Eu estava sentada à cabeceira da mesa de reuniões, organizando os documentos para o caso mais recente. Cada papel estava no lugar certo, cada detalhe revisado meticulosamente. Nada poderia escapar ao meu controle, não quando se tratava de trabalho. O que acontecia fora dessas paredes não importava. Pelo menos, não aqui.
A porta se abriu, e eu senti a presença de Joaquim antes mesmo de levantar os olhos. Ele entrou com aquele sorriso que eu já conhecia bem, o tipo de sorriso que escondia mais do que revelava. Segurava uma pasta nas mãos, e eu sabia que ele tinha algo a dizer. Algo que provavelmente não ia mudar nada para mim.
-Eu revisei as propostas para o novo caso,- ele disse, tentando soar casual. - Acho que podemos fazer alguns ajustes na abordagem inicial.
Finalmente, olhei para ele, deixando que meus olhos se fixassem nos dele por um breve momento. Ele parecia estar à espera de uma reação, mas tudo que eu sentia era uma calma fria se instalando em mim. A mesma calma que eu sempre trazia para o trabalho.
- Interesse! Desde quando você começou questionar meus métodos ? Para que mudar a nossa estratégia jurídica, Joaquim. - respondi, mantendo meu tom controlado, quase clínico. - Este caso precisa ser tratado com a mesma precisão e foco de sempre, independente das ações.
Ele se aproximou da mesa, provavelmente tentando me desestabilizar, encontrar algum sinal de preocupação ou fraqueza. Mas eu não lhe daria esse prazer. Não quando se tratava do que realmente importava.
-Você realmente consegue separar tudo assim?- Ele insistiu, com uma ponta de provocação na voz. - a guerra fria continua, e agora que Rafael deu uma procuração, Joaquim está disposto a jogar como o verdadeiro advogado que era.
Voltei a organizar os documentos, cada movimento calculado, meticuloso. Eu não precisava olhar para ele para responder.
-Meu foco é no sucesso do escritório e dos nossos clientes. Se você quiser usar suas ações para influenciar as decisões, espero que faça isso com base no que é melhor para o escritório, não em impulsos pessoais. Se precisar de ajuda para distinguir os dois, estou aqui para guiá-lo.
Eu sabia que minhas palavras o desestabilizavam, que ele queria ver mais, qualquer coisa que indicasse que ele estava me afetando. Mas não havia espaço para isso. Não aqui.
Ele respirou fundo, tentando manter a compostura que, claramente, começava a escapar.
-Claro, afinal estou diante da temida dama de gelo -ele disse, com uma pontada de sarcasmo. -Vamos manter as coisas profissionais.
Eu assenti levemente, já voltando ao trabalho. Não havia mais nada a ser dito, eu era capaz de continuar como sempre, focada e imperturbável. A única maneira que eu sabia como ser.
Joaquim Miller
A sala de reuniões estava mergulhada em uma tensão silenciosa, cada respiração audível como se carregasse o peso de nossas frustrações. Melinda, como sempre, mantinha sua postura impecável, a frieza no olhar a lembrança constante de que eu a havia perdido. Mas havia algo mais ali, um brilho quase imperceptível de cansaço, de exaustão, que me fazia pensar que talvez, apenas talvez, eu ainda tivesse uma chance.
O silêncio foi quebrado pelo som dos papéis sendo organizados à minha frente. Eu me inclinei para frente, cruzando as mãos sobre a mesa, esperando o momento certo para falar. Precisava ser cuidadoso, medir cada palavra. Sabia que Melinda não me daria o benefício da dúvida novamente.
— Melinda — comecei, a voz mais firme do que eu esperava —, sobre o caso do vinhedo...
Ela ergueu os olhos, a atenção completamente focada em mim. Não havia sinal da mulher com quem eu dividia um apartamento, apenas a sócia implacável que estava disposta a fazer o que fosse necessário para vencer.
— Decidi que precisamos de mais informações sobre o local. Algo que não podemos obter a distância — continuei, mantendo o tom profissional. — Organizei uma viagem para lá. Acho que seria útil se você viesse também. Podemos revisar o contrato pessoalmente com o Ethan.
Ela hesitou por um segundo, e foi o bastante para que meu coração acelerasse. Talvez ela não estivesse totalmente indiferente. Ou talvez fosse apenas surpresa, mas eu me agarrava a qualquer faísca que pudesse reacender o que tínhamos.
— Quando? — ela perguntou, a voz neutra, quase desinteressada.
— Na minha próxima semana— respondi. — Já está tudo organizado.
Melinda me observou por um momento longo demais, como se pesasse as consequências de recusar. Ou talvez estivesse tentando ler minhas intenções por trás dessa súbita mudança de planos.
— Está bem — disse finalmente, voltando sua atenção aos papéis à sua frente, como se o assunto estivesse encerrado.
Mas, para mim, estava apenas começando.
(...)
Eu sabia que essa conversa não ia ser fácil. Na verdade, sabia que ela poderia explodir a qualquer momento, mas precisava seguir com o plano. Estávamos na sala de reuniões, com as janelas amplas deixando a luz da manhã invadir o ambiente. Melinda estava sentada à mesa, revisando alguns papéis, o semblante tão profissional quanto sempre. Mas eu conhecia aqueles olhos. Sabia que, por trás daquela fachada calma, havia uma tempestade esperando para desabar.
-Precisamos falar sobre a viagem a Napa Valley- comecei, a voz mais firme do que eu esperava.
-Achei que tínhamos acertado tudo sobre essa viagem na semana passada .-Ela nem levantou os olhos dos documentos.
-Não exatamente, -repliquei, cruzando os braços e me inclinando levemente sobre a mesa. - Decidi que seria melhor se fôssemos apenas nós dois.
Finalmente, ela ergueu o olhar, seus olhos cravando nos meus com uma intensidade que fez meu estômago se revirar.
-Você decidiu? - A voz dela estava baixa, controlada, mas eu podia sentir a fúria fervilhando logo abaixo da superfície.
- É uma oportunidade de negócio, Melinda. Ethan está expandindo, comprando uma nova fazenda. Precisamos estar lá para fechar esse acordo pessoalmente.
-Você está falando sério? - Ela deixou os papéis de lado, agora completamente focada em mim. - Ou isso é só uma desculpa barata para me arrastar até Napa Valley e tentar resolver as coisas que você bagunçou?
-Melinda, eu sei que as coisas estão tensas entre nós, mas essa viagem não é só sobre isso. Precisamos resolver as pendências do trabalho, e se você não é madura o suficiente para separar as coisas... - A provoquei.
- O problema, Joaquim, é que você acha que pode manipular tudo ao seu redor para servir aos seus propósitos! Eu não sou uma peça do seu jogo! Você quer resolver as coisas entre nós? Ótimo! Mas não vai ser assim, me empurrando para uma viagem de negócios sob o pretexto de resolver nossas questões pessoais! -Ela se levantou bruscamente, os punhos cerrados sobre a mesa.
- Eu não estou tentando te manipular, Melinda. Eu só... preciso de uma chance para te mostrar que podemos consertar isso. Napa Valley é uma oportunidade. - Eu sentia o calor subindo pela minha coluna, mas mantive a postura.
-O que você realmente quer, Joaquim? Uma viagem para retomar o que tínhamos?- Ela riu, mas foi um riso amargo, quase doloroso.- Ou uma última cartada para provar que ainda tem controle sobre algo que já perdeu?
-Quero uma chance de fazer as coisas certas, de mostrar que podemos fazer funcionar., mesmo que apenas como colegas de trabalho.- As palavras dela me atingiram como um soco no estômago, mas eu não podia dar o braço a torcer.
- Olha aqui eu não tenho que ficar ouvindo você opinar num trabalho que faço a anos. - exaspera. - E também não estou interessada em ficar olhando para Sua cara, e é bom que você saiba que não tô nem aí para voce! - Ela balançou a cabeça, os olhos ardendo de frustração. - Eu não vou a lugar nenhum com você, Joaquim. Não agora. Não assim. E, sinceramente, você deveria parar de tentar remendar algo que talvez nunca mais possa ser consertado. -Ela pegou os papéis da mesa e saiu da sala, deixando um silêncio ensurdecedor para trás.
Fiquei ali, parado, o peso do que ela disse caindo sobre mim como uma tonelada de tijolos. Talvez Melinda estivesse certa. Talvez essa viagem fosse uma tentativa desesperada de recuperar o controle. Mas o que eu sabia, naquele momento, é que não podia desistir. Não dela. Não de nós.
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Você Nunca Saiu Verdadeiramente Daqui
Romanzi rosa / ChickLitMelinda se tornou uma mulher implacável, não é nem a sobra da jovem insegura que foi. Depois de ter o coração esmagado pelo seu grande amor adolescente e levando em conta o noivo possessivo e ciumento resolver se fechar para o amor. Só que por trá...