Capítulo 2

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AGNES

O ar parecia vibrar ao meu redor, os sons da festa se fundindo em uma confusão distante enquanto eu tentava, sem sucesso, manter o pedaço rasgado do meu vestido sobre meu corpo. Meus dedos tremiam, e o pânico crescia no meu peito. Senti meus olhos ardendo com as lágrimas que eu lutava para segurar. De repente, uma sombra se aproximou, e antes que eu pudesse reagir, um paletó foi colocado gentilmente sobre meus ombros.

Levantei o olhar, confusa e ainda assustada. Ele era alto, de feições sérias e uma expressão calma que contrastava com a minha própria confusão. O paletó era pesado e cheirava a colônia masculina — um aroma amadeirado e sutil que de alguma forma me fez sentir um pouco mais protegida, mesmo que por um instante.

— O que está acontecendo? — ele perguntou, a voz baixa e firme.

Seus olhos me analisavam com um misto de curiosidade e preocupação.  Engoli em seco, tentando encontrar as palavras, mas minha voz saiu trêmula, quase um sussurro: 

— Eu... Eu não sei. Achei que era uma festa para fazer presença VIP, mas... — balancei a cabeça, como se tentasse apagar a imagem do que eu tinha acabado de ver. — Acho que estou no lugar errado.

Ele me observou por um momento, os olhos firmes, avaliando a situação. Então, fez um gesto discreto com a cabeça, sinalizando que eu o seguisse. 

— Venha comigo. Vamos conversar em um lugar mais tranquilo.

Segui-o sem pensar duas vezes, meus passos hesitantes ecoando pelo chão de concreto enquanto ele me guiava por corredores que pareciam cada vez mais distantes do caos da festa. Quando entramos em um escritório pequeno e mal iluminado, ele fechou a porta atrás de nós, isolando o som abafado da música e dos risos vindos do salão. O silêncio foi quase um alívio imediato, mas o nó no meu estômago só apertava.

— Senta aí — ele indicou uma cadeira com um aceno. — Vou pedir um pouco de água para você.

Meus músculos estavam tensos, mas obedeci. O paletó dele ainda pendia nos meus ombros, me cobrindo como um escudo frágil contra a realidade de onde eu estava. Ele pegou o celular do bolso e, com poucos toques, fez o pedido para alguém. Em pouco tempo, um garçom apareceu com um copo de água. Bebi alguns goles, tentando acalmar os tremores que corriam pelas minhas mãos.

— Agora, pode me explicar como você veio parar aqui? — ele perguntou, sentando-se na cadeira oposta, cruzando os braços enquanto me olhava atentamente.

Respirei fundo, ainda processando o que havia acontecido. 

— Foi a minha agência... Eles disseram que eu faria uma presença VIP no Baile das Piranhas. Que seria um evento para influenciadores divulgarem... — As palavras saíam desordenadas, uma tentativa desesperada de me fazer entender. — Mas quando cheguei aqui, nada fazia sentido. Isso... isso não é o que eles disseram.

Os olhos dele se estreitaram levemente, como se ele estivesse processando as informações. 

— O Baile das Piranhas não é exatamente uma festa comum — ele começou a explicar, sua voz calma, mas com uma gravidade que me fez prender a respiração. — É, na verdade, uma espécie de leilão. As mulheres presentes... são leiloadas para passar uma semana com o homem que pagar mais por elas.

O chão pareceu sumir sob meus pés. O pânico me tomou de novo, dessa vez com força total. Senti meu corpo inteiro esquentar, as batidas do meu coração ressoando nos meus ouvidos. 

— O quê? — Minha voz saiu abafada, quase um sussurro. — Não... não pode ser. Isso é um engano. Eu não sou garota de programa! — Meus olhos se arregalaram, o desespero me invadindo. — Isso não pode estar acontecendo.

— Qual seu nome?

— Agnes Ferreira.

Ele me observou em silêncio por um momento, antes de suspirar, pegando o celular mais uma vez.

— Meu nome é Álvaro — ele se apresentou finalmente, com uma calma que me deixava ainda mais tensa. — E você realmente está em uma situação complicada. Veja... — Ele deslizou o dedo na tela do celular e o entregou para mim. — Aqui está o contrato que você assinou com a agência.

Eu peguei o celular com dedos trêmulos, meus olhos varrendo a tela. As palavras pareciam borrões, e meu estômago se revirou ao ver o que ele me mostrava. 

— Leia a cláusula 14 — ele apontou.

Meu coração quase parou quando encontrei a parte destacada. O contrato mencionava, de forma clara, que eu havia concordado em participar de um leilão. Meu corpo inteiro ficou dormente, e a realidade bateu com força. 

— Isso... isso não pode ser verdade... — eu murmurei, sentindo as lágrimas começarem a se formar nos meus olhos. — Eu... Eu não sabia. Tem que haver uma maneira de desfazer isso!

Ele pegou o celular de volta, deslizando a tela novamente. 

— Leia a cláusula 20 — ele disse, com a mesma calma perturbadora.

Eu fiz o que ele pediu, meus olhos fixos no texto. Lá estava: uma multa astronômica para quem tentasse rescindir o contrato. O valor era tão absurdo que minha mente não conseguia processar. 

— Eu... eu não tenho como pagar isso — sussurrei, sentindo as lágrimas rolarem pelo meu rosto. — Isso é impossível... Eu não posso fazer isso.

Álvaro recostou-se na cadeira, seus olhos ainda cravados em mim. Ele parecia ponderar suas próximas palavras, enquanto eu me afundava cada vez mais no desespero.

— Se acalme — ele disse, sua voz firme, mas não cruel. — Eu vou tentar ajudar você, mas você precisa entender que essa situação é mais complicada do que parece. Mantenha a calma, e talvez possamos encontrar uma solução.

Eu o olhei, com as lágrimas agora manchando minhas bochechas. Minhas esperanças estavam por um fio, e a realidade me esmagava. Estava presa em um pesadelo do qual parecia impossível acordar.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora