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Eu estava distraída, deitada na cama, encarando o teto como se de repente pudesse encontrar respostas para tudo ali. Minha mente estava uma bagunça, como sempre, mas dessa vez, o que me ocupava não eram meus problemas ou a confusão em minha mente. Era Andrew.

Lembrar da nossa última conversa, quando ele me devolveu o lanche que eu havia deixado na lanchonete, mexia comigo. Não pela conversa em si, mas pela expressão no rosto dele. Havia algo naquele olhar que eu não conseguia esquecer — um tipo de dor cravada em seus olhos, como se estivesse carregando um peso que não tinha sido só ele quem colocou nos ombros. Era isso que mais me incomodava. Aquela dor tinha um nome. Jennifer.

Jennifer tinha quebrado Andrew de uma forma que eu mal conseguia compreender. Era tão comum ouvir histórias sobre homens que magoavam mulheres, que traíam, mentiam, e deixavam marcas difíceis de apagar. Mas ninguém falava muito sobre o contrário. O que acontece quando uma mulher destrói um homem? Será que a sociedade ignora porque espera que eles sejam sempre fortes, inabaláveis? Porque achamos que não dói neles da mesma forma?

O que Jennifer fez com Andrew… Eu ainda não sabia todos os detalhes, mas eu sabia o suficiente para entender que havia cicatrizes ali. E não eram pequenas. Penso em Nicholas, tão apaixonado por Jennifer agora. Será que ele não teme que ela faça o mesmo com ele? Será que ela sente alguma vergonha, ou remorso? Ou será que simplesmente seguiu em frente como se nada tivesse acontecido, como se o coração de Andrew fosse algo descartável, que ela pudesse quebrar e deixar para trás sem pensar duas vezes?

Suspirei, virando de lado na cama, e meu olhar caiu sobre meu celular. De repente, tive uma necessidade quase urgente de falar com alguém sobre isso. Então, liguei para Samantha.

— Oi, Sam— falei assim que ela atendeu.

— Ei! Tudo bem? — ela perguntou, a voz animada como sempre.

— Hm… sim e não. Na verdade, queria falar com você sobre uma coisa.

— Claro, fala!

Hesitei por um segundo, sem saber bem como começar. Como eu poderia explicar para Sam, que gostava tanto de Andrew, que talvez fosse perigoso para ela se envolver com ele agora? Não porque ele não fosse uma boa pessoa, mas porque estava ferido, e feridas assim podiam ser perigosas.

— Eu… Eu tenho pensado sobre o que você pediu, sobre o Andrew —  comecei, tentando medir minhas palavras.

— Ah, é?—  a voz dela ficou ligeiramente mais animada, como se soubesse para onde a conversa estava indo.

— Sim. Sam, eu sei que você gosta dele, mas… eu realmente acho que talvez não seja uma boa ideia você tentar ficar com ele agora.

O silêncio do outro lado da linha foi quase palpável, antes que ela finalmente respondesse.

— Por quê? Ele é uma boa pessoa, Rose. Você sabe disso.

— Eu sei, mas… é complicado. O que Jennifer fez com ele… eu não sei se ele está pronto para outro relacionamento, entende? Ele parece quebrado, Sam. Aquele olhar dele... Ele está magoado de um jeito que talvez você não consiga curar.

Samantha ficou quieta por alguns instantes, e eu sabia que ela estava processando o que eu disse. Talvez estivesse imaginando o que Andrew sentia, o quão profunda era aquela ferida. Mas quando finalmente falou, a voz dela tinha uma leve teimosia que eu conhecia bem.

— Talvez ele não esteja tão mal assim. E mesmo que esteja, quem disse que eu não posso ser a pessoa que ajuda ele a superar isso?

Balancei a cabeça, mesmo sabendo que ela não podia me ver. Não era isso que eu queria dizer, mas estava ficando claro que eu não conseguiria fazê-la entender naquele momento.

Dear (B)romanceOnde histórias criam vida. Descubra agora