Capítulo 14

629 129 43
                                    

AGNES

O apartamento parecia ainda mais quieto do que de costume naquela tarde. Quando finalmente criei coragem para sair do quarto, já era tarde, e minha fome começava a fazer barulho dentro de mim. Eu imaginei que Álvaro não estaria em casa, ocupado com algo ligado à sua vida misteriosa e perigosa, mas ao dar alguns passos fora do meu quarto, notei a porta entreaberta do quarto dele. Meu coração bateu mais forte, e sem pensar muito, meus olhos espiaram por aquela fresta.

Lá estava ele, sentado à beira da cama, apenas de calção preto. O corpo branco, bem cuidado, com pelos no peitoral aparados de forma precisa, mas ainda assim com aquele ar de descuido calculado. Os cabelos pretos, levemente ondulados e bagunçados, como se ele tivesse acabado de levantar da cama. Seus ombros largos e o peito levemente musculoso davam a impressão de força e controle. Eu fiquei parada no mesmo lugar, meus olhos traindo minha vontade de não observar demais. E, antes que eu pudesse me recompor, a voz dele cortou o silêncio.

— Se quiser que eu tire o calção pra analisar meu pau também é só avisar — ele disse, com uma mistura de sarcasmo e malícia que me atingiu em cheio.

Senti o calor subir até o rosto, me pegando totalmente desprevenida.

— Desculpa, eu não queria... — comecei a justificar, mas estava tão envergonhada que nem sabia como continuar.

Ele riu, um riso que era mais suave do que eu esperava.

— Tô brincando com você, Agnes. — Sua voz relaxada contrastava com a intensidade da minha vergonha. — Vem aqui, entra...

Hesitei por um momento, mas depois de alguns segundos, entrei no quarto, meio sem jeito, tentando não encarar demais o homem à minha frente. O ambiente ao redor era tão organizado e minimalista quanto o resto do apartamento. Tudo no lugar, sem exageros, como se o espaço tivesse sido projetado para não distrair. As paredes brancas, o chão limpo e frio, e poucos móveis, todos com linhas retas e elegantes.

— Você é bem organizado pra um homem. — comentei, meio que para quebrar o silêncio desconfortável que pairava no ar.

Ele deu um sorriso de canto, aquele sorriso que parecia carregar um misto de segredos e exaustão.

— A Ingrid me ajuda a manter a ordem aqui — respondeu, enquanto eu sentava ao seu lado, os olhos dele fixos nos meus.

— Mas você não sente falta de ter uma casa com cara de casa? — questionei, ainda observando cada detalhe do quarto, que parecia mais um hotel do que um lar de verdade.

Álvaro soltou um suspiro leve, como se a minha pergunta tocasse num ponto delicado.

— A minha mente é uma bagunça. Se eu chegar no apartamento e ele tiver com cara de casa, eu enlouqueço de vez — disse ele, de um jeito direto, sem rodeios.

As palavras dele me deixaram pensativa. Eu nunca tinha imaginado alguém dizendo algo assim. A forma como ele falava da própria mente, da necessidade de controle no ambiente, parecia tão diferente do que eu estava acostumada.

— Então você nunca gostaria do meu apartamento. — Tentei manter o tom leve, mas a comparação entre nós era inevitável. — É um amontoado de coisas. Um caos organizado, sabe?

Álvaro sorriu de canto, como se estivesse antecipando minha resposta.

— É, eu sei... — disse ele, sua voz carregada de uma confiança estranha.

Franzi o cenho, intrigada com aquela afirmação. Eu sabia que ele era esperto, mas como ele poderia saber algo sobre o meu apartamento?

— Sabe? — perguntei, meio desconfiada, tentando entender o que ele queria dizer.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora