Capítulo 17

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AGNES

Eu estava arrumando minhas coisas quando senti o peso da tensão no ar. Desde a noite anterior, algo parecia ter mudado entre mim e Álvaro. Não era apenas a tensão sexual que sempre esteve lá, escondida entre as palavras e os olhares. Era algo maior, mais sombrio, como uma ameaça velada que pairava entre nós. Ele tinha deixado claro que queria que eu ficasse, mas havia algo em sua postura, em suas palavras, que me fez sentir que, se eu tentasse ir embora, talvez ele não me deixasse.

Minha mala estava aberta na cama, e eu empurrava minhas roupas para dentro dela sem muito cuidado. Meu coração estava acelerado, e cada vez que meus dedos tocavam o tecido das roupas, eu me perguntava se estava tomando a decisão certa. Aqueles dias na casa dele tinham sido intensos, e parte de mim, uma parte que eu não queria admitir, estava relutante em ir embora. Mas eu sabia que tinha que fazer isso. Precisava retomar o controle da minha vida, sair daquela bolha sufocante.

Ouvi a porta do quarto se abrir, e meu corpo enrijeceu. Álvaro estava parado na porta, seu olhar fixo em mim, e eu sabia que ele não tinha vindo só para me dizer adeus.

— Você vai mesmo embora? — ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de um tom que me fez estremecer.

— É o que combinamos, não é? — Tentei soar firme, mas minha voz tremeu um pouco.

Ele me deixava nervosa de uma forma que eu odiava, e ao mesmo tempo, me atraía de um jeito que eu não conseguia controlar.

Álvaro deu alguns passos para dentro do quarto, as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Ele parecia calmo, mas havia algo em sua postura que indicava que estava longe de estar relaxado.

— Tenho uma proposta para você, Agnes — ele disse, com aquele tom que parecia deixar tudo em suspenso, como se soubesse que suas palavras mudariam o curso da nossa conversa.

Larguei a blusa que estava dobrando e o encarei. Uma proposta? Eu podia sentir meu estômago se apertar de ansiedade. O que mais ele queria de mim?

— Proposta? — perguntei, tentando manter a voz controlada.

— Dez milhões de reais — ele disse as palavras devagar, como se estivesse pesando o impacto delas em mim. — Uma casa, um carro... Se você ficar mais um tempo comigo.

A sala pareceu encolher, o ar ficando mais pesado. Dez milhões de reais? Uma casa? Um carro? Ele estava basicamente tentando comprar minha permanência. Era isso. Eu era só mais uma peça no jogo dele, e por mais que eu soubesse que algo assim poderia acontecer, a realidade do que ele estava me oferecendo me atingiu como um soco.

— Dez milhões... — repeti, quase sem acreditar, tentando entender as implicações do que aquilo significava.

Eu sabia que o dinheiro era uma tentação. Dez milhões poderiam mudar a minha vida para sempre. Uma casa, um carro, uma segurança financeira que eu jamais sonhei em ter. Mas ao mesmo tempo, era como se ele estivesse comprando minha liberdade. Estava tentando me prender ali, com ele, como se eu fosse algo que pudesse ser adquirido, mantido por perto pelo preço certo.

Olhei para ele, tentando entender suas motivações.  Por que ele estava tão empenhado em me manter por perto? O que eu tinha de especial para ele?

— Por que você quer que eu fique? — Perguntei, minha voz mais baixa agora. Eu precisava entender. — Você é rico, bonito... Pode ter qualquer mulher aos seus pés. Por que eu?

Álvaro me olhou por um longo momento, como se estivesse decidindo o quanto me contar. Ele se aproximou da janela, cruzando os braços enquanto olhava para fora.

— Porque você não é como as outras. — Ele disse, sem olhar para mim. — As únicas mulheres que aceitariam ser vistas comigo publicamente são as conservadoras, alinhadas com a imagem que eu preciso manter... E eu prefiro as que exibem a bunda no Instagram, como você. — Ele soltou uma risada seca, quase sem humor.

— Você está tentando comprar a minha liberdade, Álvaro — falei, encarando-o diretamente. — E eu não quero ser comprada.

Ele finalmente se virou para me encarar. Seu rosto estava sério agora, e eu podia ver a tensão em seus olhos.

— Não estou te comprando, Agnes. Estou te oferecendo uma vida que qualquer pessoa no seu lugar aceitaria de bom grado. Você pode ter tudo que quiser, sem preocupações. O que mais você poderia querer?

Aquela pergunta me irritou. O que mais eu poderia querer? Talvez liberdade de verdade. Talvez a chance de viver minha vida sem ser controlada, sem ser comprada.

— Esses dias aqui foram intensos, Álvaro — comecei, tentando manter a calma. — Mas eu não posso ficar. Mal apareci nas minhas redes sociais, porque não posso postar fotos de onde estou. Se as pessoas descobrissem que estou na sua casa, seria um desastre, tanto para mim quanto para você. Eu perderia seguidores, patrocínios, tudo pelo que trabalhei. E você? Seu nome está ligado à política conservadora, direita... Você perderia ainda mais.

Ele não respondeu imediatamente. Apenas ficou me olhando, os olhos semicerrados, como se estivesse considerando minhas palavras. Eu sabia que ele não estava acostumado a ouvir "não", especialmente de alguém como eu. Mas eu também sabia que estava tomando a decisão certa, por mais difícil que fosse.

— Então você está dizendo não à minha proposta? — Ele finalmente perguntou, sua voz agora mais fria, distante.

— Estou — respondi, tentando parecer firme. — Eu não posso aceitar isso.

Álvaro ficou em silêncio por alguns segundos, e eu pude ver a raiva crescer em seus olhos. Ele não gostava de ser contrariado. Mas ele também era esperto o suficiente para não forçar nada. Ao menos, era o que eu esperava.

Ele se aproximou de mim, o rosto tenso, e por um momento pensei que ele iria me impedir de sair. Mas, ao invés disso, ele soltou um suspiro pesado.

— Tudo bem. — Disse, com um tom de voz seco. — Vou providenciar um carro para te levar ao aeroporto.

Sem mais uma palavra, ele se virou e saiu do quarto, deixando-me sozinha com minhas decisões e a mala aberta diante de mim.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora