Capitulo 46

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Os dias seguintes pareciam fluir com uma suavidade que eu não esperava. Acordar ao lado de Joaquim já não era estranho. O toque casual de suas mãos ao me entregar um café de manhã ou o jeito que ele sorria para mim entre um caso e outro no escritório, tudo parecia tão... certo. Como se finalmente tivéssemos encontrado o equilíbrio que procurávamos há tanto tempo.

Naquela manhã, acordei antes dele. A luz suave entrava pelas cortinas e eu fiquei observando Joaquim dormir por alguns minutos. Ele sempre parecia tão tranquilo enquanto dormia, um contraste gritante com a intensidade que carregava no trabalho e nas nossas conversas. Por um momento, pensei em como nossa vida tinha mudado nas últimas semanas. A tensão parecia ter sumido, e agora havia espaço para uma tranquilidade que não conhecíamos antes.

Levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui para a cozinha preparar o café. Nossa rotina tinha se transformado de uma forma que eu gostava. Havia uma naturalidade no modo como nossas vidas se entrelaçavam, tanto dentro quanto fora do escritório. Antes, a vida pessoal e o trabalho eram compartimentos separados, mas agora eles pareciam coexistir sem esforço.

Enquanto o café passava, ouvi Joaquim se aproximar, ainda meio sonolento.

-Você acordou cedo hoje,-ele disse, sua voz grave e um tanto rouca de sono.

-Não consegui dormir mais. Mas fiz café,- respondi, servindo duas xícaras.

Ele se aproximou por trás de mim, passando os braços ao redor da minha cintura e me puxando de leve para ele.

-Você é um sonho,- murmurou antes de me dar um beijo suave no pescoço. Eu ri, me virando para ele, entregando-lhe uma das xícaras.

-Temos uma reunião importante com aquele cliente hoje. Melhor você tomar o café, senão vai acabar dormindo na sala de reuniões.

- Eu adoraria dizer que estou mais animado para isso do que para ficar aqui com você, mas estaria mentindo.-Ele fez uma careta, mas pegou a xícara.

Nos sentamos na mesa da cozinha, e enquanto tomávamos o café, a conversa fluiu facilmente. Falamos sobre o dia de trabalho que estava por vir, mas também sobre coisas triviais, como o jantar que ele queria cozinhar à noite ou a reforma que ainda precisávamos fazer no escritório.

(...)

No escritório, a mudança entre nós era sutil, mas perceptível. Victoria, minha secretária, não conseguiu conter um sorriso ao me ver entrando de mãos dadas com Joaquim pela primeira vez desde que começamos essa nova fase. Ela fingiu que não notou, mas eu sabia que, mais tarde, Rafael seria bombardeado com perguntas.

Durante a reunião com um dos nossos maiores clientes, houve momentos em que nossos olhares se cruzavam por breves segundos, e eu quase sentia uma vontade de rir. Era como se tivéssemos um segredo só nosso, algo que ninguém ali entendia completamente. Ainda éramos profissionais, ainda éramos sócios, mas havia algo novo que mudava a dinâmica entre nós, algo que não podíamos ignorar.

Após a reunião, voltamos para nossas respectivas salas. Joaquim estava lidando com um novo caso, e eu tinha pilhas de documentos para revisar. No entanto, o clima leve da manhã permaneceu, nos acompanhando pela tarde.

Mais tarde, já em casa, após um dia cheio no escritório, estávamos na cozinha juntos, preparando o jantar. Joaquim cortava os legumes enquanto eu mexia na panela, a música suave tocando ao fundo. Era incrível como as coisas que antes poderiam parecer banais, agora tinham um significado novo.

- Se eu soubesse que ser seu namorado me faria cozinhar mais, teria reconsiderado,-ele brincou, jogando um pedaço de pimentão na minha direção.

- Você só está reclamando porque sabe que eu cozinho melhor que você,- retruquei, desviando do ataque de pimentão.

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