Mudar

63 10 19
                                    

— Sério? – Akaashi sussurrou.

— Sim... – Osamu suspirou, enquanto passava a mão no rosto.

— Você falou para o Hinata?

— Não e nem vou. Ele tá namorando agora, não tem motivo pra contar. – Osamu riu fraco.

— Sério? Não vai mesmo? Ele deveria saber, Samu...

— Deixa as coisas como estão, Akaashi. Melhor não se intrometer nisso.

  Kageyama passou sete meses no Japão por pura pressão do pai. Ele teve que largar a faculdade, sua mãe, seus amigos e Hinata. Odiava que seu pai lhe tratava como uma criança dependente, uma pessoa vulnerável e incapaz de fazer suas próprias escolhas. Ele teve que viajar para o Japão e trabalhar na empresa de seu pai para que o mais velho lhe deixasse em paz. Depois de muita insistência, o homem finalmente cedeu, deixando que Kageyama voltasse para o Brasil e seguisse a vida do jeito que gostaria. Por sorte, sua mãe o convenceu a não cortar a mesada do garoto.

Quando Kageyama voltou para a república, algo nele estava diferente. Antes, ele já era mais reservado, mas agora o silêncio parecia preencher todos os espaços ao seu redor. O som da porta se fechando suavemente ecoou pela casa, mas ninguém correu para cumprimentá-lo como de costume. Talvez já soubessem, de algum jeito, que aquele Tobio não era o mesmo que partiu seis meses atrás. Ele atravessou o corredor em direção ao quarto, os passos pesados, o olhar distante. As olheiras profundas embaixo de seus olhos contavam uma história que ele não estava pronto para compartilhar. A insônia que o atormentava nas últimas semanas havia deixado marcas visíveis – não só no corpo, mas na alma.

Ao entrar no quarto, Kageyama jogou a mochila no chão com um suspiro cansado. Akaashi, que estava sentado à mesa com um livro, olhou para ele de soslaio. O silêncio entre os dois era denso, mas Akaashi não perguntou nada. Ele sabia que Tobio falaria quando estivesse pronto.

Osamu apareceu na porta, segurando uma xícara de café.

— Trouxe isso pra você. – Disse, tentando soar casual, mas sua voz saiu tensa.

Kageyama olhou para o café e assentiu em agradecimento, pegando a xícara sem dizer uma palavra. Ele se sentou na beirada da cama, olhando para o líquido quente como se aquilo fosse a única coisa capaz de lhe trazer algum conforto.

— Você tá bem? – Osamu perguntou, hesitante. Sabia que era uma pergunta óbvia, mas sentia que precisava fazer.

Kageyama não respondeu de imediato. Ele girou a xícara em mãos, os dedos tremendo ligeiramente, e deu um gole longo. Finalmente, ele balançou a cabeça.

— Não. – A resposta foi curta, mas sincera.

Akaashi e Osamu trocaram olhares. Nenhum dos dois sabia o que dizer. O Kageyama de antes já era difícil de decifrar, mas aquele Kageyama, ainda mais fechado e destruído pela insônia, parecia estar a quilômetros de distância.

— Se precisar de alguma coisa, estamos aqui. – Akaashi disse calmamente, voltando sua atenção ao livro, mas sua preocupação era evidente.

Kageyama assentiu de novo, mas o silêncio voltou a preencher o espaço. Ele sabia que estava cercado por amigos, mas, ao mesmo tempo, nunca se sentiu tão sozinho.

— Eu senti muito a falta de vocês. – Ele sorriu pequeno, olhando para os dois.

— Ah, eu também. – Akaashi foi até ele e o abraçou — Senti falta do meu irmãozinho.

— Você está horrível. – Osamu brincou, passando a mão no cabelo dele — Vamos sair, só nos três.

— Eu... eu só preciso de um banho. – Kageyama saiu do quarto, indo para o banheiro.

Traços do Oriente | KageHinaOnde histórias criam vida. Descubra agora