Recaída

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Narrador: Quando Daniela chegou na portaria, foi avisada que a outra ainda não tinha chegado do trabalho. Como já conhecia o porteiro, pediu que o outro liberasse a entrada dela no estacionamento, lhe dizendo que tinha esquecido as chaves.
Em vez de ficar na garagem, saiu do seu carro e subiu até o andar do apartamento de Malu.
Esperou, esperou, esperou. Já estava pensando em voltar pra casa, quando viu o elevador abrir a porta e de lá de dentro, a jornalista sair:

- Daniela? - se assustou com a mulher encostada na parede.

- Precisamos conversar - se limitou a dizer.

- Já falamos tudo - engoliu a seco, procurando qual chave  abrir a porta.

- Não falamos não! Eu quero explicações! - se exaltou - explicações sólidas, porque o que você me disse naquela noite, ainda está entalado aqui na minha garganta - passou a mão na jugular.

- Eu não quero discutir - já pensava na dor que poderia a assolar novamente.

- Não discutimos, mas preciso conversar com você! - foi enfática.

Malu se deu por vencida e virou a chave na porta:

- Seja breve, por favor! - arreou a bolsa no aparato ao lado.

Daniela ficou a olhando por longos minutos, mas Malu se pronunciou:

- Não disse que queria conversar?

A outra balançou a cabeça, dizendo que sim.

- Então fala, ué!

- Estou aqui tentando encontrar aquela Malu de 8 dias atrás. Aquela que daqui a uma semana, iria viajar comigo. Aquela Malu, que dizia que me amava, que me fazia declarações, dizendo que eu - repetiu - eu era o amor da vida dela. Aquela que dizia que nunca tinha estado tão feliz na vida, mas te olhando assim, só vejo você me dizendo que ama outra e que esteve com ela todo esse tempo, desde que começamos nosso relacionamento.

- Eu não mando no meu coração - andou pela sala - se é isso o que você quer saber!

- Como não? Que intuito foi esse de começar algo comigo e já ter outra em sua vida? - sorria com a mágoa no olhar.

- Você insistiu tanto... - sorriu sem graça.

- E agora você percebeu que não era isso o que queria, é isso? Porque falei em abrirmos nosso relacionamento pra todo mundo saber, para morarmos juntas, para sermos mães em conjunto das meninas, foi isso?

Malu ficou calada. Estava sendo pega de surpresa com aquelas indagações da outra.

- É isso né? A partir do momento que quis algo mais sólido, você viu que não ia dar pra manter as duas... - balançava a cabeça dizendo que sim, como se tivesse constatando algo pra si mesmo.

- Talvez, seja isso. Eu estava acabando de sair do meu casamento. Tudo o que eu menos quero, é viver outro casamento agora!

- Mas quer ficar com a outra! - se enraivou - você me levou pra conhecer seus pais, Malu!!! - constatou - quanto teatro!

- Quem que insistiu para que fôssemos apresentadas às nossas famílias? Quem?

- Ah certo!!! Tudo o que você fez agora, foi forçado!!

- Não é isso, mas fui sendo levada pelas situações, o que não acontece com ela. Estamos namorando, nos curtindo, sem pressão de nada.

- Quem é ela?

- Isso não importa, Daniela!

- Como não? Quero ao menos, saber por quem estou sendo trocada!

- Não importa, já lhe disse! Apenas posso te dizer que ela é uma pessoa normal - foi cortada pela outra.

- Ahhhh e eu não sou? - gritou forte, já com ódio.

- Você entendeu... ela não é famosa, não é artista, apenas uma mulher normal.

- Eu odeio você! - foi de encontro ao corpo de Malu, a estapeando com vontade.

- Pára com isso, Daniela - tentava se desvencilhar da outra - você vai se machucar.

- Eu te odeio, Malu - começou a chorar desesperadamente - eu odeio você - foi sendo dominada pela jornalista.

- Não faz isso - a trouxe pra perto de si - não éramos para acontecer nesse momento, tenta entender de uma vez por todas e segue em frente na sua vida.

- Como você quer que eu siga em frente, te amando? - ainda batia com a mão fechada no peito de Malu, que tentava contê-la - me diz! - e continuava a chorar.

Malu estava desolada de vê-la daquele jeito e aos poucos, sem se conter mais, a beijou fundo.
Em um primeiro momento, Daniela tentou se desvencilhar, porque não aceitava ser beijada pela jornalista, sabendo que ela tinha beijado a outra em outro momento do dia, mas depois, estava com tantas saudades de senti-la que permitiu que a língua da outra adentrasse sua boca com vontade, fazendo seu corpo estremecer. Se beijaram por longos minutos, os lábios avermelhados com a pressão que faziam uma na boca da outra, até que Malu a empurrou em direção ao seu quarto, tirando por cima do ombro, a bata que ela usava, revelando seu sutiã de renda:

- Não, pára, eu não quero - Daniela tentava resistir, mas queria se entregar.

- Claro que você quer! - a beijou novamente, retirando agora, a sua blusa.

- Pare Malu - tentou manter o equilíbrio, mas Malu a empurrou gentilmente na cama, já ficando por cima dela.

Malu não obedeceu ao que Daniela pedia. No fundo, sabia que a cantora também queria. Ainda sentiu as mãos pequenas de Daniela em seu cabelo, ora pedindo que ela se afastasse, ora a trazendo de encontro aos seus seios que já estavam descobertos.

Se amaram, Malu passando o nariz em todo o corpo da outra, a mordiscando nas costas, acariciando firme o bico dos seios dela, a pegando pelos cabelos com vontade, mas sem violência. Daniela só gemia, chamando pela amada, sentindo seu corpo roçar no dela, num vai e vem sem fim, gozando nos dedos da jornalista.
Caíram exaustas uma do lado da outra, mas Malu logo se levantou, pegou sua blusa vestindo-a e ficou sentada de costas pra outra. Passou a mão no rosto e nos cabelos, como se tivesse se arrependido do ato que tinha cometido:

- Vem viver comigo, meu Amor - a abraçou por trás - eu passo uma borracha em tudo o que aconteceu... eu passo por cima da traição, eu te perdoo - Daniela ponderou.

Continuou:

- Estou disposta a esquecer tudo, por você. Pelo amor que sinto por ti. Eu sei que você sente algo por mim também - beijou o ombro da outra - vem, vamos ser felizes.

Malu ouvia tudo calada e só pensava em como iria dissuadir a mulher de não mais procurá-la. Ficou em silêncio e sentiu Daniela colocar agora, a cabeça no seu ombro, como se implorasse por algo.

- Eu não posso - deu uma pausa na sua fala, engolindo a seco aquilo que viria a falar depois - eu a amo muito para me separar dela.

Daniela caiu num choro sentido e aos poucos, foi tirando os braços ao redor da outra. Com muita dificuldade, se levantou da cama e foi vestindo suas roupas, soluçando, fazendo Malu chorar também. Quando terminou de vestir tudo, estava trêmula com a confissão da mulher que amava, mas não hesitou em sair dali de cabeça erguida, sabendo que nunca mais teria a mulher de sorriso tímido, como sua.

Extras - Daniela e Malu 💌Onde histórias criam vida. Descubra agora