em um banco alto, no balcão, com um copo de gin tônica nas mãos.Estar com Rafael sempre foi fácil. No meio de toda a confusão da minha vida, ele era um dos poucos pontos de estabilidade que eu tinha, eu precisava daquela sensação de normalidade.

Eu mexia no meu drink, girando o canudo sem pensar muito, e decidi que precisava de um assunto leve, algo que me tirasse, nem que fosse por alguns minutos, dos pensamentos que insistiam em me atormentar.

-Então, como estão os preparativos para o casamento? -perguntei, tentando não parecer muito forçada, mas com um sorriso que eu sabia que ele reconhecería como genuíno.

-Ah, você sabe como é. Helena está no comando de tudo. Eu só sou chamado quando ela precisa de uma opinião que, na verdade, ela já decidiu. - Rafael riu, aquele riso que sempre soou como música para meus ouvidos.

-Isso soa exatamente como a Helena. E as flores? Já foram escolhidas? -Eu ri junto com ele. A descrição não poderia ser mais perfeita.

- Já sim. Rosas brancas com lavanda,- ele disse, com um gesto exagerado que indicava seu total desconhecimento sobre o assunto. - Não sabia que lavanda era uma opção para buquês, mas, aparentemente, é a combinação perfeita.

. Helena tem bom gosto.- Eu ri, balançando a cabeça -E você? Está preparado para ser um homem casado?"

-Acho que sim. Com Helena, tudo parece simples. Nunca imaginei que alguém pudesse me deixar tão... tranquilo em relação a algo tão grande quanto o casamento. -Rafael deu de ombros, mas havia um brilho nos olhos dele que me dizia que ele estava mais do que preparado.

-Isso é amor verdadeiro, - comentei, sentindo um calor no peito ao ver meu irmão tão feliz. -Estou realmente feliz por vocês, Rafa. Helena é incrível, e vocês dois juntos são perfeitos.-

-Obrigado, Mel. E você? Algum plano para o futuro? -Ele sorriu de volta para mim, aquele sorriso sincero e cheio de carinho que só um irmão pode dar.

- Estou tentando descobrir. A vida está... complicada, para dizer o mínimo. -suspirei, tentando esconder a incerteza que sentia.

-Você vai descobrir. Sempre faz. E quando você decidir, vai ser espetacular." - Rafael assentiu, aquele olhar compreensivo que ele sempre teve desde que éramos crianças.

-Você sempre tem as palavras certas, não é? -Eu sorri, agradecida por suas palavras. Ele sempre sabia o que dizer para me acalmar.

-Aos novos começos e à certeza de que, no final, tudo vai dar certo. -Ele ergueu a cerveja, e eu levantei meu copo também, em um brinde improvisado.

-Que assim seja,-murmurei, batendo meu copo contra o dele, deixando aquele momento de leveza nos envolver, mesmo que eu soubesse que logo a realidade voltaria a bater à porta.

-Mel, precisamos conversar, - ele finalmente disse, com a voz firme, mas com uma ponta de nervosismo que me fez estremecer.

Olhei para ele, sabendo muito bem para onde essa conversa estava indo. Tentei me preparar, mas a verdade é que eu não queria enfrentar o que estava por vir.

-O que foi, Rafa? - Perguntei, tentando soar casual, mas minha voz saiu um pouco hesitante.

- Porque esse clima estranho entre vocês? . - Ele suspirou e olhou direto nos meus olhos. - Somos melhores amigos.  É o Joaquim!

O nome de Joaquim soou como um trovão no meio daquele bar lotado. Senti meu coração acelerar. Rafael sabe que minha relação relação com seu irmão, não estava bem, que coisas haviam mudado. Havia uma tensão no ar toda vez que estávamos no mesmo espaço. Uma tensão que eu fingia não perceber, mas que estava lá, crescendo a cada dia.

- Rafa, o que tem o Joaquim?- Eu respondi, tentando fingir desinteresse, mas sabendo que Rafael não cairia nessa.

