Flashback 07/01/2023

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Olá queridos leitores, essa é uma playlist no Spotify que criei com carinho caso queiram ouvir enquanto lêem.

https://open.spotify.com/playlist/67LqHq2eHF7gAopFWU3asc?si=FaUWqNeiTCGcia640z8u0w&pi=wdmjnXRnTquW9




Me jogo na cama olhando para  teto, minha vida virou de cabeça para baixo, achei que iria morrer quando fui picada por aquela cobra, eu tenho tanta sorte que fui picada por uma das cobras mais perigosas do mundo que só existe na Austrália, até hoje eles não sabem o que ela estava fazendo na Califórnia. Hoje foi o enterro dos meus pais, eles foram sepultados aqui no Brasil, estou na casa da minha tia, ela tem me tratado muito bem esses dias, mesmo com a tristeza profunda estou feliz que ainda tenho alguém, tudo o que houve comigo não sai da minha cabeça, a imagem dos meus pais mortos ao meu lado não sai da minha mente toda a vez que eu fecho os olhos.
Ouço uma batida na porta, olho para o lado e a vejo em pé me olhando, a loira mexe as mãos nervosamente e me encara com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
—Você está bem? Quer comer alguma coisa? —tia Ana pergunta.
—Eu estou bem, obrigada, só preciso dormir um pouco —digo lhe dando um meio sorriso.
Assim que ela sai pego meu celular e disco o número de Jolie.
—Alô? —eu a ouço dizer e não sei porque meus olhos adem novamente ao ouvir essa voz conhecida.
—Sou eu.
—Como você está? Fiquei tão preocupada, é verdade, o que eu vi nos noticiários?
—Infelizmente sim, meus pais se foram —digo com voz embargada.
—Eu sinto muito, quando vai voltar?
—Eu não vou voltar até 18 anos —digo suspirando.
—Vai ficar três meses aí?
—Sim, tia Ana tem a minha guarda agora.
—Eu vou sentir saudades.
—Eu também vou Jolie, eu prometo que quando eu voltar vamos comemorar em uma balada cheia de famosos como você gosta —digo sorrindo porque depois de tudo o que aconteceu ser feliz é somente o que me resta.

Já faz mais de duas semanas que eu estou com minha tia, notei que ela anda diferente — ela parece fraca e pálida, acho que está doente, mas não sei como perguntar isso a ela,  desço as escadas até a sala a sua procura, mas eu não a encontro, quand...

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Já faz mais de duas semanas que eu estou com minha tia, notei que ela anda diferente — ela parece fraca e pálida, acho que está doente, mas não sei como perguntar isso a ela,  desço as escadas até a sala a sua procura, mas eu não a encontro, quando chego na cozinha tapo a boca para conter um grito, tia Ana está jogada no chão convulsionando.
—Ai meu Deus, tia! —digo desesperada me abaixando ao seu lado.
Eu a viro de lado e espero até que ela pare, pego meu celular no bolso e disco o número da emergência.
—Boa noite, qual a emergência? —a tendente diz do outro lado da linha.
—Preciso de uma ambulância, minha tia está convulsionando e agora está desacordada.
—Uma ambulância já está a caminho.
Desligo o celular após passar o endereço e as minhas mão tremem quando guardo o celular no bolso.
—Tia acorde —eu a chamo a chacoalhando de leve, mas ela não abre os olhos.
Eu não posso perder outra pessoa, eu não vou aguentar que uma coisa dessas aconteça de novo.
Ando de uma lado para o outro preocupada com a demora da ambulância e que ela ainda  não acordou, pulo quando ouço batidas na porta, corro para atende-la.
—Onde ela está? —o paramédico pergunta.
—Na cozinha —digo dando espaço para que eles entrem.
Já na cozinha eles estabilizam minha tia e a colocam na maca.
—Eu posso ir junto? —pergunto aflita correndo atrás deles.
—Claro —o paramédico diz.
Entro na ambulância e me sento no banco vendo os paramédicos colocarem oxigênio nela, eles a examinam várias vezes checando várias coisas. Não demora muito para que cheguemos ao hospital, fico na recepção enquanto eles entram com ela.
—A médica vai fazer uma ressonância, logo ela lhe dará notícias —o paramédico informa.
Me sento na poltrona da recepção balançando minhas pernas e mexendo as mãos preocupada, eu sabia que ela não estava bem, ela parecia doente e frágil, a culpa é toda minha — eu devia ter perguntado o que estava acontecendo com ela, minhas mãos tremem muito e sinto que a minha pressão já está baixando.
Já são Horas de espera e eu ainda não tenho notícias, tenho evitado chorar apesar dos meus olhos estarem marejados . Estou com a cabeça baixa e com os cotovelos apoiados nos joelhos e tudo vem à tona novamente e sinto que estou sozinha.
—Kiarah Montgomery?
Pulo da cadeira quando a médica chama o meu nome.
—Sou eu, como ela está?
—Bom, as convulsões são efeitos do tumor, já prevíamos que isso iria ocorrer, o certo a se fazer...
—Espere só um minuto, que tumor?!
—Você não sabia?
—Sabia de que?
—Sua tia está com um tumor cerebral asa de borboleta de estágio IV  é um dos tumores mais agressivos, sua tia está em casa somente esperando confortavelmente que hora chegue... eu sinto muito, darei medicação para que ela não tenha mais convulsões —a médica diz.
Não consigo controlar as lágrimas, por isso minha mãe insistiu tanto para virmos passar o ano novo com ela — tia Ana está morrendo! Ela foi tão legal comigo, me deu um quarto e cuidou de mim, não como tinha, mas sim como mãe.
—Eu posso vê-la? —pergunto.
—Ela já está vindo, acabei de lhe dar alta.
—Posso perguntar uma coisa?
—Claro!
—Quanto tempo ela tem?
—Ela tem no máximo uma semana de vida, ele está progredindo muito rápido.
—Tudo bem.
Me sento na poltrona e espero por ela, eu não consigo acreditar no que eu acabei de ouvir — passo as mãos pelos cabelos suspirando cansada, parece que estou em um pesadelo horrível ou em um filme de terror. Isso é tão triste.
—Porque não me contou? —Pergunto assim que ela aparece, minha garganta dói com o nó que se formou nela e eu mal consigo segurar as lágrimas.
—Vamos conversar em casa?
Solto um suspiro e me levanto, caminhamos para fora do hospital e estendo a mão chamado um taxi, fico em silencio, eu não tenho o direito de ficar brava, ela não tem culpa, mas a ideia de ficar sozinha me assusta, estou em um país desconhecido, com pessoas desconhecidas, o que vou fazer quando ela se for? Como vou conseguir sobreviver com mais uma perda?
Ao chegarmos em casa ela se senta no sofá me encarando então me sento ao seu lado.
—Eu queria contar a você, só que estava tão triste pela morte de seus pais que eu não consegui dizer, me desculpe —ela diz chorando.
Olho para ela a abraçando, seu corpo treme com os soluços e assim ela parece tão frágil e ao mesmo tempo tão forte.
—Não se desculpe.
—Eu não tenho muito tempo de vida, eu queria cuidar de você.
—Tudo bem, não vamos pensar nisso, está bem? Vamos aproveitar juntas —digo enxugando as suas lágrimas e lhe dando um sorriso animado.

A semana que se passou foi muito boa, tia Ana e eu nos aproximamos muito, tento esconder minha tristeza, mas choro quando ela não está perto, a cada dia que passa ela está pior, nos últimos dias ela só dorme, come pouco e descobri que seu cabelo l...

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A semana que se passou foi muito boa, tia Ana e eu nos aproximamos muito, tento esconder minha tristeza, mas choro quando ela não está perto, a cada dia que passa ela está pior, nos últimos dias ela só dorme, come pouco e descobri que seu cabelo loiro era peruca — eu tentei a distrair o máximo, fizemos as unhas uma da outra, dançamos e até bebemos whisky, claro que tive medo que o álcool apenas piorasse mais o seu estado, mas eu não negaria isso a ela, não quando ela está prestes a morrer. Os movimentos de suas mãos já não estão tão bons, com muito custo ela me deixou ajuda-a a comer e se vestir, eu sei que ela está lutando, tia Ana tem muita vontade de viver e me dói saber que estou a um passo de perde-la e não há nada que eu possa fazer para a não deixá-la ir.
Estou parada em frente a janela vendo a chuva violenta cair, raios e trovões caem junto dos ventos fortes que balançam violentamente os galhos da árvore frondosa do jardim e sinto meu peito apertado, uma sensação de tristeza profunda como se eu fosse sugada para um abismo negro de melancolia e sofrimento, um lugar de solidão onde apenas a morte é a minha amiga. Um calafrio gelado percorre todo o meu corpo e eu coloco um casaco e desço as escada para me juntar a tia Ana na sala, ela está sentada em frente a janela em sua poltrona favorita, uma vez ela me disse que ama a chuva por mais violenta que ela seja — ela sempre me diz que depois da tempestade vem o sol radiante, mas sinto que essa noite em especial está mais triste, tenho a sensação que ela nunca vai ter fim, me aproximo dela que está de costas para mim.
—Tia, não está com frio? —pergunto vendo uma caneca na mesinha ao seu lado, deve ter acabado de passar o café pois ele ainda solta vapor.
Dou a volta na poltrona para encontrá-la.
—Tia?
Quando vejo seu rosto a tristeza me domina, seus olhos estão vidrados e sem vida — ela se foi! Não acredito que ela se foi — e aqui, estou eu sozinha novamente. Porque sou tão egoísta?! Ela estava sofrendo e tudo o que eu faço é pensar em como ficarei sozinha?
—Eu amo você —falo baixinho com o peito apertado e os olhos escorrendo lágrimas.
Pego meu celular no bolso e ligo para a emergência, como me orientaram a fazer quando chegasse a hora.
—Boa noite, qual a sua emergência?
—Minha tia acabou de falecer, ela era terminal.
—Estamos a caminho.
Minhas mãos tremem quando desligo o celular — corro para o quarto sentindo uma forte ânsia de vômito, isso é demais para mim. Me ajoelho em frente ao vaso sanitário apertando suas bordas com força — tossindo e chorando, chorando e tossindo — porque Deus? Porque foi tão injusto assim comigo levando de mim aqueles que eu mais amava?!
—Tia Ana, papai e mamãe olhem por mim aí do céu, eu amo muito vocês e um dia nos encontraremos —digo deixando que as lágrimas caiam livremente.
Meu peito se aperta com a tristeza, espero que tenha mesmo aquele sol radiante depois da tempestade violenta. Espero que um dia eu consiga juntar os cacos do meu coração.

A ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora