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Enquanto eu passava o batom nos lábios, o reflexo no espelho parecia me observar com uma intensidade desconcertante. Meu quarto estava banhado pela luz suave da manhã, e o silêncio era quebrado apenas pelo leve sussurro do vento lá fora, agitando as cortinas. Não importava o quanto eu tentasse me concentrar em cada movimento cuidadoso da maquiagem, minha mente continuava presa àquela manhã caótica.

O cheiro familiar do perfume que eu tinha acabado de borrifar pairava no ar, trazendo uma sensação de nostalgia e conforto. Eu sempre amei a rotina de me arrumar antes de ir para a faculdade, mas hoje era diferente. Havia um peso no meu peito, uma sensação de que algo estava fora do lugar.

Enquanto passava a máscara de cílios, ouvi uma batida suave na porta. Meu coração acelerou, porque eu sabia quem era.

— Entre —  disse, tentando manter a voz estável.

O som da porta se abrindo foi seguido pela presença de meu pai, que entrou no quarto com um olhar que eu conhecia bem, um misto de preocupação e tristeza.

— Podemos conversar, Rose? — ele perguntou, sentando-se na beira da minha cama.

Respirei fundo, tentando afastar a tensão que se formava em meus ombros.

— Claro, pai — coloquei a máscara de cílios de volta na penteadeira e me virei para encará-lo, o que não foi fácil. Eu sabia exatamente sobre o que ele queria falar.

— Eu estive pensando sobre o que aconteceu ontem de manhã, — ele começou, a voz baixa, quase hesitante — você sabe o quanto eu me preocupo com você. E não é só pelo fato de você ter ficado fora até tarde, mas também porque você nunca mencionou nada sobre esse Joshua... sobre o relacionamento de vocês.

Aquelas palavras me atingiram como um golpe inesperado. Eu sabia que tinha magoado meu pai ao esconder meu relacionamento, mas ouvir isso em voz alta fazia tudo parecer mais real, mais doloroso.

— Pai, não foi minha intenção te esconder isso. Eu só... não sabia como contar.

— Eu entendo que você está crescendo, que você tem a sua própria vida agora. Mas o que me machuca é a sensação de que você não confia em mim o suficiente para compartilhar essas coisas. Eu sempre quis estar ao seu lado, Rose, em tudo.

Eu podia ver a sinceridade nos olhos dele, e isso me fez sentir ainda pior. Sempre fui a menina do papai, aquela que ele protegia de tudo e todos. Mas com o tempo, especialmente após o seu sumiço e a separação, nossa relação mudou. Ele ainda era o mesmo homem amoroso e protetor, mas havia uma distância crescente entre nós, uma distância que eu não sabia como encurtar.

— Não é que eu não confie em você,— comecei a dizer, mas as palavras pareciam escapar antes que eu pudesse formulá-las completamente —Eu... eu só não queria te preocupar. Não queria que você pensasse que eu estava tomando decisões erradas.

Meu pai suspirou, passando a mão pelos cabelos, um gesto que ele sempre fazia quando estava frustrado.

— Rose, eu nunca pensei isso de você. Eu só quero que você se sinta à vontade para falar comigo sobre essas coisas. Eu sei que a vida mudou muito, que não somos mais só eu, sua mãe e você... mas ainda somos uma família, entende?

Eu queria tanto poder dizer a ele tudo o que estava preso dentro de mim. Que eu sentia falta da nossa conexão de antes, que a nova dinâmica familiar às vezes me fazia sentir deslocada. Mas, ao invés disso, tudo o que consegui dizer foi: "Eu vou tentar falar mais com você sobre minha vida."

Ele me olhou por um longo momento, como se tentasse ler algo em meu rosto que eu não estava pronta para revelar. Finalmente, ele se levantou, aproximando-se para me dar um abraço apertado.

Dear (B)romanceOnde histórias criam vida. Descubra agora