- Mel, você acha que eu não percebo? A tensão entre vocês dois é palpável. Desde que éramos crianças, eu sempre soube que vocês ficaram juntos, não consigo entender porque estão se tratando como inimigos.

Meu rosto esquentou, e eu desviei o olhar, tentando encontrar refúgio no meu copo. Eu sabia que negar era inútil, mas era a única coisa que eu conseguia pensar em fazer naquele momento.

-Ele não sabe o que quer da vida.-  tentando manter a voz estável. - E não posso lutar sozinha, não posso.

-  Mel, você não pode continuar com isso. É óbvio que você e o Joaquim têm algo mais do que apenas uma amizade.-Rafael bufou, visivelmente irritado.

As palavras dele atingiram um ponto sensível, e eu senti um nó se formar na minha garganta. Sim, havia algo mais entre mim e Joaquim, mas eu não queria mais falar sobre isso, não com Rafael, que pelo jeito já havia escolhido o Team Joaquim. Tinha medo do que isso poderia significar, das complicações que poderia trazer para nossas amizade.

-Mesmo que falasse para ele,oque já fiz! - comecei, a voz trêmula - isso não mudaria nada. Ele é seu irmão, Rafa. E você é meu melhor amigo. Eu não posso... eu não posso esperar por um homem que deixou bem claro que não me quer.

-Mel, você nunca vai me perder. Nós somos amigos há tempo demais para algo assim nos afastar. - Rafael balançou a cabeça, sua expressão suavizando. - Mas você precisa ser honesta consigo mesma. Se o que você sente pelo Joaquim é real, você não pode continuar negando. E o meu irmão é apaixonado por você a vida toda, só é medroso demais para colocar a amizade de vocês  em xeque. - suas palavras me fazer rir porque éramos dois medrosos.

Aquele era o Rafael, sempre direto, sempre me empurrando para encarar a verdade, mesmo quando eu queria correr na direção oposta. Eu sabia que ele estava certo, mas admitir nossos sentimentos parecia impossível.

- E se der errado, Rafa? E se eu acabar perdendo?- Minha voz estava cheia de insegurança, uma fraqueza que eu odiava mostrar. - Somos sócios, tem tanta coisa em jogo.

Rafael colocou a mão sobre a minha, sua expressão gentil.- Você nunca vai me perder. E quanto ao Joaquim, só você pode descobrir o que ele sente. Mas você nunca vai saber se não arriscar.

Fiquei em silêncio, as palavras dele ecoando na minha mente enquanto eu olhava ao redor do bar, as pessoas rindo e conversando, alheias à tempestade que estava acontecendo dentro de mim. Rafael estava me dando sua bênção, me dizendo para seguir em frente, mas o orgulho ainda me segurava.

-Rafa, eu...- Comecei, mas não consegui continuar. Não sabia o que dizer. Só sabia chorar.

-Mel, só pensa nisso, - ele disse suavemente, apertando levemente minha mão. - Eu só quero que você seja feliz. E se estar com meu irmão é o que vai te fazer feliz, então é isso que eu quero para você.

Assenti lentamente, sem conseguir encontrar as palavras certas. Rafael me deu um sorriso suave antes de se levantar, deixando-me sozinha no bar, perdida em pensamentos.

Enquanto ele se afastava para pagar a conta, fiquei ali, encarando meu copo vazio, tentando processar tudo o que ele tinha dito. Eu sabia que ele estava certo. Eu sabia que era hora de parar de fugir dos meus sentimentos. Talvez fosse a hora de enfrentar o que eu sentia por Joaquim e, quem sabe, descobrir se ele sentia o mesmo.

Mas mesmo com essa decisão se formando na minha mente, o medo ainda estava lá, me prendendo. Porque sempre foi complicado entre a gente, mas talvez, só talvez, fosse exatamente o que eu precisava.

- Estou novamente parada, eu não sei o que fazer!

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