Correndo Do Diabo

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corro por entre as árvores olhando para trás a todo o momento verificando se ele está perto - o coração retumba dentro do meu peito e o único som que eu ouço é o pulsar alto do meu sangue. Todo de preto ele se camufla entre as árvores.
-Kiarah volte aqui, meu amor! Eu não vou machucar você -ele grita atrás de mim.
Minhas pernas ardem e já estão ficando dormentes e correr é questão de sobrevivência, mas eu não posso parar ou nuca ficarei livre, tropeço caindo no chão sentindo uma dor forte em meu nariz eu o bati contra a raiz de uma arvore, o sangue quente escorre por meu rosto junto das lágrimas grossas quando a dor aguda me atinge, cambaleio me obrigando a continuar a correr, eu nunca posso parar de lutar, nunca! Não posso deixar que o pavor me impeça de fugir para longe desse assassino - minhas mãos batem nos galhos das árvores os afastando do meu rosto. Eu grito parando subitamente com o coração batendo forte, recuo um passo vendo o penhasco enorme a minha frente e logo a baixo um rio agitado que provavelmente desagua no mar, olho para a queda a minha frente e em seguida para trás o vendo se aproximar cada vez mais de mim, tudo o que ele fez vem como uma enxurrada na minha mente - aquele porão... com aquelas condições... as marcas que ele deixou no meu corpo - tem que ser agora. É agora ou nunca!
-Princesa, não pule vai se machucar -ele me alerta esticando sua mão para me pegar.
Me esquivo de seu toque como se fosse um ferrete pronto para me queimar e então já estou caindo em queda livre, fecho os olhos esperando o contado com a agua gelada que chega mais rápido do que eu esperava, junto de uma chicotada em meu corpo, fico zonza por uns instantes, me viro rapidamente ouvindo um barulho atrás de mim - o desgraçado pulou! Começo a nadar freneticamente, agradeço aos Deuses por minha mãe ter me obrigado a fazer natação - "um dia isso pode salvar a sua vida, Kiarah!". Ouço a voz dela na minha cabeça.
-Não fuja de mim, Kiarah -ele grita atrás de mim me arrepiando inteira.

-Você nunca mais me terá Christopher -digo com um sorriso.

Bato os braços nadando ainda mais rápido quase chorando de alegria ao ver a margem do rio a minha frente, me arrasto para fora da água gritando quando ele agarra meu tornozelo - chuto e esperneio conseguindo me livrar de Christopher, corro aos tropeços pela rua cascalhada cambaleando e mexendo os braços acenando para os carros que passam diante de mim.

-SOCORRO, ELE QUER ME PEGAR -grito olhando para as pessoas.

Ele para me olhando furioso do outro lado da rua, seus olhos me penetram profundamente e nesse momento eu sei que onde quer que eu vá, Christopher vai estar atrás de mim - nesse momento eu sei que nunca me verei livre dele, Christopher me perseguirá até que eu me sucumba e seja completamente sua e de mais ninguém.

-Eu encontrarei você Kiarah, não importa onde você vá -ele fala calmamente com um sorriso maligno nos lábios.

Eu o encaro uma última vez, por segundos que parecem anos, olhos azuis gélidos, lábios rosados, cabelos negros molhados, mãos tatuada infestadas de anéis, uma marca sua que nunca mais esquecerei, é o que me fará reconhece-lo em qualquer lugar - a beleza, o charme e o carisma que atrai a sua vítima para que ele possa destruir a sua vida - seus punhos estão cerrados para conter a fúria e o monstro dentro dele e com o meu coração acelerado prestes a saltar do peito a qualquer momentos eu guardo cada detalhe seu, detalhe de uma pessoa que um dia eu gostei, uma pessoa que um dia me salvou e por ironia do destino sentirei falta da pequena parte humana que existia nele, a parte linda e sorridente, talentosa e encantadora, do sabor do beijo, do cheiro e da forma como me ajudou a superar a minha perda, é dessa pessoa que sentirei falta não do psicopata sádico sedento por sangue, dor e sofrimento - Adeus, Christopher Baronni.
Pulo na frente de um carro que freia bruscamente, uma mulher está dirigindo.
-Por favor, pode me dar uma carona para o Rio de janeiro? -pergunto desesperada.
-Claro entre -a moça diz abrindo a porta para mim.
Olho pela janela vendo-o caminhar até o carro.
-Por favor, vai rápido! -Digo desesperada.
A moça pisa fundo no acelerador arrancando dali me colocando longe daquele psicopata.

-Está fugindo de quem? -ela pergunta.
-Meu namorado, ele é louco, será que você pode ir mais rápido? Preciso chegar em um apartamento antes dele.
-Claro! Me chamo Juana e você?
-Kiarah Montgomery.
-Não é você aquela garota rica herdeira de uma fortuna nos estados unidos? -ela pergunta me olhando de relance. -Sim, sou eu mesma.
-O que faz aqui no Brasil?
-Minha tia morava aqui, ela ficou com a minha guarda depois que meus pais morreram e quando ela morreu eu fiquei em um orfanato.
-Entendi.
Olho as árvores pela janela do carro, para o tempo quente e tropical, tudo aqui do lado de fora parece calmo e tranquilo - mas aqui dentro, dentro do meu coração tudo está um caos, dentro de mim há uma confusão, uma tempestade e um medo que temo jamais ser apagado. Eu me pergunto, como deixei que chegasse a esse ponto, como eu não vi os sinais? Talvez seja porque eu estava frágil demais para perceber, deslocada em um país desconhecido, sozinha e sem esperança, desejando ser amada, acolhida, querendo desesperadamente ter mais alguém na minha vida.

A ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora