Começar

263 23 44
                                    

O verão do Brasil sempre foi sem graça para Kageyama, mas o de 2017 foi diferente. O garoto sempre soube que não era como os amigos, que existia alguma coisa em seu coração que o tornava estranho. Kageyama era metade brasileiro e metade japonês, o que o conectava diretamente com a cultura asiática. Ele sempre foi um menino introvertido, mas quando conseguia fazer amizade, não se segurava, falando tudo que pensava. Tocava guitarra desde os dez anos, quando ganhou uma de seu avô, e era apaixonado por rock brasileiro, mais do que o internacional. Kageyama tinha dois nomes, o japonês e o brasileiro, mas era mais conhecido por um apelido comum entre descendentes de asiáticos, ou qualquer pessoa com os olhos puxados: Japa. Quando fez dezoito anos, foi quase forçado pelo pai a se mudar para Tóquio e morar com a avó para estudar. A ideia não agradava muito. Na verdade, ele queria continuar em São Paulo, onde estavam seus amigos e toda a agitação que amava. Mas acabou cedendo e embarcou para o Japão.

  A experiência? Péssima, como ele já imaginava. A vida lá era muito diferente e, por mais que tivesse orgulho das raízes japonesas, nada substituía o calor e a alegria que ele conhecia no Brasil. Tóquio era grande, cheia de regras e, para ele, solitária. Ainda assim, viver fora do país lhe trouxe novas perspectivas, mesmo que tenha sido um período difícil. Quando voltou ao Brasil, a vida de Tobio mudou de um jeito que ele nunca esperava. Não foi só a sensação de estar de volta ao lar; foi também o momento em que Hinata Shōyō apareceu em sua vida. Algo naquele garoto pequeno e enérgico mexeu com Tobio de uma forma que ele jamais imaginaria. E foi aí que ele percebeu: essa nova fase seria marcada por muito mais do que simplesmente recomeçar. Não foi à primeira vista que percebeu o impacto que aquele garoto teria em sua vida, mas logo ficou claro que Hinata era diferente de todo mundo que já conheceu.

  Kageyama foi morar em uma república na Vila Madalena. Quando o garoto viu o nome, "República Samurai", não conseguiu deixar de rir. O nome parecia uma piada, especialmente com as regras inusitadas: só homens e só asiáticos. Foi aquilo que lhe chamou atenção. Não estaria dando as costas para sua cultura e conviveria com outros orientais. Ele nunca ligou para os apelidos e para a xenofobia que sofria só por ser metade Japonês, mas morar com pessoas que, provavelmente, passaram por isso o deixava animado. O Brasil era um país divertido e bem receptivo, diferente do Japão, mas ele não se sentia totalmente a vontade.

— Pegou tudo, meu amor? – Ângela, mãe de Tobio, questionou. Ela sempre foi muito amorosa e atenciosa, e a relação dos dois era boa.

— Sim, mamãe. – O moreno sorriu pequeno. Era inegável que estava nervoso, mas aquilo não o impediria de ir.

— Pegou sua guitarra? Deu tchau para o Poe?

— Foram as primeiras coisas que fiz... não precisa se preocupar tanto, mãe! – Ele revirou os olhos, sorrindo em seguida. Gostava de como a mulher se importava tanto.

— Seu primo está te esperando lá embaixo, não demora.

— O quê!? Por que ele vai me levar? Ah não, mãe. Vou ter que morar com ele? – Tobio choramingou, mas a mãe logo o colocou para fora do apartamento.

Saber que moraria com seu primo o deixava irritado. O mais velho sempre fez de tudo para provocar Tobio e o incomodava o tempo inteiro. Morar com ele seria como morar no inferno. Mas não tinha o que fazer, nem reclamar. Não poderia simplesmente abandonar a ideia de morar longe da mãe, precisava encarar aquilo como um homem, mesmo que ainda fosse bem jovem.

— Priminho! Que felicidade buscar você. – O garoto se apoiou na porta do carro e sorriu sarcasticamente. Só de ver seu rosto, Tobio ficava irritado.

— Oi, Tōru. – Kageyama apertou os olhos — Você está simpático como sempre.

— Ah, muito obrigado, Rei. – Oikawa entrou no carro com um sorriso enorme no rosto. Ele adorava provocar o primo e fazia questão de irritá-lo todas as vezes.

Traços do Oriente | KageHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora