Acordei com a sensação de que algo estava fora do lugar, uma sensação desconfortável que se infiltrou nos meus pensamentos assim que abri os olhos. A luz do sol atravessava as cortinas, projetando sombras suaves nas paredes do meu quarto, mas o silêncio da casa era ensurdecedor. Olhei para o relógio na cabeceira: 8h45. Bem mais tarde do que costumo acordar, mas não importava — hoje era meu aniversário. Tinha a esperança de encontrar a casa cheia, como acontecia nos aniversários passados, com o café da manhã especial que meu pai sempre fazia questão de preparar, mas havia apenas silêncio.
Levantei-me lentamente, ainda na expectativa de ouvir vozes no corredor, talvez risadas de Henry ou o som das conversas de Nicholas com Emma. Mas quando abri a porta do quarto, fui recebida por um vazio gelado. A mansão parecia deserta, exceto pelos empregados que circulavam pelos corredores, ocupados com suas tarefas diárias. Desci as escadas para a sala de jantar, meu coração afundando um pouco a cada passo. Onde todos estavam?
Ao chegar à sala, percebi que a mesa do café estava posta como de costume, mas sem qualquer sinal de comemoração. Era como se fosse um dia comum, nada que marcasse a data especial que hoje deveria ser. Sentei-me à mesa e uma das empregadas se aproximou para servir o café. Eu a observei por um momento, esperando alguma menção ao meu aniversário, mas ela apenas sorriu educadamente e continuou com sua tarefa. "Obrigada," murmurei, tentando esconder a decepção em minha voz. Talvez eles estivessem preparando uma surpresa? Mas por que iriam fazer isso logo pela manhã?
Passei o restante do café tentando me convencer de que estava exagerando, que talvez houvesse uma explicação lógica para tudo isso. Mas à medida que o tempo passava, comecei a sentir uma irritação crescente, uma frustração que não conseguia controlar. Como era possível que ninguém, absolutamente ninguém, tivesse se lembrado?
Depois de terminar o café, subi para me arrumar para a faculdade. No caminho, encontrei Henry, que brincava sozinho no chão da sala de brinquedos. Ele me viu e soltou um grito animado, estendendo os bracinhos na minha direção.
— Oi, garotão — sorri, pegando-o no colo.
Ele riu, agarrando meus cabelos com suas mãozinhas rechonchudas. Passar tempo com Henry nas últimas semanas tinha sido uma das poucas coisas que me traziam alguma paz. Eu precisava disso, desse momento de simplicidade e amor incondicional, que ele sempre oferecia sem esperar nada em troca.
Nicholas, por outro lado, estava mais distante do que nunca. Evitávamos conversar e, quando o fazíamos, ele parecia estar sempre à beira de uma provocação. Eu sabia que ele não aprovava meu relacionamento com Joshua, mas evitava confrontá-lo sobre isso. Havia algo de amargo na forma como ele me olhava, como se carregasse um ressentimento que eu não conseguia entender completamente. Mas hoje, isso tudo parecia insignificante. Hoje, eu só queria que alguém se importasse.
Na faculdade, as coisas não foram melhores. Passei pelo campus com a esperança de que, pelo menos, Samantha ou William se lembrassem. Mas não os vi onde geralmente ficavam em horários como aquele. Meu estômago revirava com a sensação de ser esquecida. Senti minha mente vagar, incapaz de me concentrar em qualquer coisa que não fosse a solidão gritante que me envolvia. A aula passou em um borrão de palavras e diagramas que eu não conseguia processar.
Quando a última aula finalmente acabou, suspirei aliviada. Peguei minhas coisas e saí da sala, meus passos ecoando pelos corredores vazios. Resolvi checar meu celular, na esperança de encontrar uma mensagem perdida, talvez um atraso no parabéns, mas não havia nada. Nem uma palavra de Sophie, minha melhor amiga que vivia perto da minha mãe, nem um telefonema da minha mãe, que sempre me ligava na primeira hora do dia. Era como se eu tivesse desaparecido do mundo.
Decidi que não voltaria para casa ainda, não suportava a ideia de enfrentar mais silêncio e solidão. Em vez disso, optei por ir à lanchonete onde Andrew trabalhava. Eu tinha passado semanas tentando me desculpar com ele, tentando reparar o dano que causei ao fazê-lo perder o emprego anterior. Mas cada tentativa resultava em respostas hostis e olhares frios que me deixavam ainda mais frustrada. Ele era o melhor amigo de Joshua, e eu não podia aceitar que tivéssemos um relacionamento tão ruim.
