Capitulo 43

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Depois de um dia intenso no escritório, onde Joaquim e eu quase não trocamos uma palavra a não ser sobre contratos e prazos, finalmente chegamos em casa. O silêncio que antes parecia pesado agora soava mais leve, como se o peso do trabalho ficasse para trás assim que passamos pela porta.

Ele já havia tirado a gravata e jogado o terno azul marinho no sofá. Eu o observei enquanto preparava um chá na cozinha, tentando não pensar demais na tensão que ainda pairava entre nós.

-Você quer chá? -perguntei casualmente, como se o dia não tivesse sido tão exaustivo.

Joaquim, que agora estava deitado no sofá, com os pés para fora e as mãos atrás da cabeça, abriu um olho e me olhou com um sorriso preguiçoso.

-Chá? Achei que hoje era noite de vinho.

-Talvez seja melhor.-Soltei uma risada. - Depois do que passamos hoje, merecemos algo mais forte."-Peguei duas taças e a garrafa que havíamos aberto na noite anterior, levando tudo para a sala.

Ele se endireitou no sofá, pegando a taça que lhe ofereci. Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas apreciando o momento de tranquilidade.

-Você viu a cara da Gabriela quando eu disse que ela estava afastada do conselho?- ele perguntou, com um sorriso malicioso.

-Ela quase explodiu, Joaquim. -Eu ri. - Se pudesse, teria jogado o contrato na sua cara. Eu estava esperando a explosão.

Eu também. -Ele deu um gole no vinho, apoiando a cabeça no encosto do sofá. -Talvez isso teria animado a reunião.

A leveza da conversa, o cansaço compartilhado, tornavam o ambiente mais acolhedor. Joaquim sempre sabia como quebrar a tensão, mesmo que fosse com uma lembrança engraçada do trabalho. Eu sentia meus ombros relaxando, a barreira invisível entre nós começando a ceder, mesmo que por alguns minutos.

- É bom poder só... não fazer nada por um tempo,- murmurei, recostando-me no sofá ao lado dele, ainda segurando minha taça. -Hoje foi pesado.

-Sim. -Ele virou o rosto na minha direção, o olhar mais suave agora. - Mas eu acho que estamos sobrevivendo bem, não acha?

- Estamos. -Sorri, sentindo uma conexão leve, quase como nos velhos tempos. -Apesar de tudo, ainda estamos aqui.

-Ainda temos que enfrentar Gabriela amanhã. -Joaquim deu uma risadinha. - Então, melhor aproveitar essa paz enquanto podemos.

Nos olhamos, e por um momento, senti que o mundo lá fora – o escritório, os problemas – poderia esperar. Aqui, no sofá, com o vinho e uma conversa leve, era como se as coisas estivessem se encaixando, mesmo que só por uma noite.

Depois de mais alguns goles de vinho, o silêncio entre nós se tornou confortável, quase como uma pausa natural. Quim estava com os olhos fechados, parecendo mais relaxado do que o vi em semanas. Por um momento, observei seus traços, os mesmos que conhecia desde criança, os fios loiro saído um pouco na testa, as leves linhas de expressão, mas que agora pareciam carregar uma complexidade nova.

-Você está realmente muito cansado ou só está fingindo pra escapar da conversa sobre amanhã?- perguntei, brincando, tentando provocar uma reação.

- Eu estava tentando decidir se valia a pena fingir uma soneca... -Ele abriu um olho e virou a cabeça levemente na minha direção, um sorriso preguiçoso no rosto. - Mas acho que com você eu nunca consegui escapar de uma conversa.

Isso porque você sempre se complica sozinho, Joaquim.-Cruzei os braços, rindo.

-Ok, pode ser que amanhã seja complicado. -Ele se sentou mais direito, girando a taça em mãos. - Gabriela está em uma fase complicada, e trabalhar para ela... não facilitou as coisas para você.

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