capítulo 29

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Azul era a cor que iluminava seus dias, a tonalidade que refletia sua essência

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Azul era a cor que iluminava seus dias, a tonalidade que refletia sua essência. Suave e profunda, como o céu ao entardecer, era a cor que eu via em você, aquele azul que me preenchia de calma e esperança.

Agora, no entanto, o azul se perdeu, dissolvido na névoa espessa da minha dor, uma lembrança distante que me escapa a cada tentativa de trazê-lo de volta. A serenidade daquela cor, que antes trazia paz, agora é apenas um eco distante, perdido no vazio que a sua ausência criou em mim.

Preto eram seus olhos, profundos como um abismo que eu temia, mas ao mesmo tempo ansiava mergulhar. Eram olhos que guardavam segredos, sonhos, e uma história que eu acreditava que poderia desvendar, mas agora, esses olhos me encaram com uma frieza insuportável.

Olham-me de longe, como se eu fosse apenas uma sombra do que um dia fomos, um reflexo distorcido de algo que já não existe mais. O vazio que esses olhos agora carregam ecoa em mim, reverberando em cada poro, uma presença opressora que me persegue em cada instante do meu dia.

A cada olhar que evitas, sinto o peso do abandono, como se cada pedaço de mim estivesse desmoronando em silêncio.

E vermelho... Ah, o vermelho foi o sangue que jorrou do meu peito, pulsando com a dor lancinante quando você disse que amava ela.

Aquelas palavras, aquelas malditas palavras, cortaram meu coração de uma forma que nem eu mesma sabia ser possível. Cada sílaba sua foi como uma faca afiada, inclemente, cortando a ligação que acreditávamos ser inquebrável.

A dor daquela revelação não era apenas física; ela se espalhou por mim, como um incêndio sem controle, queimando tudo o que restava de nós. O sangue, tão quente e vivo, agora me parece um lembrete constante do que perdi. E, no entanto, o desespero é o único sentimento que persiste, consumindo cada parte de mim, tornando-me uma casca vazia, sem identidade, apenas um eco de quem eu fui.

O azul se apagou em meio à escuridão dos seus olhos, e o vermelho se espalhou pelo chão da minha alma, manchando tudo com a tinta da traição.

Cada dia, eu vejo esse vermelho, como se fosse a cor da minha própria destruição, a lembrança de que tudo o que sonhei se desfez com um simples gesto, com uma palavra que não deveria ter sido dita.

A dor não é apenas física, ela transborda para cada canto do meu ser. É uma ferida aberta que grita em silêncio, uma tempestade de sentimentos conflituosos que me consome lentamente.

Como pude perder tudo em um único instante? Como pude ver o amor que sonhei se desvanecer diante de mim, como fumaça ao vento, sem sequer conseguir fazer algo para impedir?

Agora, restam apenas as cores: o azul da saudade, profundo e gelado; o preto da solidão, pesado e sufocante; e o vermelho da dor, vibrante e incessante. Eles formam uma paleta de tristeza, mas também me lembram de tudo o que foi real — do amor vibrante e ardente que um dia existiu e agora se perdeu nas brumas do tempo.

Cada dia que passa, as cores parecem mais desbotadas, como se a vida estivesse se esvaindo lentamente de mim, como se cada lembrança que eu tento manter se desintegrasse aos poucos.

Eu tento me agarrar a essas cores, mas elas escorregam pelos meus dedos, como água fria, como se a própria vida estivesse me deixando para trás. E assim sigo, presa nessa tela em branco, onde os traços do passado se tornaram borrões indecifráveis, uma obra inacabada que eu não consigo mais completar.

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