Entrei na lanchonete, e o sino acima da porta soou, anunciando minha chegada. Andrew estava atrás do balcão, limpando copos com uma expressão entediada. Quando nossos olhares se encontraram, ele não demonstrou qualquer emoção, apenas um breve reconhecimento antes de voltar ao que estava fazendo. Respirei fundo e me aproximei, sentando-me em uma das banquetas no balcão.
— O de sempre, por favor — pedi, tentando soar casual.
Ele não disse nada, apenas anotou o pedido e foi preparar. Eu o observei por alguns instantes, tentando entender o que se passava em sua mente, mas ele sempre foi um mistério para mim. Quando ele finalmente colocou o milkshake e os donuts à minha frente, algo dentro de mim quebrou.
— É meu aniversário hoje — soltei, mais como um desabafo do que qualquer outra coisa.
Andrew levantou uma sobrancelha, e seu olhar era afiado, quase cruel.
— E o que você quer que eu faça com essa informação? — perguntou, sua voz carregada de sarcasmo.
Fiquei paralisada por um momento, surpresa pela frieza dele.
— Você realmente não gosta de mim, não é? — perguntei, a voz mais baixa do que eu pretendia — É por causa do Nicholas, não é? Por ele ter ficado com a sua namorada?
Andrew riu, um som curto e irônico.
— Você realmente acha que tudo gira em torno de você, não é? Olha, Rose, já fiquei aqui mais tempo do que deveria. Eu tenho trabalho a fazer — ele se afastou, sinalizando claramente que a conversa havia terminado para ele.
Minha paciência se esgotou. A raiva, a frustração e a tristeza se misturaram em um turbilhão dentro de mim. Peguei minha carteira, joguei o dinheiro no balcão e saí sem tocar na comida. Meu coração batia acelerado enquanto caminhava apressadamente até a saída. Do lado de fora, a luz do sol parecia brilhante demais, o mundo continuava como se nada estivesse errado, mas dentro de mim, tudo estava em frangalhos.
Abri a porta do carro e pedi ao motorista que me levasse para longe dali, para algum lugar onde eu pudesse ficar sozinha. Ele me olhou pelo retrovisor, claramente preocupado, mas não disse nada, apenas assentiu e começou a dirigir.
O carro seguiu em direção ao campo, as ruas da cidade ficando para trás enquanto eu tentava processar tudo o que tinha acontecido. Mas era difícil, o nó na minha garganta só apertava mais, e as lágrimas que eu tanto tentei segurar finalmente começaram a cair.
Não sabia exatamente para onde estávamos indo, mas quando o carro parou em uma pequena clareira, com árvores altas ao redor, senti um alívio imediato. Saí do carro e me afastei um pouco, sentindo a grama sob meus pés e o vento suave no rosto. Me permiti chorar, chorar por tudo — pela solidão, pelo esquecimento, pela dor que eu carregava no peito há tanto tempo. Me sentei no chão, abraçando meus joelhos, tentando encontrar algum conforto na natureza ao meu redor.
O silêncio era pesado, mas era um silêncio diferente, um silêncio que não me sufocava, mas que me acolhia. Por um momento, fechei os olhos e apenas respirei, tentando me reconectar comigo mesma, tentar entender como tudo tinha chegado a esse ponto. Pensava em como, ao longo desse último mês, eu tinha me distanciado tanto das pessoas ao meu redor sem nem perceber. Tinha mergulhado nos estudos, tentado manter as aparências, mas no fundo, eu estava me afastando.
Pensei em Joshua, em como ele sempre foi meu porto seguro, mas agora, mesmo com ele, parecia haver uma barreira. Será que ele também tinha esquecido? Será que nossa relação estava mudando? Pensei em Emma, Nicholas, e até mesmo em Henry. Todos pareciam tão distantes, mesmo quando estavam por perto.
Fiquei ali por horas, só eu e meus pensamentos, até que o sol começou a se pôr e o ar ficou mais frio. Finalmente, decidi que era hora de voltar. Não podia fugir para sempre.
Ao voltar para o carro, sentia uma sensação estranha, um misto de tristeza e aceitação. Talvez fosse assim que as coisas tinham que ser. Talvez estivesse na hora de parar de esperar pelos outros e começar a viver por mim mesma.
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Dear (B)romance
Teen FictionRose mal podia acreditar na situação em que se encontrava. Ela não só tinha ido para uma nova cidade onde conheceria novas pessoas, mas também tinha ido para uma cidade onde teria um estilo de vida completamente diferente do que estava acostumada. S...