AGNES
Eu mal conseguia respirar quando ele se levantou, gesticulando para que eu o seguisse. Ainda em choque com tudo que tinha descoberto, me senti fraca, como se minhas pernas pudessem ceder a qualquer momento. Mas o tom calmo e firme de Álvaro me fez continuar. Ele não parecia cruel, mas também não era totalmente benevolente. Havia algo nele que me fazia querer confiar, embora o medo ainda estivesse presente.
Subimos as escadas de um prédio que parecia labiríntico. O som abafado da festa se distanciava à medida que avançávamos. As paredes eram cobertas de pôsteres antigos e manchados, e o cheiro de mofo se misturava ao perfume amadeirado de Álvaro, criando um contraste estranho, mas que de alguma forma me dava a ilusão de estar segura.
Chegamos a um quarto discreto. Ele abriu a porta com um empurrão suave e acendeu a luz. O ambiente era simples, mas limpo, com uma cama grande no centro e um armário pequeno no canto. Sobre a cama, dobrado cuidadosamente, havia um vestido preto. Álvaro apontou para ele com a cabeça, sem me encarar diretamente.
— Vista isso, pedi pra um dos funcionários providenciar para você. — A voz dele era firme, quase um comando, mas sem agressividade. — Pode usar o banheiro ali.
Eu segurei o paletó mais apertado contra o corpo, o tecido quente contra a minha pele fria de nervosismo. A cabeça ainda latejava com todas as informações, e o peso da situação parecia se intensificar a cada segundo. Balancei a cabeça, incapaz de dizer uma palavra, e entrei no banheiro pequeno.
No banheiro, me encarei no espelho. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, e a maquiagem havia se borrado em manchas pretas sob meus olhos. Respirei fundo, tentando controlar as lágrimas que insistiam em voltar. Tirei o paletó com cuidado e deixei que caísse sobre a pia. Meus dedos trêmulos deslizaram pelo tecido macio do vestido preto enquanto eu o vestia. O tecido caía perfeitamente, moldando-se ao meu corpo de uma forma quase desconfortável. Me olhei no espelho mais uma vez, tentando me reconhecer.
“Eu posso fazer isso”, pensei, mesmo sem acreditar. Não tinha escolha.
Quando saí do banheiro, Álvaro estava de pé, de costas para mim, olhando pela janela. Ao ouvir a porta, ele se virou e me analisou por um breve momento, os olhos sem qualquer emoção óbvia.
— Vai funcionar — ele afirmou, mais para si mesmo do que para mim.
— Funcionar? — Minha voz saiu em um sussurro, fraca e cheia de incerteza.
Ele se aproximou devagar, mas sem invadir meu espaço. Seu olhar era intenso, como se ele estivesse medindo cada palavra antes de falar.
— Eu vou pagar por você no leilão — ele disse com uma frieza calculada, como se fosse apenas um negócio. — E antes que você pergunte, não vou te obrigar a nada. Você não terá que fazer absolutamente nada comigo.
Eu pisquei, confusa, tentando processar suas palavras. O alívio misturado à dúvida crescia dentro de mim.
— Então por que...? — comecei, mas ele me interrompeu.
— Porque não posso permitir que isso se torne uma fraqueza — ele respondeu, seus olhos agora presos nos meus. — Se eu permitir que você desista, outras garotas vão pensar que podem fazer o mesmo, e esse lugar... — ele fez um gesto vago, referindo-se ao ambiente ao nosso redor —... não funciona assim. É tudo questão de manter a ordem.
Eu o encarei, tentando entender o que ele realmente queria.
— Então, eu... só preciso passar uma semana com você? — perguntei, ainda incerta sobre o que ele estava pedindo.
Ele assentiu lentamente.
— Isso mesmo. Não vou te forçar a nada, mas você precisa ficar comigo durante esse tempo. É a única maneira de evitar que as coisas piorem para você e, honestamente, para mim também.