Pandemia - Parte V - É Preciso Tolerar

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Narrador: No outro dia quando acordou, Malu lembrou da briguinha que tinha tido com sua mulher, mas estava tão enjoada esses dias, que sabia que a culpa tinha sido de ambas. Ela, porque estava irritada por causa da TPM e tudo que envolve aquele período e Daniela, porque sempre fazia o que queria. A olhou na cama por alguns instantes e depois, se encaminhou até o banheiro pra tomar um banho e aliviar as dores que tinha no ventre.

Quando desceu pro café, a cantora já encontrou suas filhas e a esposa à mesa, fazendo o desjejum:

- Bom dia, minhas filhas... dormiram bem? - foi beijando a cabeça de cada uma que respondia que sim.

- Bom dia, Malu - lhe deu um selinho e foi correspondida, apesar da mulher ter a cara fechada e não responder.

- Quer que eu te ajude no almoço? - deixou o líquido quente e preto cair na caneca.

- Não precisa não... eu vou fazer algo bem simples pra hoje - respondeu de má vontade.

- Pensei que poderíamos comer um empadão - mas foi cortada pela mulher.

- Estou sem a mínima disposição pra nada hoje - se levantou e foi recolhendo as xícaras das meninas.

- Está certo, o que precisar de mim, pode me chamar - falou receosa.

Malu não falou mais nada. Realmente, estava chateada e os hormônios do período estavam a deixando louca. Fez outras tarefas e depois chegou na cozinha pra fazer o almoço, já que era a cozinheira oficial da casa. Ia fazendo o que tinha que fazer ali, até sentir ser abraçada por trás por Daniela que vinha chegando até o cômodo:

- Amooor - a abraçou mais forte - quer que eu te ajude?

- Eu não já disse que não? - parou por um momento o que estava fazendo.

- Não briga comigo não, Amor - fez dengo querendo que a outra esquecesse o episódio de ontem.

- Não estou brigando!

- Mas está me tratando assim... com essa má vontade e frieza - a largou e esperou que ela virasse pra frente.

- Você está muito mal acostumada que eu faça todas as suas vontades - ainda tinha a cara fechada.

- Confesso que gosto quando você me mima... - fungou o cangote da outra.

- De hoje em diante, isso irá mudar!

- Não, deixa de ser boba, de fazer birrinha, deixa... já estamos passando por esse momento horrível na nossa vida com essa pandemia.

- Deixa eu terminar de fazer meu almoço em paz - cortou a conversa e se desvencilhou dela de vez.

Passaram o dia todo, meio que estranhas uma com a outra. Até as meninas tinham percebido o comportamento de ambas, mas não disseram nada. Ao anoitecer e todas se recolherem, Daniela ainda tentou mais uma vez consertar aquela situação, que em partes, foi causada por ela:

- Malu... vem cá, vem - indicou seu colo pra ela.

- Estou lendo, Daniela - tinha um livro nas mãos e seu abajur ligado.

- Lê depois... vem ficar de denguinho aqui comigo.

- Você fez a live depois? Me atendeu quando eu pedi que terminasse logo?

- Aiii não!!! Não! Não!! - alterou a voz - e depois, você ainda diz por aí que sou eu a que guardo mágoas e não esqueço o que fizeram comigo.

- Mas é a verdade!!!!

- Escuta, você quer conversar sobre isso, Malu?

- Eu quero que você me ouça quando eu te pedir as coisas! Porque não é só sobre você... é sobre mim também!! Eu tenho minhas vontades e desejos e preciso que eles sejam atendidos de vez em quando! Ou estou sendo muito egoista pra você?

- Tudo isso, por causa de uma live? - balançou a cabeça negativamente - ok! Vou te ouvir mais agora e atender seus desejos. Está bom assim?

- Faça o que você quiser! - não estava satisfeita com aquela resolução do problema. Desligou o abajur e jogou o livro sobre a mesinha ao lado da cama.

- É a TPM que está te deixando assim né? - ponderou.

- Esses dias é! Mas e quando não tem? Eu simplesmente atendo seus desejos - tinha um pouco de mágoa na voz.

- Me desculpe, me desculpe se te chateio sendo assim. Eu prometo que vou tentar ajeitar isso, mas não fica irritada e desse jeito não.

- Ok... estamos conversadas.

- Quer ficar aqui comigo?

- Hoje não... quero dormir à vontade na cama, não estou legal.

- Tudo bem... está sentindo dor? Quer um remédio?

- Está tudo bem... eu vou dormir. Boa noite.

Daniela ainda ia tentar mais alguma coisa, mas viu que não adiantaria. Se virou pro lado na cama e ficou refletindo sobre tudo e depois, pegou no sono.

O outro dia chegou e as duas mantiveram o afastamento. Se falavam e resolviam coisas que tinham em comum, mas não se tocavam ou trocavam algum tipo de carinho. Daniela, como viu que Malu estava assim, resolveu deixar as coisas se resolverem por si só e não insistir mais. Mas Malu, já sentia falta da mulher e estava tão sensível esses dias que na noite posterior, a abordou quando estavam na cama:

- Você vai ficar assim comigo, pro resto da vida? - Daniela mexia em seu celular.

- Assim como? - falou sem olhá-la.

- Mantendo a distância de mim, como se fôssemos duas estranhas dentro dessa casa.

- Estou dançando conforme a música, Malu.

- Até as meninas já perceberam e vieram me questionar.

- O que você quer que eu faça? Eu tentei... - continuou olhando as redes.

- Me faz uma massagem, aqui? - apontou pro ventre.

Daniela não respondeu logo e depois de algum tempo, vendo Malu ainda a esperando, largou o celular, tirou o óculos e se virou encarando a mulher:

- Ainda com cólicas?

- Um pouco, por causa do término do período.

Não falou mais nada e começou a apertar o local, fazendo movimentos leves na outra:

- Eu sei que fico insuportável quando estou assim... mas assim que passar essa pandemia, vou falar na terapia sobre isso.

A cantora não disse nada e ia ouvindo a mulher puxar assunto sobre outras coisas, mas manteve-se calada em boa parte da conversa:

- Aliviou mais um pouco? - perguntou.

- Suas mãos são mágicas, Dam - sorriu.

- É bom colocar uma compressa de água quente também - ia tirando suas mãos do local, mas Malu a segurou.

- Fica aqui, fica - a olhava nos olhos, querendo algo mais daquele momento.

- Já aliviou Malu...

- Mas não é sobre a dor e sim, sobre ter você aqui - alisava a mão da outra - me dá um beijo.

Daniela selou seus lábios aos da jornalista, mas quando essa pediu passagem com a língua, ela interrompeu:

- Estou cansada... com um pouco de dor de cabeça.

- Está certo - a largou - mas você estava agorinha com os olhos na tela do celular.

- Acho que mexer no meu celular, eu ainda posso né?

- Já entendi, não precisa me responder assim.

- Eu estou falando normal, Malu!

- Ok! Ok! Vou dormir, boa noite.

Como todo casamento e todo relacionamento que envolve duas pessoas, muitas situações precisam ser conversadas. Muita das vezes, é necessário ponderar, tolerar, ceder... quem acha que a vida é um mar de rosas, mesmo quando se tem muito amor envolvido, como é o caso das protagonistas aqui, está totalmente enganado!

Continua...

Extras - Daniela e Malu 💌Onde histórias criam vida. Descubra agora