Capítulo 26

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AGNES

Acordei e a cama estava vazia ao meu lado. Por um momento, senti um calafrio de medo. Mas logo percebi que estava segura, no hotel com Álvaro, e não sozinha no meu apartamento. Respirei fundo, tentando afastar o desconforto que persistia desde os acontecimentos da noite anterior. Me levantei devagar, sentindo o tecido suave do pijama roçar minha pele, e fui até a bolsa que tinha levado, pegando algumas coisas que eu precisaria para me arrumar.

Fui direto para o banheiro e, ao abrir a porta, me deparei com a banheira ampla, de porcelana branca reluzente, convidativa. Resolvi encher a banheira antes de fazer qualquer outra coisa, e girei as torneiras, observando a água quente começar a preencher o espaço, soltando uma fumaça suave que pairava no ar. Enquanto isso, lavei o rosto, sentindo a água fria contra a pele, tentando despertar meu corpo ainda meio entorpecido. Escovei os dentes e penteei meu cabelo, que estava todo bagunçado. Prendi os fios loiros e longos em um coque improvisado, para que não atrapalhassem.

Antes de entrar na banheira, decidi tomar um banho rápido no chuveiro. Queria tirar a sensação de sujeira e cansaço que ainda estava presa na minha pele. Entrei no box e deixei a água quente cair sobre mim, lavando tudo que aconteceu nas últimas horas, pelo menos por alguns instantes. Me ensaboei e enxaguei rapidamente, desligando o chuveiro em seguida. Voltei minha atenção para a banheira, que já estava cheia.

Coloquei um pouco de sais de banho que estavam ao lado, deixando o aroma suave e relaxante se misturar com o vapor quente que enchia o ambiente. Entrei devagar, sentindo a água quente envolver meu corpo, e me acomodei, deixando a cabeça descansar na borda. Fechei os olhos por um momento, tentando aproveitar aquele pequeno luxo, tentando me desligar de todo o medo e da confusão que vinha sentindo ultimamente.

Estava completamente perdida em pensamentos quando ouvi um barulho na porta. Arregalei os olhos, o coração disparando de imediato.

— Álvaro? É você? — chamei, minha voz soando um pouco hesitante.

— O próprio, teu futuro marido — respondeu ele, com uma mistura de brincadeira e seriedade que me fez sorrir.

Não pude evitar rir. Um riso leve, quase um alívio. Sem pensar muito, chamei ele para entrar no banheiro. Talvez fosse carência, talvez fosse a necessidade de sentir que alguém estava ali comigo, mas naquele momento, parecia a coisa certa a fazer.

Álvaro entrou, a expressão dele tranquila, mas com aquele olhar atento, que parecia captar cada movimento meu. Ele vestia uma camisa social meio aberta, mostrando parte do peito, e uma calça escura que destacava suas pernas fortes. Ele estava segurando um copo de café em uma das mãos, e eu senti meu corpo relaxar ao vê-lo ali, tão próximo, tão... seguro.

— Dormiu bem, Agnes? — perguntou ele, a voz baixa e rouca, ainda carregada do sono.

— Graças a você — respondi, um sorriso tímido nos lábios.

Ele riu, um riso meio sem jeito, quase como se estivesse tentando entender o impacto que tinha sobre mim.

— Conversei com uns amigos da polícia e eles vão no seu apartamento fazer uma perícia — começou a explicar, o tom mais sério agora. — Vão falar com seus vizinhos, e eu já consegui que um juiz emitisse um mandado para darem acesso às câmeras do condomínio... Nós vamos encontrar esse doente.

Senti um alívio imenso ao ouvir aquilo. Era como se, finalmente, alguém estivesse fazendo algo para resolver a situação. O que tinha acontecido comigo nas últimas semanas tinha me feito sentir completamente impotente, e agora, ouvir aquelas palavras me dava esperança.

— Não sei como te agradecer, Álvaro — murmurei, olhando para ele com gratidão.

— Eu amo receber boquetes — ele brincou, soltando a frase com uma naturalidade que me fez corar na hora.

— Álvaro! — Eu ri de nervoso, desviando o olhar, sentindo o calor subir pelo meu rosto.

Ele sempre tinha um jeito de me deixar sem graça, mas, ao mesmo tempo, era impossível não se divertir com ele. Seus olhos brilharam, e percebi que ele gostava de me ver assim, um pouco fora de controle.

O silêncio se instalou por um momento, e nossos olhares se cruzaram. Havia algo intenso, algo que queimava por baixo de tudo o que estávamos vivendo. Parte de mim queria puxá-lo para mais perto, queria que ele entrasse na banheira comigo e me fizesse esquecer de tudo. Mas me contive, sentindo a água quente em volta do meu corpo e tentando focar nisso para não ceder ao impulso.

— Vou pedir café pra você — ele disse de repente, quebrando a tensão que tinha se formado.

Antes que eu pudesse responder, ele saiu do banheiro, deixando a porta entreaberta.

Eu fiquei mais um tempo na banheira, tentando acalmar meus pensamentos. A sensação de estar segura era algo que eu não queria deixar escapar, e saber que Álvaro estava cuidando das coisas me dava um tipo de conforto que eu não esperava encontrar nele. Quando finalmente saí, me enxuguei com a toalha macia que estava pendurada, coloquei um vestido leve e confortável, e saí do banheiro.

Quando voltei para o quarto, vi que ele tinha deixado uma bandeja de café da manhã em uma pequena mesa perto da janela. Tinha suco de laranja, café, frutas e algumas torradas. Ele pensava em tudo, e isso me tocava de uma forma que eu ainda não sabia explicar. Sentei para comer, apreciando a calma do momento. Enquanto tomava um gole de café, vi Álvaro do outro lado do quarto, sentado em frente a uma mesa pequena, com o notebook aberto. Ele parecia concentrado, os dedos deslizando pelo teclado, os olhos fixos na tela.

Assim que terminei de comer, ele chamou minha atenção.

— Agnes, vem aqui um minuto — pediu ele, sem tirar os olhos do notebook.

Me levantei e fui até ele, o coração batendo um pouco mais rápido. Álvaro puxou uma cadeira para eu me sentar, mas, em vez disso, eu acabei sentando em sua coxa. Ele não reclamou, apenas passou a mão pela minha cintura, me puxando para mais perto. O toque dele era firme, mas suave, e eu podia sentir o calor do seu corpo contra o meu.

— Dá uma olhada nisso — ele disse, apontando para a tela. Era um vídeo das câmeras do condomínio, mostrando as imagens da noite anterior. — Quero que veja se reconhece alguém.

Eu me inclinei um pouco para frente, tentando focar no vídeo, mas o toque da mão dele na minha cintura, o calor da respiração dele tão próximo, estavam me distraindo. O vídeo mostrava o hall do prédio, corredores, áreas comuns... Pessoas entrando e saindo, mas nada que me chamasse a atenção.

— Não tô vendo nada de estranho... — murmurei, ainda tentando prestar atenção, mas sentindo meus sentidos todos tomados por ele.

— Continua olhando, Agnes — ele sussurrou, e sua voz baixa, próxima ao meu ouvido, me fez arrepiar.

Continuei olhando, mas parte de mim queria virar e beijá-lo, sentir o que aquela proximidade realmente significava. Não sabia se ele estava brincando comigo, ou se estava apenas tentando me manter calma, mas, por um momento, toda a tensão que tinha sentido na última noite pareceu se dissipar um pouco, e eu me permiti relaxar nos braços dele.

— Acha que ele pode aparecer nas câmeras? — perguntei, voltando meu olhar para ele.

— Se for idiota o suficiente para deixar alguma pista, sim. — Álvaro respondeu, o tom firme, mas um sorriso de canto surgindo nos lábios. — E se aparecer, eu vou encontrar esse filho da puta, nem que seja a última coisa que eu faça.

Senti um arrepio passar por mim. Havia algo de perigoso na promessa que ele fez, algo que me fazia querer confiar nele mais do que eu deveria. Me deixei afundar um pouco mais em sua coxa, os olhos ainda focados no vídeo, mas o coração já batendo em outro ritmo.

NA MIRA DE UM STALKEROnde histórias criam vida. Descubra agora